Ele gostou de ser do mal
Armando Babaioff se diz realizado com o destaque de Diogo na novela 'Bom Sucesso' e conta que se divertiu com o vilão
PUBLICAÇÃO
sábado, 01 de fevereiro de 2020
Armando Babaioff se diz realizado com o destaque de Diogo na novela 'Bom Sucesso' e conta que se divertiu com o vilão
Leonardo Volpato/ Folhapress
Destaque na novela "Bom Sucesso" (Globo) , que terminou no último dia 24, na pele de Diogo, um vilão incontrolável e cheio de trejeitos inusitados, o ator pernambucano Armando Babaioff, 38 anos, afirma que depois de tantas maldades, a morte seria pouco para Diogo.
Nesta entrevista, o ator fala sobre a experiência de fazer seu primeiro vilão na TV, diz que hoje se sente mais preparado para se jogar em desafios e afirma que a vilania o conquistou para futuros trabalhos na TV - e fora dela.
Babaioff conta, ainda, que a relação entre público e personagem mudou completamente na reta final: se antes o maldoso era agraciado, agora ele é mais xingado. "O amor acabou para o Diogo", diverte-se.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Como Diogo te surpreendeu?
Diogo foi um dos maiores desafios que encontrei na carreira. A começar pela sinopse. Eu não sei quem é o Diogo até agora. Diogo não tem nenhuma informação sobre o passado, eu só sei que ele era pobre e detestava aquela vida. Mas quem era de fato a sua família, seus pais, quais eram seus gostos pessoais, nada disso eu encontrei na sinopse. Eu encontrava as respostas no texto da Rosane [Svartman] e do Paulo [Halm]. Cada frase que eu lia do Diogo virava uma verdade. Eu não imaginava que ele fosse cantar, por exemplo. Descobri no texto.
Como foi o processo de criação do personagem?
Diogo sempre foi, para mim, uma página em branco, uma redação tema livre. Então, estava aberto o jogo das possibilidades. Entendi que precisava criar o meu universo para poder existir. Foi assim com o chiclete, a cueca vermelha, o sapato sem meia, mas eu sentia que podia ir um pouco além e quis colocar humor, um humor que já existia no Diogo de forma ácida, debochada. Eu só quis brincar um pouco mais. Queria um humor involuntário. Queria que, apesar de ser o vilão, ele tivesse na sua personalidade certa graça.
Que análise faz do vilão durante a trama?
Eu me diverti! [Tive] colaboração de todos os lados, figurinistas, direção de arte, câmeras, um elenco dos sonhos e um time de autores atentos, que devolvem a bola pronta para o jogo. Nessa jornada, eu tive a oportunidade e o privilégio de trabalhar e conviver diariamente com o Antonio Fagundes, com o Jonas Bloch. Que sorte a minha. Saí mais feliz do que quando comecei.
Gostou de ser mau na TV?
O vilão habita um lugar muito específico na dramaturgia. Ele pode tudo, dentro da coerência do texto. Ele permite o exagero, flerta com o over, tropeça em excessos o tempo todo e isso, para um ator, é piscina cheia. Só mergulhar. É um personagem que desestrutura, um elemento de desordem, ele atropela a moral em busca do que ele acredita, das ambições patéticas que ele tem. No atual cenário que a gente vive, o material de pesquisa está muito próximo, dá para gente traçar paralelos.
Quer fazer outro vilão?
A vilania me ganha, sim, pela possibilidade de jogo, da cena. Porque ele vai nesse lugar, quase didático, de criação do caos. É vivo, é intenso, é ridículo, é um desenho animado. Eu quero bons personagens, não existe um tipo que eu prefira mais, eu quero trabalhar.
Diogo merecia sofrer?
É o que a gente espera. Esse homem fez mal a muita gente. O Diogo matou pessoas. A morte da Jeniffer [Nathalia Altenbernd] é assombrosa, ela é jogada dentro de uma caçamba de lixo. Isso é seríssimo. Ele entra numa guinada imoral muito perigosa.
Sabe dizer a pior maldade dele?
Nossa! Tantas coisas. Diogo fez tantas coisas ruins que eu não acho que seja possível classificar o que é mais pesado.
Tudo o que ele fez tem humor, sarcasmo...
O que me alivia um pouco é que ele era louco, cantava, usava o humor como forma de ataque, ele tinha uma rapidez que às vezes era difícil de assimilar. O cara era um monstro.
Como o povo reagiu ao Diogo?
Nas ruas a repercussão está acentuada. No início da novela as pessoas achavam esquisito achar graça do personagem. O assédio era curioso, tímido. Depois as pessoas se mostraram menos carinhosas, era uma abordagem mais incisiva, uma bronca, sabe? Acho que ficou mais claro que ele era um cara perigoso e louco, né?
E na internet?
As redes sociais são um termômetro absurdo. Eu não consigo ler tudo, mas foi incrível perceber que as pessoas ficaram ligadas na história. Eu sou muito xingado. O amor acabou para o Diogo [risos]. Acho que não consigo mais defendê-lo, não.
Trabalhou muito em "Bom Sucesso"?
O ritmo mais puxado de todos. Eu gravei muito. Foi uma universidade essa novela. Eu sou grato. Grato demais.
Diogo abriu novas portas a você?
Eu posso responder que para mim foi muito importante. Faço mais teatro do que novela, mas faço TV há 13 anos. Nos últimos três anos eu pude compreender esse universo da TV um pouco mais. É apaixonante, vicia mesmo. As portas se abriram antes com o Dennis Carvalho, que me viu no teatro e me convidou para viver o Ionan em 'Segundo Sol'. O mesmo aconteceu com o Luiz Henrique Rios, que resolveu convidar alguém não tão óbvio para fazer o Diogo.
Com que espírito deixa a trama?
Eu me sinto mais preparado. Uma experiência única, que me deu gás para querer explorar mais lugares. Eu repito isso: sou um operário. Tenho esse desejo de trabalhar, de experimentar, de me desafiar.