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Vitória Felício Moraes tinha apenas um ano e quatro meses de idade em 29 de janeiro de 2002. Foi nessa data que estreou a primeira edição do programa “Big Brother Brasil”. Passados 19 anos, Vitória faz sucesso na internet com o nome de Viih Tube e é a mais jovem participante da 21ª edição do reality show, que começou na última semana.

Voltando no tempo, não dá pra esquecer que a produção da primeira temporada do BBB precisou correr contra o relógio. A Rede Globo, que havia comprado os direitos do reality show da produtora holandesa Endemol, foi surpreendida em outubro de 2001, com a estreia de “Casa dos Artistas”, no concorrente SBT. A fórmula era praticamente a mesma do “grande irmão”, porém contava com participantes relativamente conhecidos do público, como o então ator e hoje deputado federal, Alexandre Frota, o cantor Supla e as ex-garotas da “Banheira do Gugu”, Nana Gouvêa e Mari Alexandre, entre outras subcelebridades. A atração chegou a ficar fora do ar por dois dias, devido a uma ação na justiça movida pela Globo. Não adiantou: Silvio Santos ganhou a batalha e voltou com recordes de audiência, numa era sem o barulho das redes sociais. Para se ter uma ideia, a estreia obteve média de 33 pontos, contra 25 do Fantástico. “Casa dos Artistas” foi exibida até o fim, consagrando Bárbara Paz como vencedora — uma atriz ainda pouco conhecida na época.

Desde 2002 até hoje, 352 jogadores estrelaram o BBB. Alguns venceram e caíram no ostracismo, como Cida Moraes, Mara Viana, Rafinha, Max Porto e Fael Cordeiro – quem se lembra deles? Outros seguem conhecidos e até ganharam espaço em outras produções televisivas, como Kléber Bambam – o primeiro vencedor – e Maria Melilo. Jean Wyllys aproveitou bem a fama e foi eleito deputado federal e Thelma Regina, que brilhou na última edição, segue engajando milhares de pessoas nas redes sociais.

Não dá pra esquecer ainda personagens que, mesmo sem conquistar o prêmio milionário, deram-se até melhor que alguns dos primeiros colocados. Uma delas é a paranaense Grazi Massafera, vice-campeã do BBB5, com grande destaque hoje como atriz. Sabrina Sato, apenas sexta colocada no BBB3, fez sucesso durante anos no programa “Pânico na TV” e até ganhou uma atração solo na Record TV. Juliana Alves, nona colocada da mesma edição de Sabrina, Kaysar Dadour, vice-campeão do BBB18, e Rafa Kalimann, segunda colocada no ano passado, também registram participações na dramaturgia global.

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| Foto: Fabio Rocha? Globo

Durante 16 edições, o jornalista Pedro Bial comandou a atração, sendo sucedido pelo também jornalista Tiago Leifert. A atriz Marisa Orth chegou a dividir a apresentação com Bial na primeira temporada. No entanto, sem entrosamento, logo deixou o programa. Ficaram para a história algumas gafes, como o episódio em que Orth anunciou a um participante, Caetano Zonaro – o primeiro eliminado da história do BBB, que ele já estava no paredão antes mesmo da indicação do líder e da votação dos demais participantes.

A ideia do programa surgiu em 1999, quando John de Mol, executivo da televisão holandesa e sócio da produtora Endemol, propôs um produto onde pessoas comuns conviveriam juntas dentro de uma mesma casa, vigiadas por câmeras durante as 24 horas do dia. O nome da atração é uma referência ao livro “1984”, escrito em 1948 por George Orwell, no qual o Big Brother – ou Grande Irmão – é o ditador que tudo vê na distópica Oceania. Representado pela figura de um homem que provavelmente não existe, mas que vigia toda a população através das chamadas “teletelas”, ele governa de forma despótica e manipula a forma de pensar dos habitantes. Curioso também notar que, assim como no livro, quando os participantes do BBB veem a imagem do apresentador na tela, saúdam-no da mesma forma que os habitantes da Oceania fazem com o Grande Irmão.

