Em frente às câmeras, Junior Borja diverte - e se diverte - como ninguém. Apaixonado pelo que faz, ele arranca risos de qualquer pessoa que rola o feed em busca de vídeos fofos de cachorros. Nascido e criado em terras iguaçuenses, sempre teve a tesoura e o secador como amigos. Aos 29 anos, ele tem muita história para contar: algumas são boas; e outras nem tão boas assim. Aqueles altos e baixos que deixam a vida mais viva.

Aos 12 anos, Borja lembra de ajudar a mãe no salão de beleza que funcionava dentro de casa. “Eu acordava cedo com barulho do secador e com cliente dentro de casa”. Uma cena que se repetia todos os dias. Mas então ele deixou de ser apenas mais um espectador para ajudar a mãe no trabalho: primeiro segurando um pote de tinta ou de pó descolorante; depois, a colorir e descolorir cabelos, a fazer escova e penteados mais complexos. O talento com as mãos veio da infância, quando a avó o ensinava a trançar fios de crochê e de tricô.

Mas quem disse que uma fruta não pode cair longe do pé? Traçando caminhos que surpreendem até os mais céticos, ele afirma que não era aquilo que queria. “O ambiente não tinha muito a ver comigo, mas eu gostava do procedimento, do fazer”. No auge dos 16 anos, quando tudo parece perdido, enrolado e difícil de compreender, ele começou a se interessar por marketing, por vídeos, cinema e música. “Eu acho que sempre tive essa veia artística”.

Mas os sonhos nem sempre estão a um passo de distância, o que o obrigou a trabalhar como servente de pedreiro e fazendo calhas.

Imagem ilustrativa da imagem Cabelo ou pelo: paranaense encanta a internet com tosas e muito humor
| Foto: Arquivo pessoal

Nessa época, viveu um período conturbado, conheceu as drogas e o álcool. “Eu estava me perdendo já”, admite. Expulso de casa pelo padrasto, com quem sempre se deu bem, Borja fala como se tudo tivesse acontecido há milênios, do viver desorientado naquele pedaço tenebroso de vida chamado adolescência.

Então, seguindo um roteiro que poderia ser de uma comédia romântica das mais clichês, Borja conheceu uma Míriam. “Ela me salvou”. Uma Míriam que talvez fosse ‘a Míriam’, o artigo indefinido perdeu espaço para o definido. “Ela falava que se eu não parasse de fumar, ela não ia mais sair comigo.”

A amizade e o amor seguiram firmes. Então, o acaso - ou o destino ignorando o livre arbítrio - fez com que Míriam começasse a trabalhar com banho e tosa de cachorros. “E ela me convidou para trabalhar lá”. Morando sozinho, desempregado e vivendo de bicos, a diária de R$ 15 veio em boa hora. Borja, que nem sabia que dar banho em cachorro era profissão, embarcou nessa.

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As habilidades manuais, que nunca o abandonaram, foram essenciais para o sucesso no emprego. “Eu tive uma performance muito boa para eles, lavava bem e rápido”. Na época, ele lembra que o modelo de tosa era industrial, cada um fazia a sua parte. O groomer, que era quem fazia a tosa, era o mais alto nível dentro de uma pet shop. Míriam acabou sendo demitida para que desse lugar a Borja, que se destacava na lavagem dos cachorros.

Com o tempo, fez amizade com o groomer do lugar e foi aprendendo aos poucos os detalhes para uma tosa de qualidade. Então num acidente de carro, Míriam saiu com o fêmur quebrado. Mas os acidentes não pararam por aí: quatro meses depois, com ela ainda se recuperando, eles engravidaram. Ele, com 19, e ela, com 16.

“A gente era bem imprudente, irresponsável e imaturo. A partir do momento que eu descobri que iria ser pai, meu mundo caiu, eu fiquei muito preocupado”. As preocupações eram relacionadas ao dinheiro, que não era suficiente para sustentar ele, quem dirá mais duas pessoas.

Mas as preocupações em ser um bom pai também o atormentavam. Diferente de seu pai biológico, que o colocou no mundo e desapareceu, eles foram morar juntos. Alugaram uma grande e velha casa de madeira. “O lugar estava caindo aos pedaços”. Mas era um lar para a família que se formava.

Nesse período, percebendo que o mundo pet estava crescendo, entrou de cara nos estudos, assim como focou no trabalho. “Não era nem por amor à profissão, mas porque eu precisava ganhar dinheiro”. O Lorenzo, hoje com 10 anos, nasceu e cresceu naquela casa. Os móveis, assim como a casa, eram velhos, mas hoje decoram as lembranças.

“Foram anos difíceis, de contar moeda por moeda”. Ao passo que ouvia questionamentos do motivo de ainda insistir no banho e tosa, ele também se fazia essa pergunta. A profissão ainda não era reconhecida e o preconceito era forte.

