Outubro em tinta – movimentos artísticos têm autoria?
PUBLICAÇÃO
sábado, 10 de outubro de 2020
Lara Bridi (estagiária)* supervisão de Patrícia Maria Alves
O tão aguardado #Inktober instabilizou a comunidade artística esse ano devido a uma denúncia de plágio, deixando internautas incertos sobre sua décima segunda edição. O Inktober é um movimento que ocorre desde 2009 nas redes sociais de artistas, ilustradores, pintores e designers. Seu fundador, o americano Jake Parker, criou a hashtag como uma espécie de desafio, em que ele e outros criadores de conteúdo deveriam postar um de seus trabalhos por dia durante todo o mês de outubro, a fim de divulgar suas obras, incentivar outros artistas e treinar o uso da tinta nanquim. Daí o estranho nome: Ink, tinta em inglês; e -tober, o final da palavra October, ou outubro, na língua inglesa; ou seja, outubro de tinta.
Porém, o que antes era uma brincadeira entre amigos, hoje se tornou uma campanha virtual mundial que mobiliza milhares de artistas por ano utilizando a tag criada por Jake. O que ninguém esperava é que o criador original de algo tão diverso poderia estar sendo acusado justamente por falta de criatividade, revelando que se traço pode ser um pouco mais sujo do que parece.
O artista jamaicano Alphonso Dunn publicou em seu canal do YouTube, no dia 26 de agosto de 2020, um vídeo em que acusava Parker de plágio a seu livro. Com menos da metade dos seguidores de Jake no instagram, Alphonso já teve seu vídeo tocado mais de 400 mil vezes desde sua postagem. Nele, o artista compara três livros: “Inktober All Year Long”, de Parker, e os dois livros da série “Pen & Ink Drawing”, de sua própria autoria. Na época, a publicação do livro do americano ainda estava marcada para o mês seguinte e Dunn analisou imagens de páginas soltas do livro disponíveis na internet. O fato intrigante apontado pelo jamaicano é a vasta quantidade de semelhanças entre as três obras no que se refere às técnicas pedagógicas, termos, estrutura do livro e até mesmo ilustrações. Foram tantos elementos parecidos que Alphonso chegou à conclusão de que Parker o estaria plagiando.
Jake Parker ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso, mas a estreia de seu livro foi suspensa pela editora até segunda ordem.
Não é a primeira vez que Parker se envolve na justiça em questões referentes a direitos autorais. Em 2019, o artista registrou “Inktober” como uma marca, impedindo que se usasse a palavra fora das redes sociais – o que ocorria anteriormente com frequência com a publicação de livros ilustrados inspirados no movimento. O fato causou insatisfação na comunidade artística, que enxergava a tag como um termo comunitário, e não pessoal de Parker.
Toda essa tinta respingou para muitos lados e mais uma vez os artistas se dividem quanto ao posicionamento perante a Jake. Há quem acredite que as semelhanças apontadas por Dunn não passam de coincidências; há aqueles que enxergam o caso como cópia, mas desvinculam a imagem do americano ao movimento Inktober, já tão difundido na internet; há ainda pessoas que acreditam nas alegações de Alphonso e condenam o uso da hashtag, por destacar a imagem de seu portador de direitos. Este último grupo tem tentado encontrar nomes alternativos para um novo movimento que siga a tradição de outubro, mas que não dê margem para a promoção do acusado de plágio.
O caso ainda deve ser resolvido judicialmente entre os dois artistas, encerrando a questão de quem assina o traço dessa obra.
Agora, já passada a primeira semana de outubro, o que se pode ver são muitos artistas que aderiram as novas tags, como a popular #drawtober. Além de outra grande parcela de internautas que não se desfez do movimento pelo qual construíram apego durante os anos e aderiram à outras tags como a #magictober, cujas ilustrações assinadas pela designer Patrícia Sagae (@patisagae.ilustra) embeleza essa página.