PENSAR MAIS
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sábado, 17 de fevereiro de 2018
Para os católicos de todo o mundo está para se iniciar um tempo muito especial; uma intensa preparação para a maior festa da cristandade, aquela que dá sentido a toda a vida litúrgica: a Páscoa. E para isso utilizam as práticas do jejum e da abstinência que são extremamente eficazes na preparação rumo ao encontro com o Ressuscitado, segundo afirma a fé cristã.
O jejum e a abstinência são práticas antiquíssimas no seio da vida cristã, anteriores ao próprio cristianismo. Jejuava-se com o desejo de preparar o espírito para a Páscoa. Jejuava-se por acreditar que desse modo a união com o "Servo Sofredor" seria mais intensa e falaria mais ao próprio coração do fiel. Neste sentido, o jejum cristão não deve ter uma conotação de tristeza. O próprio Senhor repreende os que jejuavam e ficavam com o rosto triste para serem vistos pelos homens e serem elogiados. A prática do jejum cristão deve ser realizada com a discrição e a alegria próprias de quem encontrou um grande tesouro e por Ele é capaz de fazer tudo, até mesmo sacrificar os hábitos alimentares, os desejos do corpo.
Já a abstinência da carne tem um histórico muito interessante e, segundo as orientações da Igreja, deve ser feita todas as sextas-feiras do ano, exceto nas solenidades (as festas mais importantes do calendário cristão). Na Antiguidade, a carne possuía uma forte associação com o prazer. Aos tipos biliosos (inclinados à cólera) de pessoas. Ao lado mais animalesco do homem que aprendia da fé cristã, a transcender o próprio corpo e a humanidade, aproximando-se assim de Deus, Espírito Puríssimo. Todas estas práticas penitenciais tomam corpo na Idade Média e com a ajuda da sóbria e ascética vida monástica.
Assim, como opção ao "animalesco" ato de comer carne, vai surgindo por fatores históricos não muito precisos a tradição de se comer peixe. O peixe é, antes de tudo, um símbolo cristão. A palavra peixe em grego, evoca o nome sagrado e salvador de Jesus para os cristãos. Veja-se: Iesus Christos Theou Yios Soter (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador), as iniciais formam a palavra ICHTHYS (lê-se ictis, em zoologia, o ramo que estuda os peixes, chama-se ictiologia), peixe em grego. O peixe, antes de se tornar um alimento salutar para substituir a carne, era um sinal para os cristãos, uma senha secreta, como se observa nas catacumbas antigas de Roma. O sinal indicava que aquele fiel seguia Jesus Cristo e o adorava como Filho de Deus.
Além disso, na Idade Média, dada a sua natureza fria e úmida, o peixe era simbolicamente usado como alimento que acalmava o lado animalesco que se alimentava dos prazeres advindos da carne. Era o alimento ideal para combater os ebulientes espíritos. Era, portanto, o alimento que mais combinava com o espírito de penitência e de frugalidade, que as sextas-feiras e a Quaresma exigiam.
Desse modo, o instinto voraz de comer carne, em tempos antigos e ainda hoje, é de algum modo abrandado.
É interessante recordar que o homem passa a comer carne depois da queda, isto é, do pecado original. No paraíso, ele não comia carne. Tudo isso é evocado no tempo da Quaresma. Por isso a Igreja pede aos seus filhos que evitem a carne em todas as sextas-feiras do ano e especialmente no longo tempo quaresmal.
Padre Bruno Athila, SAC reitor do Seminário São Vicente Palotti