Magra e feliz
PUBLICAÇÃO
domingo, 03 de janeiro de 2010
Ana Carolina Rodrigues<br> Agência Estado
Sócia do grupo Pão de Açúcar, Lucilia Diniz vivia longe das festas e badalações que cercavam a família por puro complexo de patinho feio. Até que, aos 38 anos, deu um basta. Com três casamentos desfeitos e pesando 120 quilos, deu uma guinada e chegou, em dois anos e meio, aos 60 quilos. Nunca mais voltou ao peso de antes. Hoje, aos 53, é dona de uma linha de produtos light e autora de oito livros sobre bem-estar, como o recém-reeditado ''O Prazer de Viver Light'' (Ed. Abril). A experiência ainda a ajuda no comando do ''Programa da Lucilia Diniz'', no ar aos sábados pela Rede TV!. Em entrevista por telefone, a socialite fala sobre sua experiência e o poder da reeducação alimentar.
A pessoa que está fazendo uma reeducação alimentar pode colocar tudo a perder em uma noite de deslizes gastronômicos?
- De maneira nenhuma. Quando a gente fala em reeducação, fala de aprendizado. Quando aprende, não tem mais como desaprender. Um quilo são 7 mil calorias. É muita coisa. O problema é que as pessoas se alimentam para suprir outras necessidades. Fazem da comida uma companhia.
Você promove muitas festas. Como se comporta nelas?
- Estou completamente reeducada. Nunca vou a lugar nenhum com fome. Eu me alimento muito bem. Porque só comendo muito e ingerindo bastante nutriente você emagrece. Mostro isso e provo até. Se você parar de comer, pode emagrecer até dez quilos a curtíssimo prazo, mas vai voltar a engordar tudo isso. Antigamente, eu comia demais e errado. Hoje não como mais fritura e açúcar nem bebo álcool.
Nem uma champanhe na festa?
- Hoje, depois de dez anos, tomo um copo de vinho sempre com água com gás. Para ficar mais sociável e até para mostrar que não tem perigo. Tudo com equilíbrio.
Cortar açúcar, gordura e álcool é um caminho para quem quer emagrecer?
- Se a pessoa cortar esses três, ela já vai ter resultados. Açúcar é um grande vilão, e a fritura triplica qualquer valor calórico.
É verdade que o gordinho tem pensamentos gordos?
- Sim. Eu tinha vício de comer. Já comia pensando na próxima refeição. A comida é companheira. Não vejo mais a comida como uma companheira.
Não é melhor deixar de vez de comer chocolate do que comer só um bombom e passar vontade? A pessoa não sofre mais?
- Não adianta se privar. Na reeducação você não pode sentir fome. Tirei o açúcar e a fritura porque deu certo. Qualquer coisa que se faça para emagrecer é válida, até cirurgia. Só não aceito cirurgia em quem tem menos de 100 quilos.
Acha que a alegria e a magreza andam juntas?
- Não. Você pode ser gordo e feliz, mas com certeza, com saúde e disposição, vai estar mais realizado.
Há uma data melhor para começar a perder peso?
- De jeito nenhum. Fiquei 38 anos esperando a data certa e não apareceu. Só na hora em que comecei. A melhor data é sempre já. Não pode pensar muito. Tem de criar um vício, um hábito saudável. Programar às vezes atrapalha.
É possível se reeducar para toda a vida?
- Com certeza. É difícil, mas consegui. Todo caminho exige perdas. Eu fumava três maços e meio de cigarro por dia. Foi difícil? Muito. Cortar a alimentação também. Quando você está emagrecendo as pessoas vão te falando parabéns e isso faz bem para sua autoestima. No caso do cigarro, fumava desde os 14 anos, ninguém sabia que eu estava parando e não me cumprimentavam por isso. Aquilo era horrível. Mas consegui.
Que lembranças você tem da época em que era gordinha? Tem alguma memória triste?
- Eu não saía muito. Me sentia o pato feio. Meus irmãos faziam muitos exercícios e eu me sentia um peixe fora d'água. Não gostava de ser gorda. Não teve um fato só, tudo marcou. Até os 38 anos, não era feliz.
Para você então era impossível ser gordinha e feliz?
- Existem pessoas que vivem bem acima do peso. Eu nunca consegui. Quando você conhece a possibilidade de estar magra, não pode falar que vivia melhor quando estava gordo. É uma outra história.
Qual foi sua maior felicidade ao se sentir magra?
