Tayná, 4, e Mariah Mendes Bearare, 9, do canal Irmãs Para Meninas, no YouTube: proposta nasceu para apoiar campanha solidária
Tayná, 4, e Mariah Mendes Bearare, 9, do canal Irmãs Para Meninas, no YouTube: proposta nasceu para apoiar campanha solidária | Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação



Como toda criança da nova geração, as irmãs Mariah Mendes Bearare, 9, e Tayná Mendes Bearare, 4, de Birigui, no interior de São Paulo, também adoram gravar vídeos com o celular e o tablet. A mãe, a jornalista Patrícia Mendes Bearare conta que, a pedido das meninas, eventualmente publicava alguns desses vídeos em seu perfil no Facebook, a qual só os amigos têm acesso. E foi através da rede social que um grupo de voluntários ficou sabendo das meninas e solicitou ajuda da família para a Campanha do Leite 2017, em prol do Hospital do Câncer de Jaú.

"No primeiro momento minha intenção (em publicar os vídeos) foi dar asas à imaginação e criatividade delas com essa ferramenta. Depois o Grupo Solidário Jerônimo Mendonça me pediu para que as meninas gravassem um vídeo solicitando as doações. Sou favorável e uma grande incentivadora para que minhas filhas sejam humildes, sensíveis, solidárias e proativas pela dor e sofrimento alheio, por isso, autorizei. Criei o Canal Irmãs Para Meninas no YouTube e foi a partir daí que passamos a postar lá alguns dos vídeos feitos por elas", conta.

Com a colaboração das irmãs foram arrecadados 20.570 litros de leite. A mãe conta que depois dos aniversários de Mariah e Tayná, em agosto, elas começaram a investir mais nos vídeos. "Elas são muito criativas. Mariah é muito descolada, comunicativa, ama tudo que envolve arte. A Tayná vai no embalo da irmã mais velha e participa com entusiasmo. A minha grande finalidade com o canal foi e é incentivar a criatividade, a imaginação e o lúdico em ser criança. Desejo que elas se divirtam e divirtam outras pessoas. Temos planos de direcionar o canal para brincadeiras antigas. Usar o YouTube, uma ferramenta tecnológica, para resgatar o passado. Temos vídeos delas escorregando com papelão, brincando com massa de modelar, cantando, contando histórias. Não quero que ganhem dinheiro com isso, quero divulgar a criatividade delas e valorizar a infância", destaca.

Bearare diz que fica feliz que as filhas tenham habilidade em se comunicar, mas também se preocupa com a privacidade das meninas. Todos os vídeos são inseridos e supervisionados por ela, que também verifica quem são os inscritos no canal e só deixa as crianças utilizarem o bate-papo ao seu lado.

"As imagens delas expostas são meio que inevitáveis no mundo tecnológico. Em algum momento sua filha aparece no site do colégio, no Instagram de uma amiga etc. Acho que o mais importante é dialogar com a criança, explicar os perigos, controlar o acesso, orientar para avisarem os pais caso aconteça algo estranho, filtrar e fiscalizar o conteúdo. Tomando todos os cuidados, preservando informações pessoais, evitando divulgar localização, acho positivo apoiar e incentivar, desde que isso traga algum benefício para seus filhos e para quem assiste", aponta.

'Número de likes é um apoio egoico'
O psicólogo e mestre em Educação Fernando Zanluchi explica que a internet é uma ferramenta e como tal não é necessariamente boa ou ruim, isso vai variar segundo o uso que se fizer dela. Entretanto, ele alerta que da mesma maneira que nenhum pai daria a chave do carro para um filho de 8 ou 10 anos, também não se deve deixar as crianças sozinhas na rede. "A internet exige maturidade e há coisas que mais prejudicam do que fazem bem. Há conteúdo que chocaria um adulto, imagine uma criança ou adolescente."

De acordo com ele, o cérebro se modifica até os 12 anos de idade e esse amadurecimento depende muito do ambiente. A criança que é exposta desde cedo aos aparelhos eletrônicos pode se acostumar a esse tipo de imagem, fugaz e rápida, e depois, ao ir para a escola, em que precisará permanecer sentada e prestando atenção por longos períodos no professor, pode conseguir não se concentrar, se manter calma e interessada em algo com estimulação menos intensa. Zanluchi alerta, inclusive, que muitas crianças diagnosticadas como possuidoras de TDHA (Transtorno do Déficit de Aprendizagem/Hiperatividade) na verdade apresentam sinais de exposição excessiva aos aparelhos.

O especialista explica também que muitas pessoas carecem de exposição na internet para visibilidade e aprovação externa. "Antes nós íamos na praia e fazíamos fotos da praia. Depois passamos a ir e fazer fotos nossas na praia. Agora a gente vai, fotografa, posta e fica esperando as curtidas. Se isso não acontece, já queremos ir embora. A felicidade depende da aprovação do outro. Essa geração entra nas mídias sociais e o número de 'likes' é um apoio egoico, as pessoas ficam reféns dos 'likes'", diz.

À medida que as pessoas dependem dessa aprovação externa e são consideradas mais legais conforme o número de seguidores que têm, se tornam reféns disso. "Para ter seguidores eu vou ter que fazer o que eles querem ver e não o que eu quero ser. É o que chamamos de falso selfie, a pessoa se adapta para agradar ao outro", destaca Zanluchi.

Ele ressalta que os pais podem permitir algumas coisas, desde que estejam presentes, assistindo junto e ensinando os filhos a desenvolverem a visão crítica e o que fazer com a informação recebida. (E.G)