“O tempo era cronometrado para não e acabar o filme”, conta Terumi Koga, que fotografou o primeiro casamento em 1959
“O tempo era cronometrado para não e acabar o filme”, conta Terumi Koga, que fotografou o primeiro casamento em 1959 | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Quando o Terminal Rodoviário de Londrina ainda ficava no alto da praça Rocha Pombo e a avenida Paraná não tinha ainda se tornado Calçadão, Terumi Koga, 79, já fotografava na sua câmera antiga. Ele veio para Londrina em 1959 produzir imagens em estúdio quando poder escolher qualquer cenário da cidade era algo muito avançado.

“Era aquela câmera caixão, de cobrir a cabeça. Você colocava dentro dos chassis aquela chapa de vidro e fazia uma foto só de cada cliente. Não podia tirar duas fotos e tinha que aproveitar, não podia se mexer, sair do lugar, a câmera era fixa. Quando era criança, tinha que falar 'não pisca, fica quietinho'. A gente tinha que ser um artista para poder segurar a criança”, ri o fotógrafo.

Proprietário da rede de lojas Foto Célula, ele conta como a fotografia mudou no decorrer desse tempo. Tinha 13 anos de idade quando iniciou o trabalho na loja de um amigo dos pais para ajudar a família e foi aprendendo todo o processo de produzir uma imagem a partir da chapa de vidro e a revelação manual. Depois de quatro anos trabalhando no interior de São Paulo, veio para Assaí ao encontro da família e conseguiu emprego em Londrina, no Foto Estrela, que ficava na rua Mato Grosso.

“Foi em 1969 que a gente começou a fazer fotorreportagem na igreja”, conta tirando do canto da mesa uma bolsa com uma Rolleiflex bem conservada. “Essa aqui é o meu mimo, minha aposentadoria foi tirada com essa máquina aqui”, brinca. A câmera ainda funciona, Koga aperta os botões para comprovar.

CASAMENTOS

O primeiro casamento foi em 1959. “Me senti inseguro, dava até tremedeira, com medo de errar”, recorda. O fotógrafo conta que o flash da câmera não funcionava direito e esse medo vinha da incerteza de conseguir fazer um bom trabalho, já que eram feitas apenas 12 fotos de momentos únicos e que os resultados só seriam vistos depois. “Tinha que calcular o momento certo, então era entrada e saída, a hora da aliança, padrinhos, fazer 12 fotos para aproveitar as 12. E tinha que ser cronometrado para não chegar nesses momentos e acabar o filme”, conta.

Naquele tempo, poucas famílias tinham condições de pagar por um serviço desse, a maioria dos casais se deslocava até o estúdio. “Eram só os noivos, uma pose só, fixa. Às vezes tiravam com os padrinhos, com os pais, mas era muito difícil, porque o custo era alto”, afirma.

HISTÓRIA

Em 1961 trabalhava em uma loja especializada em revelação de fotografias, em Rolândia, e o proprietário, sem condições de pagar pelos serviços de Koga ofereceu-lhe como parte da dívida o próprio estabelecimento. O fotógrafo aceitou o desafio. “Eu não tinha nada a perder.”

Sem dinheiro e sem insumo, comprou material fiado escondido do proprietário de uma loja em Londrina. “Isso foi na sexta-feira, tinha uma festa junina no sábado, eu fotografei e à noite revelei, coloquei em exposição no domingo. O pessoa ia na missa, via as fotos já reveladas, eu vendi tudo”, ri ainda comemorando a conquista. Na segunda-feira, pagou a dívida.

Foi assim que nasceu a Fotolândia, que em Londrina se tornou o Foto Célula com a primeira loja na rua Sergipe, próxima à delegacia. “Eu cheguei a ter 23 lojas, hoje tenho quatro. Depois que entrou a câmera digital, foi ótimo, mas com a fotografia de celular, despencou. As pessoas não revelam mais”, conta. O profissional chegou a revelar, em uma só loja do Calçadão de Londrina, mil rolos por dia.

ATUALIDADE

O fotógrafo lamenta que hoje as pessoas perderam o costume de produzir álbuns. “Acho que as pessoas deveriam fazer, porque se deixa no computador ou no celular, amanhã ou depois você pode perder. Hoje nós fazemos um serviço muito bonito de álbum, mas os amadores não revelam, as fotos de criança, do seu filho, se você não revela, amanhã ou depois vai ficar sem imagem”, indica.

Na maneira de fazer, algumas coisas se mantiveram, como as poses com convidados especiais de um evento ainda são importantes. No entanto, as fotos de flagrante, conhecidas como fotojornalismo, são as que mais agradam hoje em dia. “Eles querem mais fotos do momento, não querem aquela tradicional, com todas as fotos posadas e no tempo em que eu fotografava eram todas posadas”, recorda.