O aplicativo de compartilhamento de vídeo TikTok conquistou adolescentes de todo o mundo com passos de dança, desfiles filmados e dicas de maquiagem, embora também gere controvérsia sobre seus vínculos com o governo e a censura de conteúdo na China.

São cerca de 500 milhões de usuários ativos nos Estados Unidos, Índia, Japão, Indonésia, França e outros países. O aplicativo ultrapassou, na semana passada, a barreira de 1,5 bilhão de downloads.

TikTok foi lançado em 2017 pelo grupo chinês Bytedance como uma versão internacional de seu aplicativo Douyin, que surgiu na China em 2016. "Este êxito enorme e imediato demonstra a pertinência de sua estratégia focada nos consumidores", neste caso, jovens que querem se comunicar de forma "mais direta e expressiva", afirma Bo Ji, vice-reitor da Escola de Comércio Cheung Kong, em Pequim.

O conceito é eficaz: vídeos curtos centrados em coreografias improvisadas e em apostas que os pré-adolescentes lançam em seus smartphones. Trata-se de uma receita parecida com o do aplicativo Musical.ly, presente principalmente nos Estados Unidos desde 2014 e adquirido pelo TikTok em 2017 por mais de um bilhão de dólares, em uma fusão que permitiu seu sucesso internacional.

Isso tornou o fundador do Bytedance, Zhang Yiming, 36 anos, em bilionário e em uma figura central de uma nova geração de empreendedores tecnológicos chineses.

Zhang entrou em 2019 no top 20 dos homens mais ricos da China com uma fortuna de 13,5 bilhões de dólares, segundo a Hurun China Rich List, superando o emblemático dono do Baidu (o "Google chinês") Robin Li.

"Zhang é um empreendedor muito pouco comum na China. Construiu uma coisa para o mundo inteiro e entende os jovens e sua psicologia", insiste Bo Ji. Encarna um novo tipo de empreendedor muito diferente de Jack Ma, visionário fundador do gigante do e-commerce Alibaba, indica Liu Xingliang, diretor do centro de pesquisa sobre internet DCCI.

"Zhang Yiming é como um jovem Pony Ma", o fundador do mastodonte Tencent (videogame e serviço de mensagens WeChat), disse à AFP Liu. "Era a princípio um programador informático" dedicado ao bom funcionamento dos produtos e "bom conhecedor da tecnologia".

Douyin, versão chinesa do TikTok, teve um êxito similar: número um no país com cerca de 400 milhões de usuários ativos segundo a consultora iResearch, soube atrair famosos como o ator e cantor Kris Wu.

No entanto, seu primeiro sucesso foi "Jinri Toutiao" ("Na capa de hoje"), um compilador de artigos de informação que se tornou um dos aplicativos mais populares do país.

Lá, Zhang Yiming recorreu à inteligência artificial para personalizar os conteúdos propostos para cada usuário, mudando os "costumes de leitura", uma fórmula que repetiu no TikTok, aponta Liu.

CENSURA

O Bytedance não escapa do rigoroso controle da internet por parte das autoridades chinesas. Toutiao foi acusado de "difundir conteúdos pornográficos e vulgares", e por isso o grupo recrutou em janeiro do ano passado dois mil "censores".

Depois de um novo chamado de atenção oficial e um desaparecimento temporário das lojas de downloas, o aplicativo prometeu aumentar suas equipes de censuras para 10.000 empregados.

Nesta quinta-feira, o TikTok admitiu ter suspendido "por erro" um vídeo viral que condenava a repressão exercida por Pequim contra os muçulmanos de Xinjiang e pediu desculpas à adolescente que o havia publicado nas redes sociais.

As controvérsias se multiplicam também no exterior, já que o TikTok foi proibido em Bangladesh e brevemente na Índia, onde as autoridades o acusaram de difundir vídeos pornográficos.

Por outro lado, o TikTok foi condenado a uma multa de 5,7 milhões de dólares nos Estados Unidos por ter coletado de forma ilegal dados pessoais de menores.

Ainda mais perigoso, senadores americanos manifestaram sua preocupação de que o dono do TikTok possa estar obrigado a "cooperar com os serviços de inteligência do Partido Comunista chinês", o que colocaria em perigo "a segurança nacional", apesar de que os dados dos usuários são armazenados nos Estados Unidos.

Uma agência federal americana abriu uma investigação de segurança nacional sobre o aplicativo, informou no início de novembro o New York Times.

Consultado pela AFP, o TikTok recordou então que os dados de seus servidores fora da China "não estão sujeitos à legislação chinesa". E insiste em que não está "influenciado por nenhum governo, incluindo a China".