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Folha Gente 5m de leitura

Um brasileiro na NASA

ATUALIZAÇÃO
03 de outubro de 2017

Érika Gonçalves<br>Reportagem Local
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Ivan Lima diz que as principais diferenças entre Brasil e EUA, quando se pensa em pesquisa, são a burocracia e o tamanho do mercado relacionado à ela



Não é sempre que conseguimos unir em uma só atividade todas as nossas paixões. E ainda exercer essa profissão em uma das melhores empresas do mundo na área. Pois foi justamente esse o caso do biólogo Ivan Glaucio Paulino Lima. Ele veio de Marília, no interior de São Paulo, para estudar Biologia na UEL (Universidade Estadual de Londrina), se apaixonou por astrobiologia – que unia suas duas paixões, a biologia e a astronomia, e hoje trabalha no Centro Ames de Pesquisas da NASA em Moffett Field, no norte da Califórnia, como contratado pela Universities Space Research Association.

Para chegar lá foi preciso muito estudo e trabalho sério, aliado a um empurrãozinho do destino. Em 2006, durante um workshop de Astrobiologia no Rio de Janeiro, ele conheceu a professora Claudia Lage, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ).

"Escrevemos um projeto para testar a sobrevivência de micro-organismos em experimentos simulando ambientes extraterrestres. Fui aprovado em segundo lugar e comecei os experimentos no IBCCF/UFRJ em agosto de 2006. Em 2008, escrevemos um projeto de pesquisa para ser desenvolvido na Open University, em Milton Keynes, na Inglaterra, durante o ano de 2009. O projeto foi aprovado e eu recebi do CNPq uma bolsa específica para esse propósito. Durante o ano de 2009 fiz muitos contatos importantes com pesquisadores renomados e realizei experimentos na Inglaterra, na Irlanda do Norte, na Dinamarca e na Itália. Quando voltei da Inglaterra no início de 2010 eu tinha apenas mais seis meses para concluir o doutorado. Fiquei sabendo que a Professora Lynn Rothschild, do Centro Ames de Pesquisas da NASA, daria um mini-curso em Campos do Jordão, em São Paulo. A data coincidia com o prazo máximo para a minha defesa de doutorado. Convidei-a para fazer parte da banca examinadora da minha tese e ela aceitou imediatamente", conta.

Depois de escrever a tese bilíngue e debater com os outros membros da banca em inglês, Lima apresentou um projeto de pós-doutorado para a professora Lynn, que o aprovou. Ele submeteu o projeto para a Capes pleiteando uma bolsa de pós-doutorado na NASA com duração de 18 meses. "Enquanto a resposta da Capes não saía, eu consegui uma posição de Professor temporário no Departamento de Bioquímica e Biotecnologia da UEL através de processo seletivo. A resposta positiva da Capes veio em março de 2011. Como já tinha começado o semestre na UEL, consegui estender o início da vigência da bolsa até agosto de 2011, quando me mudei para os EUA", explica.

Na Agência, Lima estuda micro-organismos resistentes à radiação e até que ponto eles conseguem resistir a ambientes extraterrestres, como o planeta Marte. Atualmente trabalha exclusivamente como microbiologista sênior na missão espacial Eu:CROPIS, uma parceria entre a NASA e a agência espacial alemã, DLR. Um satélite será colocado em órbita da Terra e através da rotação dele serão simuladas as gravidades de Marte e da Lua, além da microgravidade do Espaço, com o objetivo de verificar como esses ambientes influenciam experimentos biológicos.

Sem planos de voltar definitivamente ao Brasil por enquanto, Lima aponta que as principais diferenças entre o Brasil e os EUA, quando se pensa em pesquisa, são a burocracia e o tamanho do mercado relacionado à ela.

"Aqui no Vale do Silício existem diversas empresas de biotecnologia que prestam serviços para universidades renomadas, como Stanford, UC Berkeley, e também para institutos de pesquisas. Os serviços que encontramos aqui até existem no Brasil, mas o custo dos reagentes e produtos utilizados é bem maior no Brasil devido aos impostos, custo de importação etc., e também esse mercado no Brasil é menor. Aqui existem parcerias bem estabelecidas entre empresas e a academia e isso acelera todo processo científico e tecnológico."

Vindo periodicamente ao Brasil para visitar amigos e familiares, além de se dedicar a palestras em escolas e outras atividades de divulgação científica de forma voluntária, Lima guarda muitas lembranças de Londrina, inclusive do Gedal (Grupo de Estudo e Divulgação de Astronomia de Londrina).

"Londrina é espetacular! Eu adorava o ambiente universitário, o circuito cultural, a simplicidade e receptividade do povo londrinense. Lembro das tardes de finais de semana no Zerão e na pista de caminhada no Lago Igapó, dos eventos na Concha Acústica e no teatro ao ar livre no Zerão, da Feira da Lua, do calçadão central, do Teatro Ouro Verde, enfim, foram mais de sete anos de vivência em Londrina. Lembro também dos inúmeros eventos de observação do céu que participei com o Gedal, palestras em diversas escolas, cursos, tudo de maneira voluntária e extremamente recompensadora. O Gedal, além de servir como um grande incentivo para eu continuar buscando uma carreira científica na área de astrobiologia, foi uma grande fonte de inspiração e conhecimento", destaca.

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