Um estudo realizado em 2007 pela Universidade de Bristol no Reino Unido com três mil pessoas mostrou que 88% falharam com seus “compromissos” listados em resoluções de final de ano. De acordo com a pesquisa, pouco mais da metade (52%) dos entrevistados acreditava firmemente que conseguiria colocar em prática todos os desejos.

Treze anos depois é quase impossível dizer sem repetir a pesquisa se o índice médio de efetividade no cumprimento das metas cresceu ou diminuiu. Nem mesmo se a ampla evolução tecnológica nos processos de comunicação aliada às mudanças no mercado de trabalho e também de naturezas social e cultural acabaram ajudando ou atrapalhando a maioria de nós.

Questionada se estas mudanças externas podem acabar dando à luz a novos tipos de resoluções e quais seriam elas, a psicóloga Nicole Tomazella entende que isto é um processo natural relacionado aos avanços que estamos vivendo e que expandiram possibilidades e noções de sonhos e conquistas.

Imagem ilustrativa da imagem #AnoNovo #Resoluções  'Falhar' consigo mesmo pode ser evitado

“A tendência é que cada vez mais as pessoas decidam traçar metas relacionadas ao bem-estar pessoal, mudanças em sua forma de ser, com respeito, significado e verdade e menos metas relacionadas a conquistas materiais. Isso porque muitos já entenderam que o crescimento no modelo do ‘custe o que custar’ é muito caro e também que muitas das metas materiais não trazem realização e felicidade em médio e longo prazos”, avalia.

A psicóloga e coach de carreiras lembra que o que não mudou de lá pra cá são os principais “erros” que as pessoas cometem ao constatarem em quais áreas estão insatisfeitas e o que querem mudar. Por isso é preciso tomar cuidado e não escolher o que é apenas socialmente aceito ou “exigido”. Para ela, também é importante evitar traçar metas a partir das ‘condições ideais’ ao invés de “considerar o momento de vida atual e não avaliar o impacto que elas terão em sua vida como um todo”, explica.

“Muitas pessoas querem crescer profissionalmente, mas não avaliam como isso pode impactar em sua saúde e relacionamentos”, exemplifica.

Para ela, tudo começa com um balanço sobre o que já foi conquistado até aqui, mas, sobretudo, em relação ao que não deu certo. “É importante compreender e aprender o que houve quando não conquistamos as metas definidas anteriormente. Foi falta de habilidade técnica? Não pediu ajuda? Não soube avaliar os riscos reais? Analisar o que funcionou ou não é essencial”, diz.

Para encorajar os participantes, os pesquisadores britânicos revelaram que os homens têm 22% a mais de chances de atingirem sucesso se dividirem os objetivos e estabelecerem metas pontuais. No caso das mulheres, a conclusão foi de que as chances de sucesso aumentam em 10% se os objetivos forem compartilhados com pessoas que podem oferecer algum tipo de ajuda.

Esta “estratégia” de compartilhar os objetivos com alguém significativo ainda é uma ideia interessante para aumentar o engajamento sobre o que é desejado, segundo Tomazella. Outra dica é saber dizer “não” para tudo o que pode afastar o “querer” do “realizar”.

E, para não desistir no meio do caminho, ela indica adotar poucos objetivos de modo a não dispersar energia e perder o foco. Assim, pensar que “menos é mais” e ter clareza são fundamentais para o sucesso pessoal.

“Ao invés de desejar ‘em 2020 eu quero mudar de emprego’, seja específico. ‘Eu quero conquistar o cargo de gerente comercial até o final do ano, tendo uma equipe de ao menos 5 pessoas para gerenciar. Coloque o que é preciso na agenda. Não adianta nos enganarmos, o que não é agendado, não é importante. Se você quer mudar de emprego, precisará colocar em sua agenda tempo para fazer networking, realizar cursos específicos, estudar inglês e todas as outras atividades fundamentais para alcançar a meta”, conclui.

Adeus Janus velho

O anseio por concretizar mudanças com a passagem para um novo ano, o que faz muita gente escrever ou apenas mentalizar as famosas resoluções ou listas de desejos é um costume popular que pode encontrar explicações na constante e eterna insatisfação característica da espécie humana. Mudar aspectos sociais e físicos no curso de nossas vidas parece ser algo interessante de se planejar nos momentos que antecedem o encontro dos ponteiros do relógio na última hora do dia 31 de dezembro.

Para quem gosta de viagens no tempo, uma fonte de inspiração histórica está há cerca de quatro mil anos quando os Babilônios já faziam promessas para os deuses sempre no começo de um novo ano, em março, para alcançarem sucesso e objetivos pessoais. A crença popular dizia que estaria em paz com os deuses aquele que cumprisse as promessas, caso contrário, infortúnios iriam perseguir o mal pagador pelos próximos doze meses.

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Outra opção para o momento é consultar a mitologia romana, um “oásis” para se explicar o fenômeno e por vários motivos. O primeiro deles é bem óbvio, afinal, dos romanos, herdamos nada menos do que o calendário. Mas a história passa a ficar mais interessante quando do início do reinado do lendário rei Numa, sucessor de Rômulo.

Segundo Plutarco, janeiro, ou januarius, é uma homenagem de Numa ao deus pagão Janus (ou Jano), conhecido pelos romanos como o guardião dos portais e dos caminhos por onde passavam os soldados em tempos de guerra, paradoxalmente lembrados como períodos de paz e prosperidade em seu reinado.

Na mitologia romana, Janus é representado como uma divindade bifronte que mantém duas faces opostas de modo a fitar o passado enquanto encara o futuro sendo, também, ocasionalmente, representado com quatro faces. Para a mitologia romana, Janus representa a chegada da paz e da ordem para a humanidade, o que o faz ser considerado também deus dos princípios e Rei Deus da Paz na mitologia grega.

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Para reverenciá-lo ainda mais, Numa teria até iniciado um costume de manter fechadas as portas de um santuário de bronze ao norte do Fórum construído em homenagem à Janus, o que significava que seu governo era pacífico. Já em tempos de guerra, a tradição dizia que as portas deveriam permanecer abertas, embora exista outra interpretação para este fato.

Além de batizar janeiro, Janus, ou ianus, em latim, também emprestou seu nome a um “colega de profissão” dos tempos modernos. Afinal, “janitor” ou “zelador”, em inglês, deriva do latim “ianitor”, outra referência ao deus romano.

Depois de centenas de anos, a breve história nos ajuda a lembrar de que não existe futuro que não dependa do passado. Mas, sobretudo, que a porta que existe entre os dois espaços de tempo precisa estar sempre aberta, especialmente para o reinado da paz.

Feliz Janus novo!