Duas hashtags movimentaram o Twitter na semana que passou e o motivo foi basicamente o mesmo. Na segunda-feira (16), durante participação no Programa “Roda Viva”, da TV Cultura, o ex-presidente da República Michel Temer (MDB) se referiu ao processo de impeachment que afastou Dilma Rousseff (PT) do cargo, em 2016, como “golpe”.

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Mais cedo, a jornalista Maria Beltrão, da GloboNews, se atrapalhou enquanto chamava a repórter que cobria a saída do presidente da República Jair Bolsonaro do hospital e trocou o sobrenome do mesmo, chamando-o de Bozonaro. Em seu twitter ela explicou que a troca ocorreu devido à pressa em chamar a repórter.

Rapidamente os dois assuntos foram levados aos Trending Topics e em meio aos comentários contra e a favor, muitas pessoas se referiram aos episódios como “ato falho”. Embora o termo seja largamente usado, nem todos têm consciência do que realmente ele possa significar.

Josiane Santos, psicóloga e psicanalista do Instituto Lalangue, explica que segundo a definição de Sigmund Freud, criador do conceito, “ato falho é uma manifestação de um desejo inconsciente, uma forma de expressar o que não pode ser expressado.” Entretanto, definir algo como ato falho somente pode ser feito durante uma sessão de análise.

“Não podemos, fora do contexto da transferência, que é a relação entre analista e analisante, ou paciente, afirmar o que a pessoa quis dizer. Isso vai fazer associação com outros relatos, com outras questões que o paciente vem trazendo. Isso só em análise. Não é o caso, estamos vendo esses fatos fora de um contexto de análise, então vamos considerar como hipótese. Pode ter sido apenas um equívoco, sem esse sentido psicanalítico. Mas é claro que é mais interessante para as pessoas estarem se apoiando no ato falho”, destaca a psicóloga.

Seres humanos que somos, ninguém está livre de dizer aquilo que não queria, pelo menos não de forma consciente. E não há como prever que um ato falho irá acontecer, nem algo que o favoreça, como a força do hábito em fazer algo ou o cansaço de um dia de trabalho, ou ainda o fato de duas pessoas serem muito parecidas.

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Quem nunca viu um apresentador chamar o programa depois do seu pelo nome daquele da antiga emissora? Para Santos, tanto pode ser o resultado de um dia cheio de trabalho ou saudades da antiga emissora, mas, novamente, só em terapia seria possível fazer a análise. “Qualquer ‘interpretação’ que faça fora da relação transferencial, é psicanálise selvagem. É o mesmo que falar que sonhar com cobra é dizer que está pensando em pênis. São especulações. Pode ser um hábito ou pode ter a ver com desejos inconscientes. Por isso, preferiria chamar isso de lapso. Popularmente, o que se chama de ato falho, é um lapso. Para saber se foi um ato falho no conceito freudiano, só em análise.”

O ato falho pode se manisfestar de três formas, segundo Freud: por meio de erro de linguagem, seja escrita ou falada; por um erro de memória ou ainda um erro de comportamento. "Na linguagem seria falar ou escrever uma palavra ou um nome trocado. O erro de memória é quando, por exemplo, um estudante não quer cursar medicina, mas não tem coragem de dizer isso aos pais. Então ele se esquece da data para a inscrição do vestibular, ou a data da prova. E o erro de comportamento pode ser exemplificado como trocar o número de telefone e ligar para uma pessoa diferente", explica Santos.

Lapsos para todos os gostos

Intencionais ou apenas um reflexo do cansaço, muitas pessoas já se equivocaram em público:

- Durante a apresentação da previsão do tempo, a jornalista Eliana Marques afirmou que Brasília teria a máxima de R$ 26, ao invés de 26 graus.

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. | Foto: Globo/Divulgação

- Enquanto cozinhava com Edu Guedes, Palmirinha Onofre se confundiu com o nome do macarrão: ao invés de "penne", disse "pênis".

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. | Foto: Globo/Paulo Belote

- O apresentador Márcio Garcia já disse "Domingo Espetacular" ao invés do "Esporte Espetacular", trocando as atrações da antiga com a atual emissora.

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. | Foto: Globo/Estevam Avellar

- Willian Bonner e Sandra Annenberg já chamaram o ex-presidente Michel Temer de ex-presidente, quando ele ainda exercia o mandato.

- Carlos Tramontina informou a hora como "seis e ônibus" durante seu programa na manhã, confundindo o horário com a matéria que viria a seguir.