O ponto avermelhado no céu já chamava a atenção dos babilônios, ainda nos séculos antes de Cristo. As observações, naquele tempo, eram religiosas e o planeta chamado de “A Estrela da Morte”. Vários séculos se passaram e estudos de nomes como Aristóteles, Ptolomeu, Johannes Kepler e Galileu Galilei foram aprofundados até 1960, quando a União Soviética pôs em prática a “Marsnik 1”, primeira missão que tentou explorar Marte, mas que falhou logo no lançamento. Outras quatro tentativas da URSS ocorreram nos quatro anos seguintes, até que os Estados Unidos entraram na disputa e lançaram a “Mariner 3”, também sem sucesso.

Logo depois, a “Mariner 4” foi a primeira sonda a passar pela órbita do “planeta vermelho”, chamado assim porque o óxido de ferro, predominante em sua superfície, lhe dá uma aparência avermelhada. Fez 22 fotografias de Marte, descobriu crateras e confirmou a presença de uma atmosfera tênue, composta por gás carbônico. Era julho de 1965, e as informações acabaram com um mito que habitava o imaginário popular há séculos – o de haver uma civilização avançada por lá.

Nos anos seguintes, a Guerra Fria esquentou a disputa entre os países e impulsionou diversas outras missões. Em 1998, o Japão entrou na história, enviando a nave “Nozomi”, palavra japonesa que significa “esperança”. Em junho de 2003, foi a vez da Agência Espacial Européia lançar a “Mars Express”. Outros dois países também fizeram suas tentativas. A China, com a missão “Yinghuo-1”, em 2011, e a Índia, com a “Mangalyaan”, em 2013. No entanto, em 60 anos de história, apenas os Estados Unidos conseguiram aterrissar veículos móveis de exploração com sucesso total. Em 1997, o robô “Sojourner”, que fazia parte da missão “Mars Pathfinder”, da NASA, foi “acordado” com a música “Coisinha do Pai”, escrita por Jorge Aragão, Almir Guineto e Luís Carlos, e eternizada na voz de Beth Carvalho.

Entre as descobertas das diversas missões, soube-se que, milhares de anos atrás, o planeta vermelho era azul. Marte tinha rios e oceanos e uma atmosfera densa, parecida com a da Terra. Mas, por razões ainda desconhecidas, o ar ficou cada vez mais rarefeito e a atmosfera praticamente desapareceu. A água líquida também, sobrando apenas calotas polares e placas de gelo enterrado. Em 2016, uma equipe de cientistas da NASA descobriu que, a alguns metros abaixo da superfície, há uma grande reserva de água congelada, com extensão de mais de 300 mil quilômetros quadrados, aproximadamente a superfície da Itália, com volume de água suficiente para encher 400 vezes toda a bacia hidrográfica da Espanha.

No final de julho, começou uma disputa entre EUA e China por uma exploração mais aprofundada do planeta. No dia 23, os chineses lançaram a missão “Tianwen-1”, primeira na história a tentar orbitar, aterrissar e explorar a superfície na mesma viagem. Uma semana depois, a NASA também lançou sua missão espacial específica para encontrar sinais de vida passada em Marte. O robô “Perseverance” tem o tamanho e peso de um carro médio e deve ser o veículo de exploração extraterrestre mais completo a pisar até hoje na superfície de outro planeta. “Spirit”, “Opportunity” e “Curiosity”, os veículos anteriores da NASA que estudaram Marte, mostraram que o planeta já teve condições adequadas para abrigar vida. Agora, o “Perseverance” vai procurar os rastros dela. As duas missões devem chegar por lá em fevereiro de 2021.

O robô norte-americano vai explorar a região de Jezero, no hemisfério norte, onde há 3,5 bilhões de anos havia um lago. A zona é o local mais provável de se encontrar minerais que possam conter restos orgânicos produzidos por micróbios. Com um custo total de U$S 2,4 bilhões, a missão vai utilizar uma nova tecnologia para conhecer detalhadamente a história geoquímica dos compostos analisados, avaliando a essência e estrutura.

Os objetivos científicos da missão chinesa a Marte são semelhantes: estudar a morfologia e a geologia do planeta, analisar minerais, ambiente e campo magnético e determinar a composição da zona explorada, assim como o conteúdo de gelo de água. Se tiver sucesso, a “Tianwen-1” vai representar a maior demonstração de poder da história chinesa na exploração espacial, colocando a disputa com os Estados Unidos em um novo patamar.