Imagem ilustrativa da imagem Pessoas que não se acham 'à altura' podem sofrer de síndrome do impostor
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A psicóloga especialista em neurociência Amanda Ongaratto diz que a palavra do "impostor" seria: validação. São indivíduos que buscam pela validação própria e externa a todo tempo, mas se sentem constantemente invalidados, independente do seu esforço e das pessoas ao seu redor reconhecerem seu trabalho. Por isso, os "impostores" nunca acreditam que merecem seu trabalho, que uma vitória é somente por sorte e podem levar até para o lado social, de não se acharem dignos do apoio daqueles ao seu redor. A OMS (Organização Mundial da Saúde) ainda não enquadra o fenômeno como um transtorno psicológico, contudo é algo estudado desde 1978 e cada vez mais. Em uma pesquisa feita pela Universidade Dominicana da Califórnia, 70% das pessoas afirmaram se sentir uma fraude no ambiente de trabalho.

O medo e o cansaço são constantes na vida de alguém que sofre da síndrome. Ongaratto esclarece que o cansaço é por precisar fazer tudo com muita antecedência ou procrastinar e ter que entregar em um prazo muito menor do que tinha inicialmente. E o medo constante de ser pega como impostora. “Esse medo do futuro gera uma ansiedade extrema, que também resulta em um cansaço mental e físico”, explica a psicóloga.

Jovens impostores

“Hoje os jovens têm acesso a diversos contextos, então ele vê a realidade de um amigo, de um influenciador, de um youtuber”, argumenta Ongaratto para explicar porque a síndrome é percebida em pessoas cada vez mais novas e que ainda não estão no mercado de trabalho. A psicóloga especialista em neurociência afirma que já se vê ‘impostores’ na fase jovem quando começam a pensar em fazer vestibular. O excesso de informações e conteúdo atrelados às cobranças próprias e exteriores são os principais fatores para isso estar acontecendo, elucida.

Sem tomar cuidado e as medidas de tratamento corretas esses jovens podem ter desde cedo ansiedade em graus altos, depressão, baixa autoestima e impossibilitar que vivam várias coisas. Ongaratto aconselha que desde o início seja procurada ajuda psicológica e, dependendo do caso, psiquiátrica. Ela também explica que esta síndrome começa de um jeito e vai tomando proporções maiores, por isso estar atenta aos pensamentos é sempre importante. Já que a autoavaliação não é negativa e é comum.

A pesquisadora Basima Tewfik, professora assistente de Estudos de Trabalho e Organização no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos Estados Unidos, afirma que existe um lado bom desta síndrome, quando, no início, os ‘impostores’ se tornam muito bons no que fazem e tentam sempre se superar. Isso pode os tornar melhores do que seus colegas. Mas conforme vai progredindo o fenômeno vai se transformando em prejudicial.

Assim como os jovens, outras pessoas podem ser influenciadas pelo ambiente social que estão, de acordo com Ongaratto. Pessoas no mercado de trabalho e mulheres estão mais suscetíveis a desenvolver a síndrome do impostor. Isso porque socialmente a figura feminina é quem precisa cuidar da casa, dos filhos, trabalhar e manter a estabilidade. Indivíduos que foram constantemente invalidados durante a infância e adolescência, seja pelos pais, professores ou outros, tendem a sofrer do fenômeno. Esse foi o caso da ex-primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, que em 2019 fez um discurso sobre o tema em uma visita ao Reino Unido no programa Pinguin Talks.

"Hoje em dia, crianças mais jovens chamam isso de Síndrome de Impostor. Sentem que não cabem ali, não pertencem. Eu tive de trabalhar duro para superar aquela pergunta que (ainda) faço a mim mesma: 'eu sou boa o suficiente?'. É uma pergunta que me persegue por grande parte da minha vida. Estou à altura disso tudo? Estou à altura de ser a primeira-dama dos Estados Unidos?", disse ela mesmo sendo umas das mulheres negras mais influentes atualmente.

Outras celebridades como a atriz Natalie Portman, a advogada e apresentadora Gabriela Prioli e a cantora Jenifer Lopes já afirmaram publicamente de terem sofrido com a síndrome do impostor.

* Com a supervisão de Adriana De Cunto, Chefe de Redação

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