- Eu me lembro que fui com a Hebe em uma loja Versace e comprei uma saia que tinha uma fenda. Eu falava que não iria colocar, que morreria de vergonha. Hoje em dia, uso uns modelos mínimos. Aquela primeira só comprei porque a Hebe me encheu muito a paciência. Foi supermarcante.
Guarda a saia até hoje?
- Eu não ia tirá-la (do armário), mas estava muito velhinha, ocupando espaço e cheia de pó. Então, tirei.
Antes você não conseguia comprar roupas como você queria?
- Eu era muito bobinha. Usava uma roupa mais antiga. Brinco que comecei a ser jovem aos 38 anos.
Passou a namorar e a sair mais?
- Com certeza. Dá muito mais vontade de se arrumar. Você se despe daquele gesso, e eu era engessada.
O fato de você vir de uma família tradicional dificultou algo?
- Não, eu não saía muito e me escondia dentro do meu corpo. Ninguém me conhecia.
Mas não é melhor ter dinheiro para emagrecer?
- Nada. Isso é um ato solitário. Não custa nada. É informação. Não precisa nem ir ao médico. Não estou sendo leviana dizendo isso. Você pode entrar em um site e ver o que pode comer. Todos têm consciência para informar os nutrientes de que a pessoa precisa. Não sou radical. Faço exercícios todo dia. Como perdi 60 quilos, tinha muita pele. Fiz várias cirurgias, mas não no braço, então tenho de malhar sempre.
Quem te deu mais força?
- Acho que a Hebe foi minha madrinha. Em todos os meus momentos de dúvida, ela não falava de comida, mas de amor, de coisas gostosas. Ela me conheceu pouco antes de eu emagrecer. É uma grande incentivadora do viver bem. Sou apaixonada por ela.
Você vai ao analista?
- Duas vezes por semana, já há muitos anos.
E como ele o ajudou?
- Aprendi a repensar sobre o que acontece e sobre o que falo.
Na novela Viver a Vida, há uma personagem que troca a comida pela bebida. Como diferencia quem quer se reeducar de quem busca emagrecer a todo custo?
- A gente toma muito cuidado. Sempre me cerco de nutricionistas e de terapeuta para ver quem nos procura. Estamos há mais de dez anos nesse universo. Já houve casos de pessoas que vieram nos procurar e na mesma hora falamos que o problema era médico. Isso é sério. Falo só do que eu sei.
Vender produtos light, como sua linha GoodLight, é rentável?
- Essa parte de alimentos ficou com a Nestlé, que cuida totalmente da minha linha. Mas posso dizer que o mercado é superpromissor.
Sua família é dona de uma grande rede de supermercados. Mas se todo mundo resolvesse seguir seus conselhos, o supermercado não iria falir, não é?
- De jeito nenhum. Meus produtos também estão lá. Sou contra as calorias vazias, que não servem para nada. Caso da batata frita, do salgadinho. Fora isso é só reeducar.
Hoje já comete alguma extravagância na hora de comer?
- Adoro suflê, mas um completamente absolvido, feito com geleia de goiaba e requeijão. Já é permitido. De pecado mesmo, um risoto. Mas aí também não tem mais pecado, faço esteira todo dia.
O que você nunca mais comeu?
- Feijão. Quando comecei a emagrecer, meus filhos eram pequenos. Eu tinha aquela coisa de mãe, descia, pegava o feijão gelado e comia com um pouquinho com azeite. No começo, senti falta. Nunca mais comi. Estou há mais de 12 anos sem feijão. Que absurdo!
Não tem vontade?
- Não quero resgatar essas histórias com o feijão. Por enquanto, ele está lá sozinho.
Você tem amizade com o Latino e disse que vai colocá-lo na capa de uma revista. Já conseguiu?
- Gosto muito dele, acho ele um ótimo rapaz. Colocá-lo na capa da revista é meu sonho, vamos ver se consigo no ano que vem.
Por que surgiu esse laço?
- Sabe que eu não sei? Eu o conheci pela Ana Maria Braga, a Hebe cuidou dele também. Ele é muito carismático. Me encontro demais nele. Ele me passa alegria. Com ele vou a todas as boates, ele resgata a menina que está aqui dentro.
Agora você pode falar: é bom ser solteira e magra?
- É bom, mas adoro casar. Fui casada três vezes e pretendo casar de novo. O ser humano não nasceu para ficar sozinho.