O dia 28 de fevereiro deste ano é a data nacional para se comemorar o Dia da Ressaca. Embora ainda não seja muito popular no Brasil, é compreensível que a data aconteça após uma das festas mais populares do País, o Carnaval, que com origem em festas pagãs como o purim, judaico, e as saturnálias e as saceias, babilônicas fomenta casos de ressaca há centenas de anos. Na Roma Antiga, por exemplo, eram realizadas festas em homenagem ao deus do vinho e da embriaguez, Baco (conhecido pelos gregos como Dionísio) cuja fama se conhece até os dias de hoje. E, como essas antigas celebrações, as festas contemporâneas são regadas a álcool. Seja a bebida fermentada ou destilada, na embriaguez aflora as sensações de alegria, mesmo que sejam descabidas; a repressão e a censura se diluem e então sobra a liberdade de atitudes críticas e eróticas. E desde que a pessoa alcoolizada não dirija, não cometa crime algum, vez ou outra passar da dose recomendada não lhe fará mal. O que não pode ocorrer é incorporar a personagem das histórias em quadrinhos Rê Bordosa, criada pelo cartunista Angeli, e que ficou popularizada por estar em permanente ressaca.

Imagem ilustrativa da imagem Depois do exagero vem a ressaca e as suas histórias

O caso é que, a ingestão de álcool em excesso pode causar graves problemas de saúde e é socialmente condenável, mas rende boas histórias e situações para lá de cômicas no dia seguinte, quando a memória não se apaga. A representante comercial Paula Ribeiro, por exemplo, certa vez acordou com um sapato masculino em suas mãos e não tinha a menor ideia de onde ele havia aparecido. Ela chegou a publicar a fotografia do objeto em suas redes sociais de tão insólita que foi a experiência, e também foi uma tentativa de tentar obter pistas sobre o que havia ocorrido. “Já tive noites doidas. Já tive noites insanas. Mas em 36 anos de vida jamais tinha acordado abraçada em uma caixa de sapatos masculinos que eu não faço ideia de onde vieram”, dizia a legenda da foto. “Era um sapato masculino gigante, bem feioso. Eu fiquei a manhã inteira tentando descobrir. Tentei achar algum ‘Cinderelo’, mas não achei.” Somente depois de muito tempo descobriu que os sapatos foram entregues pelo porteiro. “Ele apareceu no meu apartamento, porque precisava entregar os sapatos, que na verdade eram para a pessoa do andar debaixo do meu”, diverte-se. O pacote estava embrulhado para presente. “Eu não acordei, mas me levantei. Fui até a porta, mas como eu estava seminua, ele disse que me viu e entregou o pacote sem falar nada. Eu peguei o pacote, abri, peguei o sapato e dormi abraçada com ele”, expõe. Ela não se lembra de nada disso e ficou intrigada até que o porteiro contar sobre a entrega do pacote.

A representante comercial Paula Ribeiro acordou com o sapato do "Cinderelo" na mão, "Eu lembro de nada"
A representante comercial Paula Ribeiro acordou com o sapato do "Cinderelo" na mão, "Eu lembro de nada" | Foto: Vítor Ogawa

Outro fato envolvendo a representante comercial ocorreu depois de uma ida a um bar na rua Paranaguá. Ela havia estacionado o carro em frente a uma padaria, mas depois de beber muito, resolveu deixar o carro por lá. Quando acordou de ressaca no dia seguinte foi buscá-lo, mas não achou o veículo. “Na época eu morava na rua São Paulo. Tive de ir a pé até a rua Goiás com a Paranaguá. Quando cheguei lá, achei que tinham roubado o carro, porque ele não estava mais lá. O pessoal da padaria queria que eu fizesse um boletim de ocorrência, mas eu quis ir para casa pensar no que fazer. Pedi para o dono da padaria para ver as imagens da câmera de segurança para tentar identificar quem tinha assaltado o meu carro. Quando vi as imagens descobri que quem tinha roubado o carro tinha sido eu. Na verdade, eu tinha entregado as chaves para uma amiga, que trouxe o carro para a minha garagem. Eu não voltei mais na padaria de vergonha.”

DORMI NA PRAÇA

Para a vendedora Bruna Medeiros, 32, a pior ressaca ocorreu quando tinha 17 anos, ao sair com um casal de amigos e uma outra amiga. “Em plena quarta-feira começamos a tomar vodca com Coca-Cola em uma praça do Jardim Santa Rita. Tomamos a primeira garrafa e todos estávamos bem. Fomos comprar mais uma, tomamos a segunda garrafa ainda gelada. Não contentes fomos comprar a terceira garrafa e isso já era 3 horas da manhã. Tomamos um copo cada um e nós quatro dormimos na praça.” Ela acordou com o movimento de várias pessoas indo trabalhar, e de estudantes descendo para os colégios. “Vários passaram pela gente cantando a música ‘Dormi na praça’ do Bruno e Marrone”, relembra. “Faz 13 anos que isso aconteceu e até hoje não posso nem sentir cheiro de vodca.” Ela conta que devido aos sintomas da ressaca, os quatro não conseguiam se levantar, mesmo com toda essa movimentação. “Muitos riam e outros perguntavam se queríamos mais uma garrafa de vodca, porque eles viam as garrafas vazias jogadas ao nosso lado”, recorda.

