Elisiê Peixoto (Londrina)
PUBLICAÇÃO
sábado, 18 de março de 2000
(Elisiê Peixoto - Londrina) E-mail: [email protected] PERFIL UMA LIÇÃO PARA TODA A VIDA Reconhecido por Poty Lazzarotto como seu natural sucessor, Adoaldo Lenzi diz que, com o mestre, aprendeu a viver com simplicidade Mauro FrassonAdoaldo Lenzi, artista plástico, estudante de Arquitetura e Urbanismo e sócio numa produtora de shows, agora planeja investir numa rede hoteleira Simone Mattos De Curitiba Dois meses antes de morrer, o artista plástico Poty Lazzarotto reconheceu publicamente o curitibano Adoaldo Lenzi Júnior, hoje com 22 anos, como seu natural seguidor. Um ano e nove meses depois, a profecia do mestre vem se solidificando, revelando nas pinceladas do discípulo um jovem e promissor artista. Eclético, ele diversificou suas atividades e não se dedica mais só as artes plásticas. Estudante do 2º ano do curso de Arquitetura e Urbanismo e sócio numa produtora de shows, ele agora faz planos para investir numa rede hoteleira no município de Santa Helena, no Oeste do Estado (600 quilômetros de Curitiba), local que considera um verdadeiro paraíso. Vou lá quatro ou cinco vezes por mês, conta. É a cidade perfeita, com que eu sempre sonhei, pois é calma, bem projetada, limpa, pequena, arborizada e tem uma praia artificial magnífica, com areias brancas e um deck que dá acesso aos barcos, elogia. Com conhecimento de causa de quem adora uma boa pescaria, ele afirma ainda que Santa Helena é o melhor local do País para pescar Tucunaré. Penso em morar lá no futuro, pois Curitiba está muito violenta, não dá mais para sair nas ruas com tranquilidade, diz. Contrariando o gosto comum à maioria das pessoas da sua idade, Lenzi se diz caseiro e afirma que não gosta muito de ir a barzinhos. Programa bom para ele é chamar os amigos em casa e preparar um peixe na grelha ou, nos finais de semana, ir de barco a um local próximo a Ilha das Peças (PR). É um lugar paradisíaco, onde os botos nadam perto da praia. Sessões de cinema e teatro também estão sempre na pauta do artista. Além disso, ele não abre a mão de ir, diariamente, ao Bistrô do Parque Barigui, onde toma um suco e conversa com os amigos. Sem namorada, Lenzi confessa que as artes plásticas são mesmo a sua grande paixão. Precoce, na adolescência o artista já trabalhava em parceria com Poty. Hoje, ilustra livros, pinta telas, trabalha ao lado do pai na confecção de grandes painéis atualmente eles estão fazendo cinco murais que serão instalados no Rio de Janeiro, no projeto Favela/Bairro. Outro trabalho atual é a preparação de uma exposição individual, com o tema Brasil 500 Anos, que será inaugurada em Itaipu no mês de maio. Apesar da pouca idade, o seu currículo já é longo. No ano passado, morou no Rio de Janeiro, onde trabalhou como cenografista na trupe de Osvaldo Montenegro, além de também apresentar exposições paralelas aos shows do artista. Ainda no Rio, gravou 12 vinhetas para a Rede Globo, que deverão entrar nos intervalos comerciais dos filmes ainda nesse ano. Em 1998, Lenzi Júnior esteve em Florença, na Itália, onde estudou Artes na Academia Leonardo da Vinci e realizou a sua primeira exposição internacional na Accademia Nazionale DellArte Antica, em Roma. Na ocasião, o artista curitibano foi comparado pelos italianos ao renascentista Sandro Boticcelli. Recentemente, Lenzi atendeu a reportagem do Folha Gente, no Bistrô do Parque Barigui. Acompanhe trechos da entrevista: Você ficou com uma responsabilidade maior por ter sido nomeado pelo próprio Poty como o seu seguidor? Sim, principalmente logo após a sua morte, quando o assunto foi muito massificado pela imprensa. Depois, isso começou a se diluir, as pessoas perceberam que eu não era o Poty, que o meu traço era muito parecido com o dele, mas que eu tinha o meu trabalho independente... Eu sou o maior fã da obra do Poty, o considero sem dúvidas o melhor artista plástico, mas eu quero ter o meu próprio trabalho. Você tem saudades dele? Tenho, bastante. No final da sua vida, nós trabalhamos juntos o dia inteiro, todos os dias, num mesmo projeto. Eu me apeguei muito a ele. O que você mais aprendeu neste período? Muitas lições de vida, como a humildade e a simplicidade. A forma como Poty tratava as pessoas era incrível... o mesmo tratamento para um diretor de empresa e para o carteiro que entregava a correspondência de manhã, sem nenhuma diferença... Isso pra mim foi a maior lição de vida. Na Itália, o seu trabalho foi comparado ao de Boticelli pelos professores da Accademia Nazionale DellArte Antica. Você concorda com isso? Não, acho que foi uma jogada de marketing da academia, não tem nada a ver. Você se acha precoce? Não. Acho apenas que eu estou investindo e que é isso que eu devo fazer. Mas concordo que com a minha idade é mais normal que as pessoas estejam pensando em comprar jet-sky ou carro novo... Você consegue ganhar dinheiro com as artes plásticas? Ganho, gasto, mas não tenho um ganho médio razoável, pois depende se consigo vender as minhas telas ou não. Tenho dinheiro para sobreviver, mas não para esbanjar. Daqui a alguns anos, você se imagina um arquiteto, artista plástico ou empresário? Não penso nisto. Não sei... Eu sempre adorei arquitetura, amo as artes plásticas, mas acho que com a minha pintura não posso garantir o meu futuro. Foi por isso que iniciei a produtora de shows e o projeto da rede de hotéis. Eles são uma garantia para mim. Quais seus próximos projetos profissionais? Eu e o Mário Gomes (ator de televisão) temos um projeto para fazer cenários para a RAI (Rede Italiana de Televisão). Estamos indo em maio para Roma, para acertar detalhes e fechar contrato.