O "Clube dos Dez" começou com um pequeno grupo de universitários e chegou a reunir mais de 100 pessoas
O "Clube dos Dez" começou com um pequeno grupo de universitários e chegou a reunir mais de 100 pessoas | Foto: Arquivo Pessoal



Com exceção de algumas poucas cidades, o Paraná nunca teve muita tradição carnavalesca. Nas últimas décadas, com o esvaziamento dos clubes e a falta de apoio do poder público, restou muito pouco da folia para quem passa o Carnaval no interior. Em Cambé, uma iniciativa particular que começou por causa do Carnaval de salão, acabou se tornando alternativa à falta de opção.

O ano o organizador já não se lembra bem, mas começou em algum Carnaval entre 1987 e 1990. E lá se vão 30 anos desde que o radialista Mauro Segura abriu pela primeira vez as portas da própria casa para quem quisesse festejar o Carnaval. "Começou com um grupo de dez amigos, que se reunia na minha casa, ali na Rua Pio XII, por ser próximo do Harmonia Tênis Clube, que era o point do Carnaval", conta.

Assim nasceu o Clube dos 10, um grupo formado em sua maioria por universitários, que passaram a organizar festas de Carnaval que chegaram a contar com 120 pessoas. E organizar não é força de expressão. As festas eram, de fato, organizadas. Pelo menos é o que garante o organizador. "A gente montava uma estrutura, contratava um dogueiro que ficava das 16h às 22h e tinha também um sambinha ao vivo", conta.

Cada membro do grupo pagava o equivalente na época a R$ 40 – valor mantido até hoje – o que dava direito a quatro camisetas e cerveja ou chope à vontade. Cada um foi trazendo um amigo, a namorada e a festa foi crescendo a cada Carnaval até se tornar uma tradição, cheia de pequenas tradições.

Tudo tinha início já na sexta-feira, com a "vigia do remo". "Era uma brincadeira que a gente criou: a pessoa ficava de bruços com a boca para cima para beber e simulava uma remada, e esse era o batismo para quem vinha de fora", conta o radialista.

No sábado, ninguém podia entrar na casa antes da carreata. "Nós puxávamos a carreata com o trio elétrico e todos os blocos da cidade participavam. Depois, todo mundo ia para minha casa e por volta da meia-noite, para o HTC", explica.

A partir das 4h, um novo encontro era feito na sede do Clube dos 10. "A gente voltava para casa para comer a canja que a minha avó preparava. A gente comia e batia papo até 6h da manhã. Cada um ia para sua casa e voltava à tarde para recomeçar", conta.

Imagem ilustrativa da imagem 'Enquanto tiver fôlego, vou continuar'



Resistência
Quando o HTC deixou de realizar bailes de Carnaval, muita gente pensou que o Clube dos 10 morreria, mas a tradição resistiu. "A festa foi ficando menor: em alguns anos fizemos duas noites, depois uma noite só, mas em todos esses anos, a minha casa nunca ficou sem Carnaval. No ano passado, por exemplo, tivemos cerca de 60 pessoas na única noite que fizemos festa", afirma Segura.

Hoje, o Clube dos 10 já não tem carnavais tão intensos, até porque os universitários tornaram-se cinquentões, construíram suas famílias e muitos foram embora. Mas Segura faz questão de manter a tradição. "Daquele grupo inicial restaram poucos, mas eu, enquanto tiver fôlego e energia, vou continuar porque adoro o Carnaval", garante.

Em 2017, depois de muitos anos, a nova diretoria do HTC decidiu retomar o Carnaval de salão. Serão dois dias de festa: sábado e segunda. E o Clube dos 10 estará a postos para a concentração. "Mais de 80 pessoas vão se reunir aqui. Vai ter samba ao vivo, vai ter bloco e vai ter canja", garante o organizador.