Mas por que sair?

Professor do Departamento de Ciências e Gestão da Informação da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Rodrigo Botelho trabalha em pesquisas que mostram como as redes sociais que existem no mundo físico são mediadas pelas redes sociais digitais.

Imagem ilustrativa da imagem Existe cor e brilho fora das telinhas  x Redes são fundamentais para atrair clientes

“Quem está fora das redes sociais digitais geralmente é por um de três motivos. O primeiro deles é por uma questão crítica, ou seja, a pessoa tem um olhar crítico em relação às redes sociais digitais e os temas que estão envolvidos. O segundo é por privacidade. Elas não têm nada contra nem a favor dessas redes, mas não querem se expor. E o terceiro motivo é por causa do acesso. Ou a pessoa não tem internet ou o acesso é vulnerável, comprometido, sem qualidade”, explica.

Segundo ele, por mais que se faça uma escolha de estar fora das redes sociais digitais, nossos dados estão nas redes ou na tecnologia digital. Quando vamos ao médico, quando usamos algum sistema público, bancário ou outro qualquer, nossos dados acabam parando na internet. “Todas as pessoas têm sua vida mediada pela tecnologia”, alerta ele.

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Botelho lembra que como usuários podemos configurar as privacidades das redes para mostrarmos apenas aquilo que for desejado, entretanto, esse tipo de configuração só é possível em relação aos outros usuários. Já o nível de privacidade em relação à empresa é o que ela permite que os usuários tenham. “Esses termos são especificados quando eu entro e aceito os termos de uso da rede. Mas é um contrato unilateral, só tem os termos dela."

O professor lembra que tudo que é captado pelo mundo digital, não é apagado. “Estamos migrando para uma sociedade onde o poder será a capacidade de ter acesso a dados e manipular esses dados.”

Quem escolhe estar fora das redes sociais digitais abre mão de ter acesso à informação. E onde essas pessoas buscam a informação? Há algum espaço alternativo, seja ele ligado ao analógico ou à uma tecnologia digital alternativa? Botelho pontua que existem outras opções quando pensamos em tecnologia. Por exemplo, existem diversos sistemas de busca e programas de mensagem. Apesar de existir os mais famosos, outros têm a mesma função.

“Existe vida fora das redes sociais digitais. Há outras redes sociais: a rede de amigos, a rede de vizinhos do bairro, a rede do trabalho e as redes temáticas, como do hip hop ou do grupo de teatro. As redes digitais têm uma relação diferente com o tempo e o espaço. É uma forma mais rápida, com uma geografia diferente. Mas existem relações muito ricas fora, com a riqueza do contato físico. Deveríamos cruzar melhor essa relação entre elas. São propostas e potencialidades diferentes, temos que compreender a fragilidade de cada uma”, pondera.

Lemos menos hoje?

O professor questiona o dado de que hoje lemos menos do que nossos ancestrais e diz que apenas lemos coisas diferentes nas redes sociais digitais. E nessas plataformas é preciso atenção sobre o cada um de nós lê: seria um pouco de tudo ou apenas nos interessamos pelo que nosso amigo almoçou ou o lugar que ele visitou? “Os algoritmos criam os filtros bolha, que exibem só o que a pessoa tem interesse. Isso nos leva a viver em guetos. Eles passam a funcionar imediatamente após aceitarmos os termos de consentimento e informarmos nossos dados. Depois eles vão se retroalimentando”, explica.

Para Botelho, a pergunta não é se queremos estar dentro ou fora das redes, mas como queremos que elas sejam e que força política temos para mudar isso. "É importante fazer uma autocrítica para que essa decisão não esteja nas mãos de poucos. Várias tecnologias têm código aberto. Não é só estar fora, mas ocupar esses espaços.”

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Mas por que ficar?

Ficar fora das redes sociais pode ser uma alternativa para todos? Profissionalmente é decisão acertada estar offline? Segundo Sheila Dal Ry Issa, estrategista em posicionamento digital e diretora de serviços da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), para quem tem um negócio, deseja vender mais e fidelizar clientes, as redes sociais são indispensáveis.

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“A rede social hoje funciona como uma vitrine. Quando estamos em um evento social ou corporativo, normalmente as pessoas perguntam sobre nosso Instagram, Linkedin ou Youtube, dependendo do estilo de evento. E ao invés de trocar cartão, as pessoas começam a seguir as outras nas redes sociais para conhecer mais do seu trabalho profissional, do posicionamento da empresa. Hoje a rede social é vista e é trabalhada como um cartão de visitas, uma vitrine, seja para um prestador de serviços, comércio ou indústria”, explica.

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E não basta ter apenas uma página para a empresa, já que as pessoas buscam saber quem está por trás daquele negócio. O marketing pessoal do empresário, os valores que ele prega também ajudam nas vendas, muitos desejam visitar o perfil pessoal e ver como a pessoa se comporta, quais são os valores dela. E não apenas quem tem uma empresa. Profissionais liberais e prestadores de serviço também precisam estar nas redes.

"Atuo bastante no comércio e atendo muitos profissionais liberais, como médicos e dentistas. Eles não trabalhavam isso e hoje eu vejo a preocupação. Conseguimos resultados trabalhando conteúdo. Rede social não é propaganda, rede social é mostrar todo o conhecimento, todo benefício que você vai atrair para seu público. Se quer vender mais, se quer aumentar e fidelizar seus clientes, é indispensável estar na rede social.”

Escolhendo sua rede

Segundo Issa, apesar de o Instagram ser um campeão de audiência hoje, não é indicado para todos os profissionais e todos os negócios. De acordo com o segmento existem outras redes que cumprem bem seu papel, como Youtube e LinkedIn, é preciso avaliar onde o cliente está. Por isso é importante saber com quem eu vou falar. Quem é meu cliente? Como estou comunicando com mercado? Forma de atrair cliente, mudou. Primeiro pessoa precisa avaliar o seu posicionamento, o resultado que está tendo hoje e qual a mudança de comportamento desse cliente online. E aí sim escolher uma rede social. Recomendo até que não tenha muitas. As pessoas acabam gerenciando sua própria redes e se tiver muitas, não vai ter tempo de gerenciar com qualidade. Melhor escolher uma, investir tempo, investir a comunicação que seu cliente quer ouvir e pensar que rede social é o relacionamento”, aponta a estrategista.

E mesmo profissionais que estejam empregados devem se preocupar em ter um perfil profissional, para não perder seu valor no mercado. “Você pode ter uma boa qualificação, doutorado, mas que nunca trabalhou seu nome no mercado. E fazer isso hoje é trabalhar o nome online. Sempre precisamos estar alimentando, por mais que você esteja trabalhando, que pretenda ficar na empresa, o futuro é incerto. Se você sai e não trabalhou seu posicionamento, como você vai ser um desejo para outra empresa? Como você vai se posicionar? Você acaba perdendo o timing", diz ela.