ESPETINHO NA CAMA

Muitas vezes o álcool faz as pessoas ficarem sonolentas e dormirem feito ‘anjinhos’, mesmo que estejam no meio de uma atividade. O auxiliar de distribuição Lucas Mateus Gomes Alves, 20, certa vez estava tão bêbado que dormiu segurando um espetinho de churrasco que estava comendo. “Quando acordei a cama estava toda suja de espetinho. Eu nem sei o que pensei. Só coloquei para lavar os lençóis e ficou tudo bem.” Ele conta que não teve apagão na memória sobre esse episódio. “Eu me lembro de tudo isso. Meus amigos tiram sarro até hoje”, ri. Essa sonolência também atingiu um jornalista quando estava reunido com amigos em um posto de combustíveis. Diogo Ribeiro, nome fictício, pessoa real, adormeceu em pé enquanto conversava com os amigos e quando se desequilibrou acabou se agarrando a uma lixeira para permanecer em pé, mas a lixeira acabou caindo. Ainda assustado, foi interpelado pelo frentista, que perguntou em tom jocoso. “Dormiu, rapaz?”, e o jornalista só respondeu com um singelo “Ô!”.

Outro caso envolvendo pessoa desacordada em função do álcool foi do estudante de economia Paulo da Matta, nome fictício, pessoa real. Depois de exagerar no álcool, ele foi dormir no seu antigo quarto, na casa de seus pais, no entanto ele acabou acordando no quarto de sua avó totalmente pelado, para desespero da cuidadora de sua avó, que o viu como ele veio ao mundo.

O publicitário Diego Henrique Ferreira, 32, estava entre os foliões que curtiu o Bloco Bafo Quente na tarde de domingo (23). Sua experiência de ressaca, ocorreu quando ainda era bem novo. “Foi meu primeiro porre. Aconteceu no ano novo, quando misturei cerveja, champanhe e uísque, mas acho que foi mais pelo excesso de consumo do que a mistura em si”, calcula. “Isso aconteceu há 13 anos, eu tinha uns 19 anos. Eu apaguei e não me lembro de nada. A única coisa que me lembro é que andei de carro com a cabeça para fora para não vomitar no interior. Minha irmã teve que me dar banho, porque eu estava desacordado”, destaca.

O publicitário Diego Henrique Ferreira teve seu primeiro porre aos 19 anos, "Não me lembro de nada"
O publicitário Diego Henrique Ferreira teve seu primeiro porre aos 19 anos, "Não me lembro de nada" | Foto: Vítor Ogawa

O analista de negócios Lucas da Silva, 24, saiu com um amigo para uma rodada de bebidas. No retorno da bebedeira acabou se hospedando na casa dele. “Como a irmã de meu amigo estava viajando, acabei dormindo na cama dela. Claro que fiz sujeira, mas fazer o quê. Faz parte. Fiquei pensando, que mancada! A gente arrumou a cama e limpou tudo. Até hoje ela não sabe disso” - não sabia. “Mas o porre mais incrível, aconteceu com um amigo meu. Ele ficou de ressaca e largaram ele na calçada. Ele passou o dia inteiro lá e ficou com a cara toda queimada do sol”, relembra.

ARRASANDO, SÓ QUE NÃO!

A palavra “ressaca” tem a sua origem no espanhol “resaca”, que significa “fluxo e refluxo do mar (ondas)”. Quanto ao sentido de mal-estar provocado por excessos alcoólicos, a comparação é com a ‘volta’ da onda, que no caso é a bebida. Na internet afloram vídeos de pessoas de pileque que acham que estão “arrasando”, ou seja, acreditam piamente que estão tendo êxito em algo enquanto bêbados. Nesse estado de euforia as pessoas acham que são exímios dançarinos, ficam convictas que contam as piadas mais engraçadas, e há pessoas que se enveredam pela arte da paquera sem os freios da timidez do dia a dia. Na maioria das vezes os resultados são desastrosos, embora um ou outro relato bem sucedido possa acontecer.

É natural que a visão de uma pessoa entorpecida pela bebida acerca de seu comportamento quando embriagada raramente coincida com a opinião da pessoa que a acompanha. Uma hipótese é a de que o estado de euforia possa induzir as pessoas embriagadas a pintar um retrato mais favorável delas mesmas do que realmente enxergam os olhos de quem está ao lado. É nessa hora que surgem os piores vexames, dos quais as pessoas sofrem na ressaca moral.

O sujeito alcoolizado parte do desinibido e alegre para o chato e inconveniente em poucas doses. Logo descamba para o agressivo ou violento e finaliza para o estado tristonho e depressivo. Em alguns indivíduos só um ou outro desses estados emocionais vêm à tona. Mas é quase certo que ao final vem a ressaca.

Acordar depois de uma bebedeira envolve a superação de todos os sintomas ruins da embriaguez. Normalmente o despertar após “enfiar o pé na jaca” ocorre pela necessidade de ir ao banheiro para eliminar o excesso de álcool consumido. A ressaca é o jeito que o organismo se recupera da ingestão exagerada de álcool. Ela é caracterizada pelo mal estar, a náusea, o estômago irritado, a boca seca, a sensibilidade à luz, o corpo dolorido e as dores de cabeça. As náuseas são produto da irritação no intestino e do estímulo para maior produção dos ácidos digestivos. A boca seca é fruto da desidratação. Já as dores de cabeça ocorrem porque as bebidas alcoólicas contêm substâncias que dilatam os vasos sanguíneos. Seja como for, quem passa por uma ressaca sabe que é ruim. Mas pelo menos os momentos que antecedem esse estado são repletos de boas histórias.

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CONHEÇA A PERSONAGEM RÊ BORDOSA :