Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) apontam que hoje no Brasil existem cerca de 10 milhões de surdos, sendo que desses 2,7 milhões possuem surdez profunda, ou seja, não escutam absolutamente nada. Além dessas estatísticas, ninguém está imune a se tornar uma pessoa surda, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) 900 milhões de pessoas podem desenvolver surdez até o ano de 2050, especialmente devido ao processo de envelhecimento.

Para surdos oralizados e os que conseguem fazer leitura labial existem barreiras para a comunicação do dia a dia com os não-surdos, ainda mais com a obrigatoriedade do uso de máscaras ao ter contato com outras pessoas para a prevenção da Covid-19. Se você olha para as dificuldades de quem depende da Libras(Língua Brasileira de Sinais) para fazer um pedido em um restaurante, comprar uma roupa, um remédio, ser atendido por um médico que não saiba Libras ou como é para uma mulher surda dar à luz a um bebê sem um intérprete do lado. São coisas que os ouvintes não precisam se preocupar, mas deveriam. Defende a estudante Gabrieli Kaori Ishimatsu: “Inclusão é muito mais do que admitir que existem, é reconhecer as partes diversas e constituintes verdadeiramente da nossa sociedade”.

Ishimatsu estuda medicina na UEL (Universidade Estadual de Londrina) e define aprender Libras a uma palavra: acessibilidade. Tanto para ser uma profissional mais qualificada, quanto para manter relações sociais com pessoas surdas. A estudante afirma, ainda, que acredita que o ensino de Libras deveria ser universal.

Imagem ilustrativa da imagem Aprender Libras de forma online está cada vez mais fácil

A boa notícia é que desde que a Libras foi oficializada como meio legal de comunicação e expressão no Brasil, mais precisamente em abril de 2002, o ensino da linguagem se consolidou e conquistou públicos além da comunidade surda. Essa necessária popularização ganhou um reforço especial com a criação de aplicativos especializados e, mais recentemente, com perfis nas redes sociais. Hoje é possível encontrar uma grande quantidade de pessoas que ensinam Libras através de vídeos curtos pelo TikTok, Reels ou Stories do Instagram e mais milhares de seguidores que estão lá para aprender.

O paulista Jeronimo Neto, conhecido como Neto Libras, é um desses influenciadores digitais que usa suas redes sociais para ampliar o conhecimento sobre a linguagem de sinais. Além de mostrar um pouco sobre a realidade da comunidade surda e combate preconceitos. Ele começou há cerca de um ano e já possui mais de 26 mil seguidores no Instagram e 150 mil seguidores no TikTok - para encontrá-lo em ambas plataformas é só procurar por @netolibras. Neto, que é engenheiro civil em horário comercial, teve contato com a Libras dez anos atrás e se apaixonou pela linguagem, principalmente por ela ser visual, de acordo com ele mesmo. Ao ter mais contato com a comunidade surda percebeu a importância da Língua Brasileira de Sinais. “A intenção é trazer um pouco da comunidade dos surdos e da Libras para mais gente, é isso que me move” relatou o professor de Libras emocionado. Aproximadamente 75% das pessoas que acompanham Neto são mulheres, a maioria está na faixa etária de 20 a 30 anos e ele diz contente que a maioria são pessoas que realmente querem aprender Libras.

Imagem ilustrativa da imagem Aprender Libras de forma online está cada vez mais fácil

Ele também tem um curso online, no qual ensina a Língua Brasileira de Sinais em alguns módulos. Para Neto a aprendizagem pelos vídeos postados por ele e pelas aulas gravadas do seu curso são tão boas quanto as presenciais. Já que assim o aluno pode pausar e rever quantas vezes precisar, não perde nenhuma aula por imprevistos e o professor garante que ensinou tudo o que sabe, sem o perigo de esquecer nenhum conteúdo, o que pode acontecer no ensino presencial. Ela é complementada por aulas ao vivo, quando Neto observa o desenvolvimento do aluno.

Ishimatsu conta que teve dificuldades com as aulas de Libras online - as aulas não eram gravadas, a conexão com a internet falhava constantemente devido a todos os alunos precisarem estar com a câmera ligada e também, por não estar perto da professora que é surda. Mas se adaptou e entendeu rapidamente o método de ensino dela. Durante o semestre, no qual as aulas aconteceram uma vez por semana, a estudante aprendeu o básico e hoje consegue se identificar, cumprimentar as pessoas, falar sobre localização, alguns sentimentos e outros assuntos triviais.

Imagem ilustrativa da imagem Aprender Libras de forma online está cada vez mais fácil

Porém, durante as aulas, Gabrieli Kaori conta que aprendeu mais do que uma nova linguagem: “É muito importante a inclusão do surdo como um integrante da sociedade. Mas não como um deficiente, no qual falta algo para ser normal, pois ele é normal e pertence a um grupo com características e culturas que precisam parar de ser concebidas como anormais ou como incompletas.”