Assim como o clima varia de acordo com uma enorme gama de variáveis, sendo capaz de oscilar entre os mais quentes dias de Sol e fortes tempestades, o comportamento dos usuários de redes sociais na internet é bastante mutável. As mudanças acontecem em espécies de ciclos, mas a finalidade permanece basicamente a mesma: oferecer uma comunicação direta e imediata. Das telas pretas preenchidas por caracteres pixelados dos programas do protocolo IRC (Internet Relay Chat), na década de 1990, passando pelo amigável ICQ, ou pelo famoso comunicador da Microsoft, o MSN, até estrear o Orkut, chegando aos poderosos impérios do Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat, Tik Tok – cada nova tecnologia impõe uma espécie de moda. A vertente atual aponta uma preferência por redes se utilizem de mensagens curtas, muitas vezes enviadas através de vídeos. Há ainda a preferência de que sejam efêmeras e se dissolvam rapidamente não só na memória dos seguidores, como no infinito universo de bytes.

A tendência do que irá virar mania é uma incógnita. As empresas de tecnologia em todo o mundo fazem testes constantes, buscando encontrar um novo padrão ou linguagem que ganhem o gosto do grande público – a opinião dos brasileiros normalmente tende a ter enorme importância para o sucesso de um novo modismo digital. Dar certo ou não, no entanto, depende fundamentalmente de uma parcela de sorte, conforme defende André Azevedo da Fonseca, professor e pesquisador do Centro de Educação, Comunicação e Artes da UEL (Universidade Estadual de Londrina). “É impossível prever o que vem por aí. A quantidade de variáveis é incontável. O maior desafio que estes criadores têm é oferecer às pessoas aquilo que elas ainda não sabem que querem”, afirma Fonseca.

Até a semana passada, muitos brasileiros que não haviam ouvido falar da rede chinesa TikTok. Até que uma série de vídeos publicado por uma jovem americana viralizar diversas redes sociais. Ferozaxa Aziz, de 17 anos, postou vídeos que começava como um tutorial de maquiagem, mas que partia para um alerta sobre a perseguição do governo da China à minoria muçulmana que vive naquele país.

Segundo reportagem do Nexo, o vídeo foi vídeo foi visualizado 1,6 milhão de vezes no TikTok e visto milhões de vezes em outras redes sociais, onde foi republicado por outros usuários. O aplicativo chinês foi criado três anos atrás e dois anos depois foi considerada a startup mais valiosa do mundo.

NEGÓCIOS

Apesar da aparência amigável, da poderosa capacidade informativa e de muitas vezes representar uma oferta de diversão, é importante ressaltar que os usuários das redes sociais estão expostos aos modelos de negócio das empresas que oferecem seus serviços aparentemente de forma gratuita. Na verdade, os aplicativos capturam os dados e informações pessoais para repassar às empresas interessadas em elaborar anúncios e estratégias de marketing cada dia mais precisas. “Tudo é feito para que as pessoas fiquem viciadas. As mudanças têm o interesse de capturar cada vez mais a atenção de quem usa. Diariamente são feitos testes para analisar as reações dos envolvidos. Não é à toa que se apostem na publicação de vídeos curtos. São fáceis de produzir e capazes de serem consumidos compulsivamente”, alerta o professor da UEL.

Outra questão que vem ganhando maior importância entre os usuários das redes sociais é a privacidade. Ao longo de pouco mais das duas décadas em que os relacionamentos se desenvolvem no mundo virtual, muitas pessoas aprenderam a se proteger e a compreender os resultados do excesso de exposição. “Aparentemente há uma maior cautela. O conhecimento sobre o que são as fake news se tornou mais amplo, a noção sobre as consequências do uso irresponsável das redes também é maior. Tudo isso faz com que vá ocorrendo uma adaptação”, opina a professora Cláudia Quadros, do departamento de Comunicação Social da UFPR (Universidade Federal do Paraná). A estudiosa ainda aponta que a preponderância de empresas se utilizando das redes como um canal fixo com seus clientes também tem o poder para influir no comportamento dos usuários.

MUDANÇA

Em meio a tamanho volume de informações, algumas mudanças já começam a ser notadas. Uma delas é o surgimento de comunidades em que a privacidade e os dados são protegidos, mas para isso os criadores pedem que sejam feitas doações. Uma das empresas propostas neste sentido é a rede WTSocial, criada em outubro passado pelo americano Jimmy Wales, um dos fundadores do Wikipedia. O formato pretende combater a propagação de notícias falsas com notícias factuais e maior ligação com as fontes. No último dia 6 de novembro estavam registrados 25 usuários, o número saltou para mais de 200 mil em meados do mês. “Este é um dos caminhos que começam a surgir como alternativa, com uma lógica bem diferente, mas não é possível entender o alcance destas iniciativas”, garante Fonseca. Um mercado em que a principal regra é que o imponderável é inegociável.