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Mas por que o programa gera tanta repercussão aqui no Brasil, mesmo duas décadas depois de sua estreia? Segundo comunicado oficial do Twitter, divulgado em dezembro, um levantamento da plataforma mostrou que o BBB20 bateu todos os recordes em tweets no ano, com mais de 278 milhões de menções. O número é 10 vezes maior que o registrado em 2019. A audiência também bombou: a final, em 27 de abril, registrou os melhores números desde 2010, com picos de 34 pontos no Ibope da Grande São Paulo. A média durante a temporada ficou em 26 pontos. De acordo com a Rede Globo, houve crescimento do público jovem: entre adolescentes de 12 a 17 anos, aumentou 36%, e entre adultos de 18 a 24 anos, 38%. No total, o programa alcançou 168,5 milhões de espectadores por meio do canal aberto e do Multishow. No décimo paredão, houve a maior participação popular do programa e de reality shows no mundo, com mais de 1 bilhão e 500 milhões de votos na disputa entre Felipe Prior, Manu Gavassi e Mari Gonzalez. A votação entrou pro livro dos recordes como “a maior quantidade de votos do público conseguidos por um programa de televisão”. É claro que, em 2020, a pandemia que provocou o isolamento, com mais pessoas em casa e na frente da televisão, deu uma mãozinha. No entanto, para especialistas, há outros fatores em jogo para fazer do programa um campeão de audiência.

“É um formato que mexe com nossa curiosidade de saber da vida alheia. As pessoas em geral projetam seus sentimentos, problemas e conflitos no outro, como uma espécie de fuga momentânea, e esse formato possibilita isso. Mas também existe um certo voyeurismo, uma curiosidade sobre a intimidade do outro, além da espetacularização da vida alheia, diferente de uma novela, por exemplo”, observa a antropóloga Maria Cristina Neves. “Na novela são todos atores e atrizes, tudo tem um roteiro. Ali são pessoas comuns, gente como a gente, ao vivo, lidando com o imprevisível. Ficamos curiosos em saber o que vai acontecer. Quase ninguém admite o interesse pela vida alheia, mas ele existe. E com participantes famosos entre os anônimos, isso cresce consideravelmente”, completa, citando a novidade inserida na última temporada. Em 2020, passaram a fazer parte do BBB rostos conhecidos do público, principalmente na internet, como influencers e youtubers. Nesta edição, o cantor Fiuk – filho de Fábio Jr. – e a atriz Carla Diaz – a Khadija, da novela “O Clone”, uma menina que sonhava com um marido rico que a “enchesse de ouro” – estão entre os mais famosos.

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Outro componente que prende a audiência, na opinião da psicóloga Maria Rita Moraes, está em nossos defeitos. “Tem falar mal dos outros, tem atrito, fofoca, barraco. O sucesso se conecta muito aos nossos, digamos, defeitos. O ser humano acaba se interessando por esses fatos negativos, assim como fazem sucesso os programas policiais, repletos de crimes bárbaros. Aí vem a dualidade do bem e do mal, com o telespectador se colocando no lugar do outro. Ele se imagina parecido com aquela pessoa do bem e vítima daquela que é considerada do mal. Ou seja, o reality show tem vários elementos do nosso cotidiano real e que, na tela, prendem nossa atenção, geram uma sensação de amor e ódio”, sugere Moraes, complementando que a identificação e a empatia são chaves para o sucesso do programa. “Você torce para determinado casal se formar, há torcidas organizadas de alguns participantes mais queridos. As pessoas querem participar de alguma forma e esquecer, mesmo que por um tempo, os problemas e dificuldades pessoais”, observa a psicóloga.

