Apesar de meses intermináveis, como agosto, que parece ter 600 dias, o fim do ano sempre chega. Na correria do dia a dia – ainda mais em um 2020 arrastado pela pandemia – às vezes só nos damos conta que já estamos na época quando, na espera do caixa do supermercado, uma voz familiar entoa a tradicional pergunta-desafio musical: “então é Natal, e o que você fez?”. A cantora Simone, que em 1995 lançou o disco “25 de dezembro”, parece ficar “escondida” por 11 meses, mas reaparece nos lembrando que Papai Noel e companhia estão a caminho. O trenó do velhinho traz ainda outras “confusões”, como uma briga sem fim: arroz com ou sem passas?

Imagem ilustrativa da imagem Fim de ano chega com decorações tradicionais e clima de confraternização com “polêmicas”
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A frutinha é uma protagonista do Natal. A origem das passas remonta a épocas pré-históricas, quando as uvas caíam das videiras e secavam ao sol naturalmente. Certa vez, alguém resolveu experimentar, percebeu que eram gostosas e que poderiam fazer parte da alimentação. Na Roma Antiga, a fruta passou a ter ligação forte com o solstício de inverno, estando sempre presente nas celebrações da data. Nas classes mais altas da sociedade, vinham cobertas com ouro, servindo até mesmo de decoração. Para os romanos, frutas secas ainda faziam parte de um costume que prometia a ausência de fome e pobreza, trazendo fartura e prosperidade. Amor e ódio entre os brasileiros por “frequentar” o arroz, o salpicão, a farofa e outras comidas salgadas, as passas já estavam presentes em receitas egípcias de assados, nos banquetes do Rei Salomão, entre os persas, cristãos antigos e judeus. Só não dá pra saber se já eram motivo de confusão naquele tempo. E pra você, a regra é com ou sem?

A uva passa, aliás, acompanhada das frutinhas cristalizadas, viveu em paz no panetone por muito tempo. Uma das versões aponta para a criação de um padeiro chamado Toni, que trabalhava em Milão, no século XV. Apaixonado pela filha do patrão, ele teria inventado o pão doce com frutas para impressionar o pai de sua amada. Foi um sucesso. Os fregueses passaram então a pedir o “Pani de Toni”, que evoluiu para o milanês “panattón”, até ser finalmente batizado de “panettone”, em italiano, ganhando o mundo. Em 1978, no Brasil, o sossego das frutas no panetone acabou: a Bauducco teria sido a primeira marca a criar uma versão substituindo-as por gotas de chocolate, nascendo assim o “chocotone”. Um passeio pelas redes sociais, hoje, mostra que as iguarias também se dividem entre apaixonados e cancelados em várias enquetes. Ainda no campo das comidas, também vem com tudo em dezembro o cravo no tender, as frutas nas carnes e o indefectível pavê, para a alegria dos tios piadistas das confraternizações. Não dá pra esquecer das rabanadas e das bolachinhas natalinas. E aí vem outra guerra: bolacha ou biscoito?

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Na tela da TV, outro ícone do Natal: o especial de Roberto Carlos. A estreia foi em 25 de dezembro de 1974, com o “rei” cantando seus grandes sucessos. De lá pra cá, 43 edições marcaram presença no fim de ano dos brasileiros, trazendo sempre convidados famosos. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Chico Buarque, Fafá de Belém, Marisa Monte, Lulu Santos, Adriana Calcanhoto, Rita Lee, Ivete Sangalo, Hebe Camargo, entre outros, estiveram na atração, além do elenco da emissora, como Renato Aragão, Xuxa e Claudia Raia. Em duas oportunidades, Roberto Carlos não gravou. Em 1999, quando o cantor havia perdido a mulher, Maria Rita, e ano passado, quando uma edição só com apresentações antigas pelo Brasil ocupou o espaço na programação. Há quem brinque que o mundo virou de ponta-cabeça justamente porque Roberto Carlos não gravou um show inédito. Será? Para 2020, devido a pandemia, o show de 2011 será reprisado, no dia 22.

Outro clássico, as vinhetas ao som de o “hoje é um novo dia, de um novo tempo, que começou” não tiveram aquela famosa reunião de artistas celebrando, unidos. Entram em cena animações e abraços virtuais. Mas a música não pode faltar, mesmo que alguns troquem de canal correndo.

A pandemia deve ainda, infelizmente, afastar muitas famílias e impedir confraternizações. Cancelado, o amigo secreto não deve deixar saudade para bastante gente, afinal, quem nunca deu presente bom e ganhou algo meia-boca, que atire a primeira guirlanda. O Papai Noel, devido à idade, também não é presença confirmada. O velhinho é grupo de risco, mas em diversos shoppings pelo Brasil, o personagem fica atrás de uma proteção de acrílico, frequentemente higienizada. Não há contato físico com as crianças que, em alguns casos, vão poder conversar em videochamadas com o Noel.

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| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Os encontros virtuais, utilizados com exaustão durante o ano, podem mais uma vez aliviar a saudade e ser solução em 2020. No Natal do Zoom, cada um faz sua própria ceia em casa e transmite pela web para os outros parentes. A vantagem é que dá para colocar - ou tirar - o que quiser do arroz, das carnes e do panetone, sem julgamento, briga ou interferência dos primos. E ainda falar que travou quando aquela tia vier falar “e as namoradas”, ou cortar o áudio do tiozão que pegar a sobremesa e ameaçar perguntar: é pavê ou pacumê? Virtual ou presencial, viva o Natal!