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Imagem ilustrativa da imagem Internet X Vida real: Nem todos os agressores virtuais são maus pessoalmente

Internet X Vida real

Nem todos os agressores virtuais são maus pessoalmente

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Lidar com críticas feitas na internet, de forma pública, não é uma tarefa fácil. É preciso maturidade e muita cabeça fria para separar o que vale como crítica e o que é ofensa gratuita. Para crianças e adolescentes, a tarefa é ainda pior, já que eles não têm maturidade suficiente para lidar com elas.

Priscilla Araújo Taccola, psicóloga do Iacep (Instituto de Análise do Comportamento em Estudos e Psicologia) e mestre em Psicologia Clínica, ressalta que muitas pessoas criam perfis falsos somente com o intuito de agredir o outro e por isso essas críticas nunca devem ser levadas a sério. “Um dos grandes problemas é que a internet parece terra de ninguém porque as pessoas têm se agredido muito. Essa agressão na internet se tornou muito maior justamente porque não existe a relação pessoal. Os que as pessoas falam na internet, elas não diriam pessoalmente. Parece que a internet é uma forma de se proteger: ‘eu posso dizer o que eu quiser porque aqui estou protegido, não vai me acontecer nada’”, explica.

Segundo ela, não há um perfil exato dos chamados “haters”, pessoas que odeiam gratuitamente o outro. Mas, por as redes sociais serem um local onde geralmente se posta apenas os momentos felizes, a psicóloga acredita que muitas vezes quem faz essas agressões é justamente quem está infeliz, descontente com a vida. Agredir o outro seria uma forma de tentar diminuir aquela felicidade, tentar fazer o outro ser infeliz também.

“Nem todos são agressivos na vida real. Há aqueles que são, vão ter um padrão agressivo na internet também, mas tem muita gente que as pessoas não imaginam que seriam capazes de fazer aquilo. São pessoas pacatas, gentis, até muito tímidas, que não se comunicam tanto e na internet se tornam muito mais agressivas. Isso acho que tem um pouco da sanção social, se relacionar pessoalmente. Tem um monte de coisa que envolve a relação pessoal e na internet se tira isso.”

Para Taccola, quanto mais famoso alguém é, mais críticos ele terá. E essas críticas vêm inclusive de colegas de trabalho, que querem ter visibilidade e por isso recorrem às críticas. Ler ou não esses julgamentos, aceitá-los ou não, vai depender da estrutura emocional de cada um. Cada um deve ver qual seu limite e interagir ou não com o agressor. Mas há casos em que a agressão é um crime, como racismo, e nesse caso é preciso buscar as autoridades competentes.

“Eu sempre digo para as mães de adolescentes que é importante para os filhos criarem autonomia e resolverem seus problemas, mas esse ‘resolver sozinho’ tem limites. Chega em um ponto que precisa da intervenção de um adulto e algumas vezes da polícia. O limite fica muito sensível e os pais precisam ficar atentos a isso. Os filhos precisam conseguir falar o que estão passando.”

A psicóloga lembra que um desses limites é quando um casal termina um relacionamento e um dos parceiros resolve publicar fotos, mensagens ou vídeos íntimos.

PAIS DEVEM ENSINAR EMPATIA PARA OS FILHOS

Ela sugere que os pais tentem adiar ao máximo o uso das redes sociais pelos filhos, pelo menos até uns 12 anos de idade. “Acho que as redes sociais não devem ser para adolescentes muito jovens, porque é a idade da transformação do corpo, é tudo desengonçado, é um corpo diferente e na internet todos os corpos são perfeitos. Eles têm uma edição de imagem, você olha e a sensação é que o seu corpo nunca vai ser perfeito assim. E daí tem essa sensação constante de insatisfação consigo mesmo. Acho importante os pais terem um diálogo aberto de que isso não é verdade, que a vida não é assim.”

No caso do bulling, o agressor tente a pegar no ponto em que a pessoa acha seu maior defeito, e os adolescentes precisam aprender que todos têm defeitos. Ter consciência disso pode ajudar a lidar com as críticas de internet. “Tenho visto depoimento de modelos onde elas dizem que em determinada foto elas não se reconheciam de tantos retoques que foram feitos. Tenho visto que as pessoas têm vivido muito na internet e pouco na vida real. Vejo que os jovens preferem usar aplicativos do que usar o telefone. Por quê? Porque pelo aplicativo ele não precisa se relacionar. É mais fácil, mas perdemos de ouvir o tom de voz, de ver o olhar da pessoa, se ela está chateada com o que você disse. Essa relação pessoal, viva, tem se perdido. Precisamos voltar a nos relacionar com o outro na vida real, olhar no olho do outro”, orienta.

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VIVENDO O OUTRO LADO

Para evitar que os filhos se tornem agressores é importante que os pais estejam atentos e conversem com eles quando notarem qualquer tipo de comportamento inadequado. Ajudar a criança a se colocar no lugar do outro, desenvolver a empatia é muito importante, mesmo para comportamento na vida real, antes de eles usarem as redes sociais.

“Seu filho pode dizer que não gosta da outra criança. Ele tem o direito de não gostar, mas não tem o direito de agredir. E existe uma grande diferença. Na hora que os pais ensinam esse limite, ensinam a ter um pouco de empatia e respeito pelo outro, esse comportamento tem que ser perpetuado, e acho que quando os pais pegam seu filho cometendo essa ação com outros na internet precisa ter sanção, precisa ser conversado sobre isso, se necessário precisa ter um acompanhamento com essa criança porque é um comportamento muito violento. Tem aumentado muito os casos de suicídios de jovens e quando um adolescente é criticado por todos, parece que não tem solução aquele problema”, alerta.