Imagem ilustrativa da imagem Documentário que mostra explosão de bomba reforça discussões sobre tratados de armas
| Foto: Reprodução/Vídeo Governo Russo

Um clarão iluminou o céu na ilha de Nova Zembla, no Oceano Ártico, em 30 de outubro de 1961. O fenômeno pôde ser visto a mais de mil quilômetros de distância, mas não foi natural. Era decorrência da explosão da bomba nuclear mais poderosa já disparada no mundo. Criada pela Rússia, a “Tsar Bomba” é considerada, até hoje, a mais potente, com força 1.500 vezes maior do que as armas lançadas pelos Estados Unidos em Hiroshima e Nagasaki juntas. As imagens só foram reveladas na última semana, em um documentário apresentado pela agência estatal atômica russa e disponível no Youtube.

Imagem ilustrativa da imagem Documentário que mostra explosão de bomba reforça discussões sobre tratados de armas
| Foto: Reprodução/Video Governo Russo

Com força de mais de 50 milhões de toneladas de TNT, ela pesava 27 toneladas, tinha 8 metros de altura e 2,6 metros de diâmetro. Difícil de ser transportada, acredita-se que tenha sido usada apenas como uma espécie de propaganda do poder bélico da antiga União Soviética, durante o período da Guerra Fria.

A “Tsar Bomba” pesava 27 toneladas, tinha 8 metros de altura e 2,6 metros de diâmetro
A “Tsar Bomba” pesava 27 toneladas, tinha 8 metros de altura e 2,6 metros de diâmetro | Foto: Reprodução/Video Governo Russo

As imagens entraram em cena dias depois da data que marcou os 75 anos do ataque americano ao Japão, cujas feridas resistem até hoje. O país foi o primeiro e único a alvejar um inimigo com uma arma nuclear. Muito se passou desde aquela época, no entanto a dúvida sobre como garantir que nenhum país volte a usar armas atômicas novamente ainda persiste. No próximo mês de fevereiro, chega ao fim o “Novo Start”, assinado em 2010 pelos então presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da Rússia, Dmitri Medvedev. O acordo substituiu pactos anteriores e impôs medidas mais rígidas de controles de arsenais. O número máximo de ogivas operacionais, por exemplo, caiu para 1.550.

Barack Obama
Barack Obama | Foto: Jose Orihuela / APEC 2016 Peru/FotosPublicas.com

Para ser ter uma ideia, norte-americanos e soviéticos somavam quase 60 mil ogivas na década de 1980, auge da disputa armamentista entre os dois países. Além disso, cada nação pode manter até 700 mísseis intercontinentais, pelos termos do documento.

Dmitri Medvedev
Dmitri Medvedev | Foto: Romério Cunha/VPR

A discussão sobre a renovação do acordo segue, mas tem desfecho incerto. A expectativa é grande, já que o governo de Donald Trump deixou, em agosto do ano passado, o “Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermediário”, que bania mísseis com capacidade de levar ogivas atômicas com alcance entre 500 e 5.500 quilômetros. A justificativa foi que os russos estavam descumprindo o pacto, assinado também em 2010. A mesma alegação foi dada pelos norte-americanos no anúncio da saída do “Tratado de Céus Abertos”, no último mês de maio, que permitia voos de reconhecimento sobre os países signatários e tinha como ponto principal a transparência sobre operações militares.

Eleições americanas darão o tom das negociações sobre acordo nuclear

Joe Biden
Joe Biden | Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP

Nas primeiras rodadas de negociação para renovação do acordo “Novo Start”, os Estados Unidos exigiram que a China também fizesse parte do pacto. Os asiáticos foram convidados para as reuniões, mas não enviaram representantes – um claro sinal de que não havia intenção alguma de se juntar a um acordo ampliado que tem o objetivo de garantir que nenhum país volte a usar armas atômicas.

Donald Trump
Donald Trump | Foto: AFP / MANDEL NGAN

Desde a década de 1950, os chineses possuem tecnologia para produzir armas nucleares e são acusados de pouca transparência sobre as atividades no setor. Sempre em guerra comercial e verbal com a China, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump arrastou os orientais para a discussão. Mas, no mês passado, os Estados Unidos abriram mão da exigência, o que poderia sinalizar um final feliz para a questão. Mas a esperança durou pouco, com o anúncio das novas contrapartidas exigidas dos russos, como a imposição de incluir no novo documento ogivas disparadas por mísseis de alcance menor e o aumento da rigidez das inspeções mútuas de arsenais. Entre os especialistas, os pontos são de difícil aceitação por parte do presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Se o governo de Donald Trump em momento algum se mostrou defensor de mecanismos internacionais de controles de arsenais, uma vitória do candidato democrata Joe Biden, nas eleições presidenciais de novembro, pode mudar radicalmente o debate. Ex-vice de Barack Obama, ele já afirmou que, caso vença, vai “trabalhar em prol de um mundo sem armas nucleares”. Com críticas ao adversário republicano, Biden afirmou que Trump vem enfraquecendo ou abandonando sistematicamente diversos acordos internacionais, sem se preocupar com as consequências ou com planos para substituição dos tratados. “Vou trabalhar no sentido de trazer todos para mais perto de um mundo sem armas nucleares, para que os horrores de Hiroshima e Nagasaki jamais se repitam”, anunciou o democrata.