As primeiras reações à nova temporada mostram que o engajamento do público segue grande. Em apenas uma semana, uma série de polêmicas já explodiram, com brigas, choros, cancelamentos e uma primeira eliminação com alta rejeição – Kerline foi embora com 83,5% dos votos. O maior debate nas redes sociais envolveu a cantora curitibana Karol Conká, que nos últimos dias atacou Lucas Penteado. Revoltada com as atitudes do ator em uma das festas, ela o xingou diversas vezes e tentou isolá-lo. No “Jogo da Discórdia”, chamou o participante de “abusador”. Nos trend topics do Twitter, internautas pediram a expulsão dela por “tortura psicológica” contra Lucas. Ela também foi criticada por satirizar o sotaque paraibano da participante Juliette Freire. Até artistas como Emicida e Anitta se posicionaram contra as atitudes da rapper. Diante da repercussão negativa, o canal GNT desistiu de exibir na TV o programa “Prazer, feminino”, apresentado por ela e Marcela McGowan. Já o Festival Rec-Beat resolveu cancelar a exibição do show pré-gravado da cantora, previsto para ser exibido no próximo dia 14.

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Sucesso no mundo e no Paraná

Exportado mundo afora, formato do programa conquistou a audiência e, aqui, contou até com participantes londrinenses

Desde 16 de setembro de 1999, quando o canal holandês Veronica TV passou a exibir o primeiro “Big Brother”, foram realizadas 493 temporadas em 75 países de todos os continentes, sempre com particularidades específicas. Na terceira edição do reality show na Bulgária, por exemplo, o formato contou com as trigêmeas Vyara, Nadejda e Lyubov. Elas tinham uma missão: enganar os outros participantes. Para dar certo, a produção criou um quarto secreto dentro da casa, onde as irmãs se comunicavam entre si e uma delas se infiltrava no jogo, de forma alternada. No final, Lyubov acabou levando o prêmio.

As pegadinhas são comuns também no Reino Unido. Na quinta edição do programa, os diretores acirraram os ânimos com eliminações falsas. Os participantes saíam da casa principal mas continuavam confinados em uma outra casa. Por lá, a versão com celebridades faz mais sucesso do que a original, com desconhecidos. Também na terra da rainha foi criada a versão teen do programa, em que os participantes eram adolescentes e ficaram 10 dias confinados. Os filipinos gostaram da ideia e fizeram três temporadas com jovens com menos de 18 anos.

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Sascha Sirtl foi o grande campeão do formato pelo mundo. Ele participou da quinta edição na Alemanha, que durou surpreendentes 365 dias e teve 59 participantes. Quatro temporadas depois, ele foi convidado para a nona edição e ficou confinado por mais 120 dias. A edição mais longa no Brasil foi a do ano passado, com 98 dias de duração – bem mais do que os 64 dias do BBB1.

Outra curiosidade é que quando estreou, o programa não tinha o famoso termo “paredão”, como é chamada a disputa sobre quem vai deixar o jogo. O nome só foi incorporado pela Globo após o participante Adriano Castro ter dado a sugestão de forma despretensiosa, em uma das conversas ao vivo com Pedro Bial. A marca pegou e hoje é sinônimo de formatos do gênero no Brasil.

Uma nota triste é que Edílson Buba, André Almeida, mais conhecido como Caubói, e Norberto Santos, o Nonô, faleceram anos depois de participarem do BBB. E entre os participantes, destaque para vários paranaenses, como Helena Louro, Kaysar Dadour, Wagner Santiago, Andressa Ganacin, Tatiele Polyana, Diego Wantowsky, Eliéser Ambrósio, Cezar Lima e Tessália. Londrina esteve representada com Emílio Zagaia (BBB3), Marcela de Mello (BBB4) e Dicesar Ferreira (BBB10). E a mais famosa do Estado é, sem dúvida, Grazi Massafera, de Jacarezinho, vice-campeã do BBB5.

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