No dia 31 de outubro, véspera do Dia de Todos os Santos, existe o Halloween que tem o objetivo de lembrar os mortos, incluindo santos (hallows), mártires e todos os fiéis falecidos, mas também é o Dia do Saci. O Halloween teria surgido em com um antigo festival celta da colheita, o Samhain, e que foi cristianizado pela Igreja primitiva. Entre as atividades de Halloween mais comuns, especialmente nos EUA hoje em dia, estão as festas e fantasia, a brincadeira do "doce ou travessura", decorar a casa, fazer lanternas de abóbora, fogueiras, jogos de adivinhação, ir em atrações "assombradas", contar histórias assustadoras e assistir filmes de terror. É uma data equivalente ao “Dia das Crianças” no Brasil.

Imagem ilustrativa da imagem O impasse entre celebrar o Halloween ou o Dia do Saci

A diretora de uma escola de idiomas em Londrina, Márcia Clivati Cauduro, realiza uma festa de Halloween anualmente, no entanto este ano, devido à pandemia, ela será feita por meio de drive thru para evitar a disseminação da doença. “O Halloween, na essência, era uma festa para dividir e para cuidar um do outro. Era muito espiritual no sentido de reflexão, de forças da natureza e isso foi associado à bruxaria, mas para mim isso reflete a falta de conhecimento que as pessoas têm sobre o assunto. Naquela época se falava em tomar sol para se curar e hoje todo mundo está tomando banho de sol para ter mais vitamina D. A festa tinha mais relação sobre como pode aproveitar a energia que o mundo te traz”, destacou. “Houve pessoas que se aproveitaram negativamente para fazer algazarra fantasiadas, mas a forma correta do Halloween nunca foi essa. Deveria voltar um pouco no tempo e não misturar as coisas”, apontou.

“Tem pai hoje que não deixa a criança participar e fala que a festa não é de Deus. O Halloween vem de antes do cristianismo. Na época em que foi criado pelos povos celtas estava associado ao ciclo de vida, à colheita e à medicina natural. O que eles gostavam eram das forças da natureza. Estudavam a astronomia”, explicou. Segundo ela, o “trick or treat” (doce ou travessura- em que as crianças vão às casas pedir doces) era uma outra história. “Faziam isso na brincadeira e os adultos ofereciam a colheita. É legal a história vista dessa maneira”, destacou.

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“O mais importante é o sentimento ser revisto neste momento para ter uma vivência melhor com as pessoas. O fato de as pessoas adorarem se vestir de super-herói é uma brincadeira. A maldade está na cabeça do adulto”, destacou.

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SACI-PERERÊ

O jornalista Mouzar Benedito é presidente da Sosaci (Sociedade dos Observadores de Saci) e afirma que o dia 31 de outubro também é o Dia do Saci. “A gente criou o Dia do Saci como contraponto ao Halloween. Não que a gente seja contra as festas dos outros, mas eles que comemorem as festas deles. A gente estava se sentindo vítima do imperialismo cultural imposto goela abaixo que está tomando conta do Brasil, inclusive com gasto do dinheiro público. O Dia do Saci é um momento de reflexão da cultura brasileira”, destacou.

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Desde 2003 ele e os associados da Sosaci realizam uma festa para comemorar a data na cidade de São Luiz do Paraitinga, interior do Estado de São Paulo. “Este ano, em razão da pandemia, vamos fazer um seminário pela internet, com uma live sugerindo que as pessoas permaneçam em casa, mas com proposta de resgatar a cultura caipira”, apontou. Ele explicou que nas festas do Dia do Saci habitualmente possuem música de viola, choro, brincadeiras de teatro e outras atividades lúdicas.

Ele explicou que o colonizador, ao chegar no Brasil, soube que uma maneira de controlar o povo era por meio do controle da narrativa. “Foi quando começaram a dizer que o Saci era um demônio”, destacou.

Segundo ele, é natural que uma escola de idiomas exponha coisas da cultura dos idiomas desses países que eles lecionam o idioma. “Mas o errado é querer impor essa festa para toda a sociedade. Nos EUA o Halloween é a segunda festa em que mais se gasta dinheiro, é uma festa extremamente comercial. Eu acho que para fazer isso nas escolas de inglês é normal, tudo bem. O que eu não acho normal é tratar as festas com elementos que são do Brasil um absurdo”, ressaltou.