Cada vez mais comum os chamados ‘Avisos de Gatilho” (Trigger Warning, em inglês) são vistos no início de séries, filmes e até mesmo textos em páginas da internet. Para quem nunca passou por um trauma do tipo o alerta pode parecer exagerado, mas segundo a psicológa Névia Rocha, que trabalha com vítimas de violência, esses alertas são extremamente importantes. “Quando a pessoa vê a cena ela revive aquela situação. É algo forte, ela não consegue superar e isso pode causar sintomas como crise de ansiedade e ataques de pânico”, diz ela.

O objetivo desses alertas é prevenir os expectadores e leitores sobre conteúdo de violência explicita entre outros fatores que podem liberar um gatilho emocional em pessoas sensíveis ou que vivenciaram algum trauma. Marcos Garcia, professor e coordenador do curso de Psicologia da PUCPR - Campus Londrina explica que o termo gatilho emocional se dá a determinadas situações que quando vivenciadas remetem a uma experiência do passado e provocam respostas indesejadas no presente momento. Segundo ele, não existe uma regra clara para que esses gatilhos ocorram, já que cada um tem um nível de sensibilidade diferente.

Aviso de gatilho para conteúdo explícito
Aviso de gatilho para conteúdo explícito | Foto: Reprodução

Para o especialista, entretanto, esses alertas podem privar as pessoas do desenvolvimento do instinto de fuga/esquiva natural à sobrevivência e deixar de ensinar o corpo a responder a situações de perigo de forma natural. A saída, então, seria enfrentar situações e ensinar o corpo que o perigo não é tão grande, porém, o processo não é simples. Tanto a psicóloga Névia Rocha e o professor Marcos Garcia alertam, no entanto, que a decisão de encarar esse trauma, essa dor, deve ser acompanhada de um profissional de confiança.

“Muitos tentam e não suportam a 'dor' do que sente, o que irá mais prejudicar do que ajudar. Mas, a ideia é que nos tornamos mais sensíveis ao passo que evitamos determinadas situações, e ao evitar deixamos de ensinar para nosso corpo que é normal sentir ansiedade, medo, alegria, paixão. Quando digo normal, digo que nosso corpo simplesmente sente, ele é feito para isso. Os gatilhos parecem não ter lógica, mas têm, e é em terapia que são descobertos, e a descoberta possibilita encontrar caminhos para a mudança. Não é uma questão de esquecer ou recuperar o trauma, é uma questão de saber viver bem com nossos fantasmas”, destaca Garcia.

AVISO DE GATILHO

EUPHORIA (2019)

A aclamada série da HBO mostra os conflitos de adolescentes em um mundo regado à drogas, sexo, abandono afetivo e violência doméstica. A personagem principal, Rue Bennett, interpretada pela atriz e modelo Zendaya é viciada em drogas. Antes da estreia a atriz colocou um aviso de gatilho em seu Instagram. “'Euphoria' é para uma audiência madura."

DESAFIO DA MOMO (2018)

O desafio começou as se espalhar em 2018, pelo WhatsApp, em diversos países. Usando a imagem da escultura “Mãe Pássaro”, criada pelo artista plástico japonês Keisuke Aiso. O suposto jogo pedia que crianças machucassem a si e a outros. Neste ano o assunto voltou à tona depois que boatos davam conta que a imagem estaria sendo inserida em vídeos infantis.

ALERTA PODEROSO - Elenco de '13 Reasos Why' faz vídeo que alerta sobre os gatilhos na série
ALERTA PODEROSO - Elenco de '13 Reasos Why' faz vídeo que alerta sobre os gatilhos na série | Foto: Reprodução Netflix

13 REASONS WHY (2017)

Criada pela Netflix e baseada no livro de mesmo nome, de Jay Asher, a série conta a história da adolescente Hannah Baker. Logo na estreia, em 2017, causou polêmica com a cena explícita de morte e de estupros. Na segunda temporada, outra cena de estupro causou polêmica novamente e no início de cada episódio foram colocados avisos e inclusive o elenco gravou uma mensagem com mensagens de alerta sobre as cenas que podem perturbar o expectador.

JOGO DA BALEIA AZUL (2017)

O suposto desafio da internet deixou os pais assustados depois que relatos ligaram a morte de jovens ao jogo virtual. Ao total seriam 50 desafios que chegavam via mensagens, com comandos que iriam de atos simples como desenhar uma baleia ou assistir a um filme de terror até o desafio final, que seria a morte.