“O projeto de um hotel tem uma vida infinita", diz Álvaro Cortês, que está há 30 anos nesse ramo da arquitetura
“O projeto de um hotel tem uma vida infinita", diz Álvaro Cortês, que está há 30 anos nesse ramo da arquitetura | Foto: Ricardo Chicarelli - Grupo Folha

Um arquiteto londrinense referência quando o assunto é arquitetura hoteleira. Álvaro Cortês, casado, pai de dois filhos, formado pelo Cesulon (Centro de Estudos Superiores de Londrina), a atual Unifil (Universidade Filadélfia), entrou há quase 30 anos para esse ramo da arquitetura. Tudo começou após ele ter sido convidado por Laila Vezozzo, proprietária da rede Bourbon, para projetar uma loja no hotel em Foz do Iguaçu. Desde então, não parou mais, e continuou se especializando no assunto diariamente, como ele mesmo afirma.

Seus projetos carregam traços marcantes e únicos, sempre pensando na autossustentabilidade, facilidade de manutenção dos espaços e comodidades para quem ficará hospedado em um dos diversos hotéis projetados por ele e pela filha, Bárbara Cortês, que seguiu os passos do pai e se especializou na mesma área. Cortês comenta que o conceito de sustentabilidade é amplo e muito presente em seus projetos. Os hotéis devem ser “educados”, principalmente em relação ao respeito pela natureza.

“Nossos projetos de hotéis, principalmente os resorts, têm como princípio o respeito pela natureza, a integração com ela. Atualmente, os projetos precisam ser assim, pois as pessoas estão preocupadas com a questão ambiental e querem saber como é utilizada a água. Por exemplo, 100% do esgoto é tratado, sendo que 98% da água tratada é reutilizada, principalmente em áreas não nobres, como a lavagem de áreas externas, irrigação dos jardins e também na economia de energia, utilizando energia fotovoltaica, nos mais diversos espaços possíveis”, comenta.

Outro ponto arquitetônico ligado à preservação ambiental que o arquiteto cita são as grandes piscinas presentes, principalmente, nos resorts. De acordo com Cortês, essas piscinas utilizam pouca água, diferentemente do que se pensa. A maioria dos espaços são rasos, com uma ligação com ambiente da praia, o que faz com que a profundidade vá aumentando aos poucos, assim como no mar.

Para o arquiteto, a parte estrutural do hotel é outro grande desafio, já que ela precisa estar preparada para servir seus hóspedes 24 horas por dia sem parar.

A arquitetura tem a tecnologia como uma grande aliada, tanto no tempo de edificação quanto na economia para a manutenção dos espaços. Isso gera uma via de mão dupla na visão de Cortês, ou seja, economia para os empresários que gastarão menos em tarifas de energia, de água, entre outros, e para quem se hospeda nesses espaços, que terão tarifas mais em conta devido à economia nesses setores.

Para ele, a evolução da arquitetura nesse segmento hoteleiro é constante, principalmente na área de eventos. Hoje, esses espaços possuem diversos itens de tecnologia, podendo atender todos os públicos possíveis, com novidades que surgem todos os dias. Como exemplo, o arquiteto fala sobre as paredes retráteis, que expandem e diminuem conforme a necessidade de acomodação do público para a realização dos eventos.

Um ponto que deverá passar por uma transformação nos próximos anos na arquitetura hoteleira, segundo Cortês, é a destinação de espaços para estacionamento. De acordo com ele, as áreas devem ficar menores. O motivo é o aumento do número de pessoas utilizarem transportes por aplicativos deixando seus veículos em casa ou, muitas vezes, por hóspedes que sequer possuem automóvel próprio, um reflexo do novo retrato urbano.

Uma característica específica dos projetos do arquiteto é a integração entre os espaços, ou seja, todos os ambientes conversam entre si, aproximando as pessoas. “Em um projeto de Álvaro Cortês não pode faltar o fluxo integrado. São áreas que se conectam. Um exemplo é o nosso projeto mais recente inaugurado em agosto. O contexto do hotel é um grande jardim, então todos os ambientes falam entre si”, destaca.

O tempo de planejamento e elaboração de um projeto depende muito da destinação do hotel. Cortês aponta que este período varia de quatro a oito meses, sendo os resorts os que demandam mais tempo de elaboração.

“O projeto de um hotel tem uma vida infinita. O Jardim de Juremas, por exemplo, foi inaugurado em agosto desse ano, mas agora (em setembro) estão sendo feitas a capela, o luau, o teatro. Sempre evoluindo de acordo com a necessidade dos operadores e do contexto que ele foi proposto”, ressalta.

A arquitetura hoteleira de Londrina também não ficou de fora dos olhares do arquiteto, que destaca a qualidade dos hotéis londrinenses para a finalidade de negócios e atendimentos médicos, ambos fortes segmentos no município. No entanto, para Cortês, ainda falta um hotel destinado para o lazer.

“Os nossos hotéis possuem uma boa qualidade, uma manutenção correta, que é a alma do hotel, tanto que eles fazem muito sucesso, principalmente, entre os representantes comerciais. Mas falta algo direcionado a termas, algo para o tratamento do corpo, do espírito e da mente. Até houve a tentativa com Thermas de Londrina, lá perto do aeroporto, pois lá possui uma fartura natural esplêndida. Aquilo é um prêmio para o ser humano e seria para mim um desafio transformá-lo num belíssimo hotel”, finaliza.

* Sob supervisão de Gisele Mendonça (editora Folha Gente)