O ator conta que por ser negro já passou na vida pessoal situações semelhantes às de seu personagem
O ator conta que por ser negro já passou na vida pessoal situações semelhantes às de seu personagem | Foto: João Cotta/Divulgação

Sérgio Malheiros reconhece as situações vividas por Diego em 'Verão 90', novela das 19h da Globo. O personagem já sofreu preconceito por ser negro e também pobre. Na trama, ainda tem de enfrentar muitos outros momentos críticos ao se relacionar com Larissa (Marina Moschen). Não bastasse a cor da pele, a diferença social é apontada por pessoas como Candé (Kayky Brito), irmão da jovem, que não consegue tratar Diego com respeito.

Na entrevista, o ator de 26 anos fala da reflexão sobre racismo e outras questões sociais que a novela levanta, de como se sentiu ao gravar cenas em que foi alvo de preconceito e do relacionamento de Diego com Larissa. Sergio também conta que já passou por situações semelhantes na vida pessoal e como foi crescer com a fama, já que estreou na TV em 2000, no programa 'Gente Inocente', da Globo, e fez bastante sucesso como o Raí de 'Da Cor do Pecado' (Globo, 2004).

Diego levanta, em 'Verão 90', questões como racismo e o preconceito social. Como você tem encarado a responsabilidade de tratar de temas tão importantes?

Fico muito contente por dar voz a um personagem que traz essa luta, que é a mesma que a minha. É de extrema importância levar isso, diariamente, para a casa das pessoas. O Diego é muito do bem, de bom coração, e se incomoda com as situações a que é submetido só por causa da cor. E era uma época em que o racismo foi muito pior do que hoje. Fora isso, ele também levanta a bandeira do relacionamento inter-racial.

Como você se sentiu nas cenas em que o Diego foi acusado de roubo e revistado no ônibus, só por ser negro?

Muito triste. E pensar que isso possa ter feito parte da realidade de tantos jovens negros, não só no passado, mas atualmente também, é horrível. Foi uma cena que me tocou bastante. Sabemos que é uma situação real e eu me coloco muito no lugar das outras pessoas.

Na trama, o Diego se envolve com a Larissa. Certamente, eles terão de enfrentar muita coisa juntos. Qual a sua expectativa para esses momentos do personagem?

Eu acho que vai vir em uma hora certeira no Brasil. É para quebrar esses preconceitos mesmo, tirar esse racismo estrutural que vivemos hoje. Fico contente por levarmos essa história para a novela, pois esse é um produto que atinge muitas pessoas e vai provocar um debate interessante e necessário.

Você já passou por alguma situação de racismo?

Eu acho que a fama blinda muito, mas é claro que, mesmo assim, acabamos passando por isso. A melhor reação é simplesmente estar lá, presente, e ter seu lugar de fala para quebrar cada vez mais isso. O caso mais recente foi com um priminho meu e, na verdade, mexeu muito comigo. Pedi que ele fosse comprar algo para mim em uma loja e, quando ele voltou, falou que os vendedores achavam que ele ia roubar alguma coisa. Ele estava bem chateado e, consequentemente, eu também fiquei.

Você acha que a sociedade está se transformando em relação ao racismo ou, na verdade, as pessoas estão retrocedendo?

Eu acredito que estamos caminhando, sim. Ainda não é o cenário ideal e muito precisa ser feito, mas estamos dando os primeiros passos e isso é o essencial.

Desde criança você trabalha na TV. Como foi crescer lidando com a fama?

Dei a sorte de ter uma estrutura familiar muito boa e que, por consequência, acabou me proporcionando, de certa forma, uma infância normal. É claro que aprendi, desde muito cedo, sobre responsabilidade, trabalho duro e estudo. E o quanto essas três coisas são importantes para que possamos conquistar os nossos objetivos. Não é fácil e senti, em um determinado momento da minha carreira, que tinha de lutar duas vezes para mostrar que eu não era mais aquela criança e estava pronto para outros desafios. Mas sou muito feliz nessa profissão, que me desafia constantemente.