Raquel Braga comprou casa própria e carro vendendo bombons
Raquel Braga comprou casa própria e carro vendendo bombons | Foto: Marcos Zanutto

A bordo de uma Kombi, Raquel Braga, 51, circula pela cidade até o seu ponto de origem para onde foi chamada para cozinhar. A personal chef se considera uma empreendedora e vendedora nata: com experiência de 40 anos em vendas (começou na infância), ela conta como fez desse ofício sua principal fonte de renda.

“Aos 10 anos eu comecei a vender coxinha.” Estava no sangue da família. Enquanto a mãe trabalhava em um hotel em Foz do Iguaçu, cidade onde Raquel viveu pedaço da infância, a avó fazia as coxinhas para que a neta vendesse nas ruas da cidade. Antes de iniciar o trabalho, também varria a calçada de uma padaria em troca de pães adormecidos, com essa atividade foi convidada a trabalhar em lanchonete.

Aos 15 anos, voltou para Londrina com a família. “Comecei a trabalhar como doméstica, mas meu negócio era venda, então comecei a vender produtos cosméticos por revistinhas. Vendi até meus 18 anos”, afirma. O talento foi rapidamente notado. Trabalhou em lojas até um representante de marca de lingerie fazer um convite. “Eu me tornei revendedora, saí viajando pelo Paraná para vender. Como foi ficando cansativo ir de ônibus, eu economizei até comprar um Fusca. Aprendi a dirigir, mas em uma dessas viagens eu capotei. Não sofri nada, só o Fusca que eu perdi, mas que bom, vão-se os anéis, ficam os dedos”, comenta sem lamentar.

O que sobrou do carro foi vendido para comprar uma Mobilete, meio de locomoção para o retorno ao comércio no centro de Londrina. “Eu não gosto muito de trabalhar presa em um lugar, eu gosto de ser vendedora autônoma. Eu fiquei um tempo lá, cheguei até a ser gerente e voltei a vender lingerie no boca a boca. Eu não viajava mais e não tinha mais minha Mobilete, porque me roubaram. Até hoje não vi o rastro dela, mas eu nunca desisti”, recorda.

TALENTO

É com esse otimismo que a vendedora mostra ter talento. Foi gerente de vendas, ganhou prêmios por exercer seu ofício com qualidade, mas começaram os problemas com os pagamentos de clientes.

“Então, tive a ideia de fazer outra coisa para ganhar dinheiro, uma amiga estava fazendo bombons e falou que me ensinava. Eu comprei uma lata de leite condensado, uma caixinha de morango e fiz do jeito que ela me explicou. Fui vendendo a ponto de chegar a ter até 80 pontos de vendas. Eu passava a semana inteira só entregando, porque eu tinha duas pessoas na produção com a coordenação da minha mãe. Graças a Deus, foi com esses bombons que eu consegui ter uma casa própria, cheguei a comprar um carro do ano, eu viajei, fiz cruzeiros, conheci boa parte do Nordeste”, conta orgulhosa.

KOMBI?

Depois de quase 20 anos fazendo e vendendo bombons, Raquel entrou na faculdade de Gastronomia, área pela qual sempre teve interesse. Depois de formada, teve novas ideias: vender os seus serviços de personal chef e locação de utensílios para eventos. Hoje, além dos bombons, ela também sai a bordo da sua Kombi para atender clientes que contratam o serviço de buffet.

“Resolvi no começo do ano que eu ia montar meu mini buffet para atender até 60 pessoas. São cadeiras, mesas, copos, talheres, taças. Esse ano resolvi comprar a Kombi, ainda estou em fase de adaptação para dirigir, porque ela é meio bruta, mas estou muito apaixonada por ela e tenho alguns planos”, revela já sonhando com suas novas invenções. “Quero transformar em uma Kombi Home, fazer uma casinha nela e a partir de 2020 quero transformá-la em Chocokombi, fazer meus bombons e sair viajando pelo Brasil, conhecer produtos diferentes, raízes, folhas e pratos... E vou fazer o prato, colocar o vídeo no YouTube”, afirma.

VENDAS

O sonho só é permitido porque ela sabe que para onde for vai saber vender o que tiver que oferecer. “As minhas colegas falam que eu vendo tudo, até a minha mãe. A minha mãe eu não vendo não”, brinca. O talento que ela diz ter no sangue vem, na verdade, da experiência da rua, do contato com o cliente. “Eu acredito no que os clientes dizem. O principal fator para as vendas é ter um trabalho de qualidade e também ser atenciosa, mostrar que você sabe fazer”, afirma.

Mas não é tão simples quanto parece. Entre tantos fatores que envolvem o sucesso de um negócio, foi preciso muita dedicação. “Eu não fiz dos bombons um bico, eu fiz a minha profissão. Não queria só para conseguir um dinheiro e depois parar, os bombons foram e até hoje são o meu salário, é de onde eu pago as minhas contas. Eu apostei que iria prosperar”, conta.

Com experiência, Raquel hoje sabe dar boas dicas para quem deseja vender qualquer produto. “Tem que dar atenção ao cliente, ouvir o que ele tem para falar mesmo você estando com pressa, ter paciência... Nem sempre ele vai dizer sim, tem que entender, ter jogo de cintura para lidar com o cliente e aos poucos ir conquistando pela simpatia e jeito de abordar”, indica.