Pão Caseiro: a receita mais requisitada de 2020
Como o caseirinho ganhou mais popularidade e figurou entre os assuntos mais buscados ao longo do ano da pandemia
PUBLICAÇÃO
domingo, 20 de dezembro de 2020
Como o caseirinho ganhou mais popularidade e figurou entre os assuntos mais buscados ao longo do ano da pandemia
Bruno Codogno
Já pensou em quanta água o corpo humano perde por dia através da respiração? São, em média, 500 ml. Ou pensou em quanto trabalho levaria distribuir igualmente farinha de trigo em 13 xícaras idênticas? E o que será que aconteceria se fundíssemos células eucariontes gigantes de galinha, uma megalópole de 22 gramas de fungos, duas colheres de sopa de cantada ruim amanteigada, duas colheres de doces cristais brancos e uma colher de cloreto de sódio (confundido por crianças com os cristais de antes)? Isso tudo, água, farinha de trigo, ovo, fermento biológico, manteiga ou margarina, açúcar e sal é o suficiente para fazer o Pão Caseiro.
Sem contar toda a relação metafísica entre um pão feito em casa e quem vai comê-lo, já dá para perceber que esse alimento não se resume a apenas um aperitivo: datado pela historiografia como um produto de mais de 6 mil anos (conforme o escritor e historiador alemão Heinrich Eduard Jacob), o pão é místico, complexo e cultivado desde a antiga Mesopotâmia, sobreviveu culturalmente a diversas pandemias e foi responsável pela nutrição de diversos povos ao longo da história da humanidade.
Por que em 2020 seria diferente? O pão caseiro é também sinônimo de memória, de afeto e representa para muita gente um elemento central das casas de pais e avós. É a presença do ausente em tempos em que o encontro e o abraço não podem acontecer. É também alimento abençoado, de um sincretismo positivo, protetor dos nossos corpos e daqueles de quem amamos. É, sobretudo, a receita do ano.
A RECEITA MAIS REQUISITADA
Conforme a evolução da pandemia no Brasil, a partir de março, parte significativa dos brasileiros se viu isolada do mundo em casa, ainda incerta de como lidar com o cotidiano e o planejamento diário de vida e trabalho. Foi por ocasião do tempo maior dentro do próprio lar e da necessidade de comer que muita gente se entregou à culinária em busca de segurança alimentar, desenvolvimento de novas habilidades ou até mesmo puro entretenimento. A cozinha virou laboratório e o pão, o experimento inicial.
Por que justamente o pão? Talvez pela questão afetiva citada anteriormente. Por ele integrar uma série de alimentos classificados como “comida afetiva” (ou Confort Food), daqueles que despertam nostalgia e boas lembranças em detrimento ao estresse e outros desgastes psicológicos causados pela pandemia. Para André Luiz, de 43 anos, foi por isso e ainda por outra ocasião: ele tinha todos os ingredientes em casa. “Foi a primeira vez que fiz pão em casa e a partir dele quis experimentar mais vezes.” Todo esse cenário resultou em uma onda de buscas no Google pela sentença “como fazer pão”.
Conforme dados do próprio sistema Google Trends, que monitora os assuntos mais buscados em diversos intervalos de tempo, o caseirinho foi a receita mais procurada em 2020, com pico de buscas entre os dias 22 a 28 de março. Até o mês de julho, a receita havia sido requisitada 72% de vezes a mais na plataforma em comparação ao mesmo período do ano passado.
“Além da primeira vez que busquei a receita, precisei buscar de novo porque o segundo e o terceiro que fiz não deram certo. Depois procurei por novas receitas para tentar melhorar o pão”, garante a participação na estatística André Luiz. Até encontrar o pão considerado ideal, ele repetiu a busca outras vezes ao longo do ano e experimentou formas diferentes de fazer. “Com a tarde livre, o tédio e por não querer ficar parado, o pão foi uma boa saída. E quando a minha família passou a gostar do pão que eu estava fazendo, criei uma prática semanal disso.”
Já Camila Maressa Dias, de 26 anos, faz pães caseiros há seis anos de forma esporádica e chegou a fazer novos durante a pandemia. Ela aprendeu sozinha para manter uma alimentação saudável e integral, embora reconheça que na família o pão também marque presença. “O pão caseiro, principalmente com manteiga e quentinho tem cheiro de lar, além de trazer boas recordações da família reunida à mesa. O ato de cozinhar em si é muito afetivo.”
Mesmo com a prática de diversas receitas diferentes, dentre pães integrais e sem glúten, Camila Maressa também busca por novas formas e tipos de pães caseiros na internet. Ela recomenda para as pessoas que quiserem fazer pão pela primeira vez que apesar da simplicidade da receita, ela requer algumas atenções. “Detalhes como o clima do dia, qualidade dos ingredientes, forno, impactam no resultado final da receita. É importante se atentar aos detalhes para obter uma fornada saborosa de pães.”
O PÃO COMO COMPLEMENTO DA RENDA
Além daqueles que resolveram se aventurar no pão caseiro por diversão, a receita também veio a calhar como uma mãozinha durante tempos de crise econômica internacional. É o caso de Rosalia Almeida, de 48 anos, que é apaixonada por massas e encontrou em um ensinamento familiar um complemento para a renda. “No começo deste ano, eu senti a necessidade de fazer alguma coisa. Como já trabalho em uma empresa, queria um complemento de renda mesmo. Queria fazer algo que não tivesse perda, tipo fazer marmitex congelada, já que a vida de todos é tão corrida”.
Assim como citado anteriormente, a relação dela com pães caseiros também remete a uma origem de afeto: “aprender a fazer pães vem lá de trás com minha avó e minha mãe, depois fui adquirindo conhecimento na área, em algumas empresas que trabalhei, e também muitas pesquisas na internet”. Assim como quem busca fazer seu primeiro pão, a internet serviu também para aqueles que buscam aprimorar a receita.
Antes da pandemia, no início do ano, Rosalia começou a vender poucos pães para cobrir os custos de inscrições de corridas de rua e equipamentos adequados para o esporte. No entanto, com o início da quarentena, ela precisou, inclusive, fazer outras melhorias além da receita para atender ao crescimento na demanda por seus pães. “Devido à pandemia, a demanda aumentou muito, tive que comprar freezer, mudar da casa pela falta de espaço, porém continuei trabalhando fora e fazendo os pães à noite”. Ainda, quando Rosalia está fazendo pães, ela encontra também uma forma de preservar a saúde mental e, inclusive, esquecer por alguns instantes de todo o estresse da pandemia.
PRIMEIRO PÃO
O “Pão caseirinho de Vovó” também figurou entre as matérias mais acessadas de 2020, na sessão de gastronomia do Portal Bonde. Mesmo que um pouco distante dos primeiros lugares que foram: os famosos Bolo de Fubá Fácil e o Suco para aumentar a imunidade, a receita, simples e fácil de fazer, conquistou internautas de todo o Brasil. Nós do Folha Mais, que adoramos um desafio, convidamos você a se aventurar com a gente a fazer o primeiro pão. Talvez não o seu primeiro pão, mas o nosso juntos! E o combinado é você postar nas redes sociais a foto do seu pãozinho caseiro e marcar o perfil da FOLHA (@folhadelondrina) para a gente ver e compartilhar! Prometemos que vamos postar o nosso também.
Segue o link “Pão Caseiro de Vovó” no link https://www.bonde.com.br/gastronomia/receitas/receita-de-pao-caseiro-de-vovo-480700.html
*Supervisão de Patrícia Maria Alves (editora)