“Trump é armamentista e constantemente avesso à diálogos, enquanto Biden sempre se mostrou mais conciliador e um crítico de armas nucleares. Uma vitória do democrata sem dúvidas provocaria uma virada em 360 graus na discussão, mas é difícil afirmar com clareza qual desfecho poderia haver, já que, além do perfil do ocupante da Casa Branca, há várias outras questões políticas, econômicas e de poder envolvidas como fatores de pressão nesse debate”, avalia o cientista político Carlos Rosa, de Curitiba, lembrando que Obama, vencedor do Nobel da Paz, ironicamente foi o primeiro presidente dos Estados Unidos a estar em guerra durante todos os dias de seu governo. “Não há dúvidas de que isso foi a última coisa que ele pensou ou quis como presidente, mas não houve como fugir das circunstâncias. Portanto, o papel de Biden na discussão das armas também é uma incógnita”, complementa Carlos.

George W. Bush passou pelos primeiros meses de mandato sem guerras, até ocorrer os ataques de 11 de setembro de 2001.. Bill Clinton teve oito anos sem conflitos. Já Obama assumiu o cargo em 20 de janeiro de 2009 herdando dois conflitos, no Iraque e no Afeganistão. Nem mesmo Franklin Roosevelt, presidente norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial, passou tanto tempo em guerra. “Não trago comigo hoje a solução definitiva para o problema da guerra. Há de se aceitar a dura realidade. Não encerraremos nunca o conflito violento em nossas vidas”, discursou Obama ao receber o Nobel, em dezembro de 2009.

Após o vídeo da bomba russa de 1961 e dos 75 anos de Hiroshima e Nagasaki, o mundo espera com tensão um acordo das grandes potências sobre novos tratados, torcendo para que “os conflitos violentos em nossas vidas”, citados por Obama, não envolvam novos ataques nucleares. (Com agências)

Grandes bombas nucleares da história

1 — Bomba Tsar

Bomba Tsar
Bomba Tsar | Foto: Reprodução/Vídeo Governo Russo

Detonada pela União Soviética em Nova Zembla, arquipélago no Oceano Ártico, em 30 de outubro de 1961. Maior arma nuclear já testada, teve 57 megatons de potência – o dobro da segunda colocada. Quebrou janelas a 900 quilômetros de distância e a luz da explosão pôde ser vista a mais de 1.000 quilômetros do ponto de detonação.

2 — Teste soviético 219

Em mais uma demonstração do poder bélico da então União Soviética, outro teste na ilha de Nova Zembla. A bomba teve potência de 24,2 megatons, algo capaz de incinerar tudo dentro de 5,7 km², causando ainda queimaduras de terceiro grau em qualquer pessoa presente em até 3.620 km² de distância.

3 — Castle Bravo

Em 28 de fevereiro de 1954, os Estados Unidos detonaram uma grande explosão nuclear nas Ilhas Marshall. Prevista para 6 megatons, o artefato acabou atingindo potência de fissão de 15 megatons, o que formou uma nuvem de cogumelo de 34 quilômetros no ar. O erro de cálculo causou a irradiação em mais de 600 habitantes da região, além da morte de um pescador que estava a 128 quilômetros de distância dali.

5 — Castle Yankee

Três meses depois da Castle Bravo, o teste com a Castle Yankee foi realizado em 4 de maio de 1954. A previsão inicial era de 6 a 10 megatons, no entanto alcançou 13,5. Quatro dias após a detonação, houve impactos na Cidade do México, situada a mais de 11 mil quilômetros de distância do Atol de Bikini, local da explosão.

6 — Little Boy e Fatman

Fatman
Fatman | Foto: U.S. Department of Defense/wikimedia.org/Dominio Publico

São os nomes dados às duas bombas norte-americanas que destruíram, respectivamente, Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945. “Little Boy” tinha 60 quilos de urânio 235 e poder destrutivo de 13 mil toneladas de explosivos. Não chegou a tocar o chão da cidade, explodindo a 617 metros do solo. A temperatura chegou a 5,5 milhões de graus centígrados no epicentro da explosão. Tudo o que existia num raio de 500 metros foi incinerado, e quase todas as pessoas que estavam a um raio de 800 metros morreram. “Fatman” foi detonada a uma altitude de cerca de 550 metros sobre a cidade de Nagasaki e tinha 2,34 metros de comprimento, 1,52 metro de diâmetro, pesava 4.545 quilos. Embora mais potente que a “Little Boy” - 21 kilotons - os danos foram menores e menos extensivos, pois as condições climáticas de Nagasaki no dia estavam desfavoráveis. Com isso, ela caiu em um vale ao lado da cidade. Como o terreno da região é montanhoso, parte da carga energética da explosão foi contida. Ainda assim, cerca de 40 mil pessoas morreram e mais de 25 mil ficaram feridas, além de milhares de vítimas registradas nos anos posteriores ao ataque, devido à doenças causadas pela radiação.

Little Boy
Little Boy | Foto: US government/wikimedia.org/Dominio Publico

Fonte: Federation of American Scientists