Formado na UEL em 1984, Evaldo Ogatta se especializou na técnica da "ocidentalização" dos olhos, no Japão:  "É só para criar o sulco palpebral, não tira a característica oriental"
Formado na UEL em 1984, Evaldo Ogatta se especializou na técnica da "ocidentalização" dos olhos, no Japão: "É só para criar o sulco palpebral, não tira a característica oriental" | Foto: Marcos Zanutto



Com 35 anos de carreira, o cirurgião plástico Evaldo Ogatta acompanhou a evolução das técnicas cirúrgicas ao longo do tempo e também a mudança de mentalidade dos pacientes. Atualmente, segundo ele, as pessoas não estão preocupadas em rejuvenescer e sim em parecer bem. Se antigamente a cirurgia era postergada até o último momento, quando então o paciente fazia uma intervenção mais significativa, hoje esse procedimento é procurado a partir dos 40, 50 anos de idade.

"Fazemos algo mais natural e mais duradouro, diferente de antigamente quando a paciente esperava cair tudo e aí esticava tudo. Hoje, em uma paciente de 70 anos que quer fazer cirurgia de face deixamos ruga, porque ela tem 70 anos. A paciente de 50 anos faz o que chamamos de mini lifting, onde a maioria das vezes quem leva a fama é o cabeleireiro. Nosso maior elogio é uma cirurgia assim, a paciente dizer que ninguém sabe que ela operou. Isso é um resultado bom, ninguém quer fazer e parecer que fez", aponta.

Segundo Ogatta, isso se deve à melhoria das técnicas cirúrgicas e também ao fato de que antes, devido ao custo dos procedimentos, as pessoas queriam ostentar que tinham se submetido à uma plástica. Hoje, os custos estão muito mais acessíveis. O especialista ressalta que os cirurgiões brasileiros são conhecidos por sua criatividade. "Perdemos um pouco em tecnologia, mas somos muito hábeis e isso é respeitado no mundo inteiro."

'OCIDENTALIZAÇÃO'

Uma das técnicas aplicadas com muito sucesso por Ogatta é a de criação do sulco palpebral em orientais, conhecida popularmente como "cirurgia de ocidentalização".

"Esse é um termo que se consagrou mas não é o termo técnico, é até um termo errado, a cirurgia não é para ocidentalizar. Lá no Japão as orientais não tinham a dobrinha do olho e elas queriam ter, talvez por causa da maquiagem, da globalização. Acabou virando a 'cirurgia de ocidentalização' ou 'cirurgia da dobrinha'. É só para criar o sulco palpebral. Ela não tira a característica oriental da paciente, ela só cria um sulco de maneira que a paciente possa fazer maquiagem, os cílios ficaram virados para cima. Digo que é uma cirurgia em que você mantém o quadro, que são os olhos, e só muda a moldura. Você valoriza o quadro", explica.

Entre os pacientes estão tanto jovens que querem mudar um pouco o visual quanto senhores e senhoras que aproveitam a blefaroplastia, onde fazem retirada de pele em excesso e bolsas de gordura, para também criarem o sulco palpebral. Em cada paciente a técnica aplicada é diferente, sendo que nos mais jovens não há necessidade de incisão. As técnicas foram aprendidas na Universidade de Tókio, no Japão, onde Ogatta também se especializou em microcirurgia.

VAIDADE

Lidando com a vaidade humana, ele conta que é preciso ter experiência para perceber que nem sempre a cirurgia irá trazer ao paciente o que ele deseja. "A cirurgia plástica não vai resolver o problema, serve pra melhorar algo que incomoda. O cirurgião plástico não vive de bons resultados, vive de pacientes felizes. Quando eles estão felizes, eu tenho um bom resultado. Não adianta ter o meu melhor resultado cirúrgico se a minha paciente não está feliz. Por isso é importante quando visitar o cirurgião sentar e conversar. Não fazemos o paciente desistir (da cirurgia), direcionamos o paciente. Meu chefe dizia e eu concordo: 'o dinheiro que o cirurgião plástico ganha vem das cirurgias que ele faz. A fama que ele tem é dos pacientes que ele não opera'. Ou seja, a gente não pode operar o paciente errado. Na verdade, no nosso consultório temos uma boa porcentagem que não operamos porque não é de cirurgia que ela precisa, ela precisa de outra coisa. Esse conhecimento leva tempo para aprender, às vezes a gente se engana, mas é importante."

CARREIRA

Ogatta se formou em medicina pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), em 1984. A inspiração veio desde a infância, quando via seu pai, o ginecologista e obstetra Frank Ogatta, cuidar com carinho e atenção das pacientes, inclusive mudando planos familiares quando elas entravam em trabalho de parto.

"Ele (o pai) é uma pessoa que sempre gostou de ajudar muito. Ele tinha o consultório, mas muita gente ia em casa, ele saía à noite para atender e eu ia com ele. Eu via o quanto as pessoas ficavam agradecidas. Escolhi a medicina e a especialidade médica veio durante o curso. No começo eu queria ser obstetra e ginecologista como o meu pai, depois fiz a parte da cirurgia, queria ser cirurgião cardíaco e depois me decidi pela cirurgia plástica", conta.

Casado e pai de três filhas, Ogatta recorre à natureza nos momentos de lazer. Mergulho, esqui, tênis e a pesca esportiva - onde os animais são devolvidos à água - são alguns de seus hobbies preferidos. Ele faz questão de dizer que não vai pescar para desestressar, já que a cirurgia lhe traz tanto prazer quanto buscar os peixes, e lamenta que aqui a falta de preservação esteja acabando com os animais.

PESCA

Além do Brasil, Ogatta já viajou para pescar em Cuba, Alasca, Argentina, Chile, Colômbia e Venezuela. Uma das experiências marcantes foi descobrir que em Cuba não há pescadores, já que os moradores não podem ter barcos, apenas aqueles voltados ao turismo.

Já no Alasca, onde a pesca é feita no verão com temperatura de 15 graus, a grande atração são os ursos pegando peixes com os turistas. "O urso não quer nem saber de você, ele olha e parece só dizer 'não chega muito perto'. Os guias orientam (quanto à segurança), mas é uma sensação esquisita. Todo mundo quer ver um urso, quando vê, você fala 'acho que estou muito perto!' É uma experiencia que só se vê na televisão, aquele monte de salmão passando ao lado das suas pernas. É indescritível, muito bacana."