Doces sabores & ingredientes perfeitos
PUBLICAÇÃO
sábado, 08 de abril de 2000
A nutricionista Adriana Carioba descobriu, na cozinha da fazenda onde passou a infância, a receita para uma nova vida
Dorico da SilvaAdriana Carioba: Ser um mestre confeiteiro na França é como ser um médico ou um advogado no Brasil, você precisa de curso de formação universitária
Iara Lessa
De Londrina
Quando era criança, a especialista em confeitaria francesa Adriana Carioba adorava a grande cozinha da fazenda onde passou a maior parte de sua infância, mas queria mesmo era ser bailarina.
Esta paulista, que chegou a Londrina ainda bebê, ficava fascinada com os odores e sabores que habitavam aquele cômodo, mas resolveu estudar em São Paulo e chegou até mesmo a fazer cursos de dança em Nova York. As sapatilhas foram penduradas cedo devido às dificuldades da carreira.
Adriana, então, acabou optando pela carreira de nutricionista, que pareceu a coisa certa a ser feita. Mas foi durante uma viagem que fez com os pais para o Taiti, que conheceu um lugar perfeito. Um restaurante de comidas pra lá de exóticas. Pratos com ingredientes como barbatana de tubarões e outras excentricidades faziam parte do cardápio. Um lugar e tanto. Cheio de ingredientes diferentes e, para a surpresa de Adriana, a dona era uma brasileira que estava montando uma outra casa do mesmo gênero em São Paulo. Acabei indo trabalhar neste lugar em São Paulo, conta Adriana. Foi uma fase de aprendizado incrível, onde eu realmente entrei em contato com a culinária francesa. Recebíamos sempre a visita de grandes chefes, foi bárbaro, lembra animada.
Mas a casa, talvez devido a sua tendência excêntrica, acabou não dando certo. Adriana foi então parar em uma cozinha de hospital. Lá no hospital, além de conhecer o ex-marido, que é médico, Adriana também constatou que fazer comida para pacientes não era exatamente o que ela pretendia em sua vida. Uma cozinha de hospital é uma loucura, além, é claro, de você não poder carregar em temperos e coisas do gênero, que é, o que realmente eu já buscava, conta.
A experiência foi logo interrompida com a separação matrimonial de Adriana. Então, ela tomou a decisão que iria mudar radicalmente sua vida. Voltou para Londrina. Na época minha filha era ainda muito pequena e, como minha família havia voltado para cá, achei que era a minha melhor opção. Voltei para morar na fazenda, conta.
E foi lá, de volta à velha cozinha que Adriana resolveu misturar seus ingredientes e começar uma receita nova para a sua vida. Logo que eu cheguei pensei: Preciso fazer alguma coisa, já estou de volta na casa de meus pais, preciso ser pelo menos independente, conta. A saborosa idéia surgiu logo. Como o pai de Adriana tem uma fábrica de sucos, ela resolveu aproveitar a estrutura e o velho fogão a lenha e começou a fazer geléias, que logo depois receberam a companhia das tortas. Nascia a Artesanato de Delícias, que foi ganhando terreno na cidade.
Rodeada de doces aromas, não foi difícil para Adriana colocar a mão na massa de fato. Como o negócio com as geléias estava dando certo, comecei a me aprimorar mais. Com o dinheiro que conseguia, ia fazendo cursos para melhorar minha técnica e conhecer outras. Como as pessoas da cidade estavam sendo generosas e aceitando meus produtos, já que nesta região aqui é mais acentuada a culinária italiana, achei que era a hora de apostar fundo na minha formação, conta.
E foi então que aconteceu: uma sucessão de estágios e cursos em restaurantes, confeitarias e escolas de culinária em várias regiões da França. Ser um mestre confeiteiro na França é como ser um médico ou um advogado no Brasil, você precisa de curso de formação universitária, tem diploma. Os franceses têm o maior respeito por estes profissionais. Claro que lavei muita louça até conseguir pegar em uma colher e mexer alguma coisa dentro de uma panela, mas só de estar naquelas cozinhas, com os maiores mestres, os melhores fornos, as melhores receitas, já era fantástico, revela.
Agora Adriana quer aumentar um pouco seu foco de atuação e pretende dividir parte de seus conhecimentos com quem gosta de culinária francesa. O que mais sinto falta é das discussões que tínhamos na França sobre confeitaria. Era a hora de descobrir segredos, obter novas receitas, enfim, trocar informações. Pretendo fazer isto por aqui. Mas ainda não tenho data para começar este novo trabalho, diz.
Em tempo, Adriana revela que o segredo de ser um boa confeiteira e não atingir os 160 quilos é simples. Não existe mais isto de se empanturrar de coisas doces, e sim, é preciso aproveitar o sabor. Então, um bom doce deve satisfazer com apenas um pedaço. Mas, no meu caso, malhar ajuda muito.
