O Brasil é o quinto país do mundo com mais usuários ativos de internet, ficando atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia. Mas, de acordo com o instituto de pesquisas Ipsos, é o segundo com mais casos de cyberbullying, termo que caracteriza ataques agressivos no ambiente virtual. A Índia novamente ocupa o primeiro lugar.

Um estudo recém-lançado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) aponta que, entre estudantes de 11 a 17 anos, os casos são mais frequentes nas escolas particulares. A pesquisa avaliou quase 3,5 mil alunos de São Paulo, sendo 1.991 pertencentes à rede pública e 1.478 à rede privada, a fim de mapear agressões virtuais. Foi possível detectar casos que vão desde mensagens ofensivas e chantagem à criação de páginas falsas para atacar alguém.

Foram apresentados aos alunos 15 exemplos de ações classificadas como intimidadoras. Em formato de questionário, o estudante respondia se, nos últimos três meses, havia testemunhado algum comportamento semelhante, sido alvo ou mesmo o autor dos ataques. A análise mostrou que, em primeiro lugar, esteve a ação de "enviar mensagens ofensivas", seguida de "excluir uma pessoa, sem que ela queira, de uma rede social ou grupo porque não gosta dela", "ameaçar alguém por meio de mensagens na internet, nas redes sociais ou em situações de jogos online" e "insultar ou zoar alguém por conta do seu corpo físico". O resultado revela maior prevalência de cyberagressões praticadas por alunos de escolas particulares em 11 das 15 situações pesquisadas.

Para a especialista em transformação digital do Colégio Marista de Brasília, Larissa Victorio, o primeiro passo é aceitar que o bullying e o cyberbullying são um problema para, em um segundo momento, identificar os envolvidos e as ações. A especialista explica que, nesses casos de agressão, sempre há três grupos envolvidos: o das crianças e jovens que sofrem a violência - e muitas vezes calam; o dos agressores - aqueles que postam as mensagens agressivas, excluem um colega de um grupo, tiram fotos sem permissão e postam, criam perfis falsos para ofender; e o dos incentivadores - aqueles que não executam as ações violentas, mas incentivam esse tipo de comportamento em um grupo.

“É muito importante que os gestores da escola identifiquem esses grupos e as pessoas que fazem parte deles. Feita essa identificação, são necessárias medidas para cada um desses grupo: conversas, sanções disciplinares e acolhimento das vítimas, envolvendo sempre as famílias, parceiros essenciais nesses casos. As ações devem ser preventivas para evitar um mal maior e devem acontecer na escola, mas sobretudo devem continuar em casa”, explica Larissa.

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CIDADANIA DIGITAL

Ainda segundo a especialista, um dos grandes problemas da comunidade escolar na atualidade é a não aceitação das diferenças. “A escola e os pais devem transmitir às crianças que faz parte ser diferente, não termos os mesmos corpos físicos, a mesma forma de falar e de se expressar e que todos devem ser tratados com respeito”, diz.

Como as agressões fazem parte de um comportamento, a especialista explica que é necessário que a escola e os pais trabalhem nas crianças e jovens os comportamentos de respeito coletivo, empatia e como lidar com as diferenças. “A escola e os pais, em casa, devem explicar às crianças e jovens o conceito de cidadania digital: os direitos e deveres de fazer parte de um ambiente virtual. Percebo que muitas vezes, os alunos não têm noção real de como suas ações nas redes sociais podem afetar os colegas. Porque quando ofendemos alguém presencialmente, vemos o rosto e as reações do outro e isso nos inibe. Virtualmente podemos nos sentir mais “protegidos” das reações do outro; a responsabilidade fica mais desumanizada. Precisamos ensinar os nossos pequenos e jovens a serem cidadãos digitais”, afirma a especialista do Colégio Marista de Brasília.

Na escola, segundo a especialista, o acesso à internet deve ser controlado e monitorado. Em casa, Larissa também recomenda que os pais tenham muita atenção com a forma que seus filhos interagem no mundo virtual. “Os pais devem controlar o acesso a conteúdos impróprios para idade, restringir o acesso à rede Wi-Fi de forma indiscriminada, controlar também o tempo de utilização - conforme a idade, mantendo sempre um diálogo aberto e reforçando a necessidade de transitar nesse mundo de forma empática, respeitosa e de forma cidadã", indica.

5 DICAS PARA PREVENIR O CYBERBULLYING ENTRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

- Acompanhe de perto o que seu filho vê na internet e como ele interage;

- Controle tempo de utilização e acessos a conteúdos impróprios;

- Mantenha o diálogo aberto e entenda com quem ele se relaciona;

- Participe da vida escolar do seu filho;

- Ensine e reforce a importância de ser um cidadão digital: com direitos e deveres de interação no mundo virtual.

(Com assessoria de imprensa)