| |

Dia da Mulher 5m de leitura

O futuro é delas: Jovens mulheres protagonizam o ativismo em Londrina

Novas gerações de mulheres criam seus próprios meios para o ativismo e propagar a ideia da igualdade entre gêneros

ATUALIZAÇÃO
07 de março de 2021

LARA BRIDI COSTA
AUTOR

Desde novas, mulheres percebem que a imagem que lhes é imposta no mundo não é a mesma dos homens. A estereotipação, o assédio sexual e falta de respeito com os corpos femininos são apenas alguns dos desafios inerentes à vida da mulher relatados por Beatriz Maciel, 23 anos, estudante de direito e cofundadora do Girl Up UEL, coletivo feminino voltado para jovens. Há dois anos, Maciel e mais duas colegas de faculdade, Danielle Rodrigues e Gabriela Lozinsk, observaram que faltavam espaços de discussão e ações práticas em relação à conquista de direitos feminino no campus, e assim se mobilizaram para unir garotas e criaram o grupo que é extensão do Projeto Girl Up da ONU (Organização das Nações Unidas).

 

O grupo tem como responsabilidade cumprir uma série de objetivos que visam o desenvolvimento dos direitos humanos propostos pela ONU. Para tanto, o coletivo se propõe a abrir discussões sobre o feminismo por meio de reuniões, debates e exibição de filmes, pois “é fundamental a juventude atual conhecer os princípios e os fundamentos do feminismo; não só as meninas, mas também os homens” – justifica Beatriz. Mas não só da teoria vive o movimento. Ações práticas tomam o papel de abraçar outras mulheres em um exercício de sororidade. Esse foi o caso da campanha Absorvente Já, organizada pelo Girl Up. O projeto recolheu mais 500 absorventes que foram destinados à doação para mulheres de comunidades periféricas em Londrina. A ação procurou dar um breve passo no combate à pobreza menstrual, ou a falta de acesso a recursos sanitários como água e absorventes.  

Por todas elas

“Quando a constituição foi escrita a gente não foi incluída” – relembra Juuara Juareza produtora cultural e mulher transexual ativista na Frente Trans de Londrina. Em janeiro de 2021, a adolescente transexual de 13 anos Keron Ravach foi assassinada a pauladas no Ceará. Era o mês da visibilidade trans. A tragédia gerou revolta em um grupo de pessoas transexuais em Londrina, que decidiram promover um ato pelas vidas trans e, assim, surgiu a Frente Trans de Londrina.  O Ato Keron Ravach trouxe uma série de intervenções artísticas e sociais pela cidade durante o mês, mobilizando dezenas de pessoas. Em suas ações, o coletivo prevê expor demandas de mulheres trans, ainda tão negligenciadas.

Juuara e Linaê Mello, fotógrafa e ativista trans de 22 anos presente na frente desde sua formação, testemunham que o cenário para mulheres trans em Londrina é precário e não atende nem as condições básicas de vida, o que não garante a emancipação de todas as mulheres, como prevê o feminismo. O fato é que, como constatado pela União Nacional LGBT, a expectativa de vida média de pessoas transexuais no Brasil é de 35 anos, pouco mais da metade da expectativa da população geral, que é de 75,5 anos segundo dados de 2016 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apenas em 2020, 175 mulheres trans foram assassinadas no Brasil, conforme dados de um dossiê do Antra (Assossiação Nacional de Travestis e Transexuais). Além disso, há uma deficiência quanto à saúde dessas mulheres. Em Londrina, o Ambulatório Melissa Campus funcionou por cerca de três anos amparando a comunidade trans. Porém, por se tratar de um serviço voluntário, hoje não está mais em atividade. Uma das reivindicações da frente é um ambulatório voltado à população trans, mas mantido pelo governo estadual ou municipal. Além disso, o grupo organizou uma campanha de arrecadação de roupas de frio para serem distribuídas àquelas mulheres que não tem condições de adquiri-las.

 

Há hoje uma ausência de políticas públicas institucionalizadas que atendam a comunidade trans e “a gente está cansada de ficar recebendo só migalhas” – protesta Juuara. Por isso, outra ação proposta pela frente foi um levantamento independente feito nas redes sociais, o qual pretende compilar quantos e quem são os membros dessa população na região. O formulário do censo está disponível nas páginas virtuais da frente e pode ser preenchido por qualquer pessoa trans de Londrina. Espera-se que por meio desse censo se amplie a visibilidade frente a órgãos governamentais ou não. Também é necessário que as pessoas transexuais se possam fazer conhecidas em questão de empregabilidade. Muitas delas são vítimas do preconceito na procura de um emprego e acabam ficando sujeitas a prostituição. “Nós somos muito mais do que só falar de trans, a gente desempenha outros papéis que estão em nossas profissões” - completa Linaê.

Ainda que jovens, essas mulheres já estão “cheias de marcas, cheias de feridas” – diz Juuara, mas completa: “Olha que potência, a gente se amando, fortalecendo e estando viva”. No dia da mulher, essas e mais diversas lutas se convergem em uma única rede. A data do 8 de março é a ocasião colocar novas batalhas em pauta, mas sem “reduzir a um único dia uma luta secular; mas é relevante para se lembrar quantas de nossas ancestrais mulheres já lutaram pelos direitos que foram retirados de nós e nunca esquecer que antes de nós vieram outras”, frisa Beatriz.

 

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS