Após as chuvas dos últimos dias, moradores de Londrina e região relataram o surgimento de uma numerosa população de grandes formigas voadoras que, por vezes, passavam de um centímetro de comprimento. Aqueles que não conheciam a Saúva Limão, espécie da tal formiga, podem ter estranhado sua presença, mas saiba que o inseto é inofensivo. Quem apresenta o animal para a Folha de Londrina é o professor de agronomia na Universidade Estadual de Londrina e doutor em Entomologia (estudo de insetos) Amarildo Pasini.

Imagem ilustrativa da imagem De onde vem tanta formiga?
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Pasini explica que as saúvas são formigas que, como outros insetos, habitam embaixo da terra. Com as chuvas, elas saem do solo úmido anualmente para se reproduzir. Acontece que, esse ano, as chuvas demoraram a vir, e a revoada que costuma acontecer em setembro e outubro ficou para novembro. Mas por que há tantas formigas por aqui?

O doutor ressalta que há 15 anos, não havia saúvas em Londrina. Acreditava-se que o solo argiloso e pesado impedia o trabalho da formiga. “A propaganda que existia na época era: Venha para o Norte do Paraná, onde saúvas não há”, lembra Pasini. A ausência delas seria um atrativo para produtores de Minas Gerais e São Paulo, pois a espécie é “cortadeira”, destrói folhas na lavoura. Mas o doutor conta que “todo inseto é altamente adaptável a variações de condições climáticas e de ambiente. É a adaptação natural dele”. E foi isso o que ocorreu: com a construção de estradas e uso de agrotóxicos, as formigas se adaptaram para procurar novas áreas para expandir sua colônia, até chegar ao Norte do Paraná e, nos últimos anos, ao meio urbano.

Para quem não gosta da presença das formigas, não tem por que se incomodar por muito tempo. As revoadas duram poucos dias e em breve as formigas já terão desaparecido. Após acasalarem, “grande parte dos machos já morrem e a rainha vai para o solo procurar terra para escavar. O pessoal não precisa se apavorar porque se ela caiu no solo, naturalmente, oito horas depois ela já vai se enterrar” – explica o professor. Além disso, muitas das formigas são pegas por predadores naturais, como sapos e pássaros.

Não há razão para ter medo das pequenas, pois a Saúva Limão não é venenosa e nem tem ferrão. A espécie é dócil, não vai atacar uma pessoa e Pasini afirma que “quando ela vê algum agente que possa lhe causar prejuízo ela tenta se esconder”. Se houver muitas delas na sua casa, é recomendável que as varra para a terra, onde elas irão se enterrar e poderão viver por até 15 ou 20 anos. Mas evite pegá-las com as mãos ou pisar em cima delas. Apesar de não serem agressivas, as saúvas mordem como mecanismo de defesa caso se sintam ameaçadas. E, por serem cortadeiras, têm a mordida afiada que pode cortar a pele. Também não é necessário o uso de venenos contra elas pois, em poucas horas, já estarão de volta ao subsolo.

Uma curiosidade é que os povos indígenas brasileiros sempre conviveram bem com as saúvas e até mesmo se alimentam delas, hábito que se popularizou na região sudeste dado a riqueza de proteínas que elas fornecem.

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*Supervisão de Patrícia Maria Alves (editora)