Mas não deixou se abater e permaneceu insistindo e tentando. Para ele, o bem estar do animal e do cliente importavam, mas não era o que ele via na prática. “Mesmo com toda a nossa dificuldade [financeira], eu não tolerava que cachorro fosse maltratado”. Ele chegou a trocar de emprego seis vezes no período de um ano. Em todos, quem pediu demissão foi ele. “Nunca fui dispensado”.

O pensamento de que animal precisa de cuidado, assim como o cliente respeitado, não saia da cabeça de Borja, que por meio da internet via exemplos em São Paulo. “Eu queria fazer aqui o que já faziam em outros locais, mas meus patrões falavam que isso era coisa para cidade grande”.

Ágil e hábil, o reconhecimento veio e, junto dele, um pouco de dinheiro. Mas como uma ação gera reação, o foco no trabalho tirou o foco da família. “Eu saia de casa às 6h e o Lorenzo ainda estava dormindo. Quando voltava, às 21h, ele já estava dormindo”. Isso começou a incomodar.

Sem medo das mudanças e com a vontade de empreender, ele emprestou dinheiro do sogro e comprou alguns equipamentos para trabalhar em casa como tosador nas horas em que não estava no outro emprego. “Trabalhei por um ano todos os dias, de manhã até de noite”. O desgaste físico e mental fez com que ele voltasse aos vícios de outrora e a uma meningite que quase o matou.

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| Foto: Arquivo pessoal
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Aos 23 anos, o trauma o fez começar a pensar de forma mais estratégica. O desejo pelo marketing e pelo mundo dos vídeos, que ele colocou de lado em certos momentos, tomou novas formas. Ele criou contas em todas as redes sociais e começou a publicar as fotos dos trabalhos que fazia. “Eu percebi que a partir do momento que eu comecei a postar fotos do trabalho, tosadores de todo o Brasil começaram a me seguir”. Com a bagagem das horas dedicadas ao estudos, ele respondia as pessoas que pediam dicas e conselhos sobre diversos assuntos relacionados ao mundo pet. Foi nessa época que recebeu algumas perguntas do tipo: “quanto custa fazer um curso com você?”

A pergunta que, talvez, mudaria tudo. Como nem tudo é fácil nessa vida, altos e baixos existem e, geralmente, os baixos dão o impulso necessário para os altos. E o alto veio com uma vitória em um concurso de uma marca de cosméticos pet que participou. Recebeu a ligação quando estava no banheiro da empresa em que trabalhava.

Nesse meio tempo, conheceu a inveja das pessoas, mas também pôde conhecer outros estados do Brasil, o que trouxe cada vez mais reconhecimento para o jovem empreendedor de Foz do Iguaçu. Decidido a abrir o próprio negócio, ele e uma colega de trabalho resolveram pedir demissão. “O nosso patrão não aceitou”. Ele lembra que o chefe cedeu um espaço para eles dentro do pet shop para que começassem a trabalhar no próprio negócio. E assim surgiu a primeira unidade da Garbo Pet Salon.

Por quatro anos, eles trabalharam no local, até que surgiu a possibilidade de abrir uma nova unidade. Então, eles locaram o espaço onde ele recebeu a notícia de que tinha vencido o concurso. “É o mesmo local da história do banheiro”. Saiu como funcionário e voltou como dono.

"Nos últimos seis anos da minha vida, eu me tornei a pessoa que eu queria ser no começo”. Focando no marketing, começou a gravar vídeos e a ser influente no mundo pet. Com isso, deu início a uma empresa voltada exclusivamente para o setor de marketing e propaganda.

Com o talento para a tosa e o jeito engraçado de ser, ele posta vídeos engraçados nas redes, que já somam quase um milhão de seguidores no Instagram e três milhões no TikTok. Com ar de mistério e de que vem coisa boa pela frente, ele fala que a empresa não é somente de banho e tosa de cachorros. A Garbo Pet presta consultoria para todo o Brasil e entende que o mercado deles é o país, não apenas Foz do Iguaçu.

A pergunta, que um dia mudaria tudo, também permitiu que ele investisse em uma empresa de educação. O Groomer de Valor é a maior escola de banho e tosa virtual do Brasil. Borja já formou mais de cinco mil alunos.

Hoje, as empresas somam mais de 15 funcionários. Apesar de não fazer mais tantas tosas como antes, ele aproveita para produzir conteúdo para as redes sociais, lar de clientes e seguidores fiéis. Para fazer uma tosa, Borja cobra entre R$ 600 e R$ 700, muito diferente do jovem que recebia uma diária de R$ 15. “O mais louco é que tem gente que paga”. Para o futuro, quer abrir unidades em outras cidades, mas não para faturar. “É saber que a mesma qualidade de atendimento que eu tenho aqui, hoje, vai estar presente lá”.

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