Muitas vezes, atos simples do dia a dia podem acabar se tornando algo muito maior. Quando embarcou para o Quênia em outubro do ano passado, Giovana Montosa, 24, não imaginou que aquele mês de trabalho voluntário se tornaria algo muito maior: o projeto Hafura, que busca levar conhecimento às mulheres de forma a melhorar a vida de toda a comunidade.

Formada em Design de Moda pela FAAP, ela trabalhou para grandes marcas e buscava um projeto social em que pudesse atuar quando conheceu a Miaf (Missão Para o Interior da África), uma agência missionária cristã internacional.

“Eu tinha pouca experiência em trabalho voluntário, eram coisas pontuais. Eu sentia a necessidade de largar tudo e viver essa experiência. Eu não queria ir para fora, quando comecei busquei dentro do País, mas nada ia dando certo, aí que surgiu a Miaf e eles conseguiram que fosse naquele mesmo ano”, conta.

Ela foi para a vila Ali Boro, situada em Hurri Hills Villages, uma região sem energia elétrica e sem água encanada, onde a cidade mais próxima fica a 150 km, mas cujo trajeto leva em média quatro horas por causa da estrada precária. “Fui sem intenção de começar nenhum projeto, para ficar com um casal de brasileiros missionários (Edilson e Solange Ote Silva), para ajudar com crianças”, descreve.

Foi lá que conheceu Nasibu, uma mulher que tinha uma máquina de costura quebrada e ao descobrir que Montosa sabia costurar, pediu para aprender. Nesse período apareceu na vila uma pessoa que conseguiu consertar a máquina e ela pôde ensinar algumas coisas simples, como passar a linha na agulha.

“Não tinha material mas deu para ver o interesse que ela tinha. Nesse mesmo período um grupo de mulheres mostrou interesse em começar a se reunir com a Sol (Solange) toda semana para aprender mais, queriam aprender a plantar porque ganharam um terreno. Nós já tínhamos conversado sobre como as mulheres têm uma força muito grande”, diz.

Surgiu o projeto Hafura, que significa “respirar, espírito, sopro de vida”. De volta ao Brasil, Montosa começou a conversar com amigos para saber quem gostaria de ajudar na nova missão. Foi então que ela se reencontrou com Giovanna Fogaça, 27, londrinense, formada em Arquitetura pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) e que também estava morando em São Paulo. Fogaça estava terminando uma pós-graduação em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas, tinha deixado o trabalho em um escritório de arquitetura e trabalhava na loja de sua mãe, onde cuidava da parte de criação de peças para decoração de casa.

"Quando fiquei sabendo (do projeto) me tocou muito e eu sabia que queria fazer parte disso. Tive muito contato com administração de projetos e trabalho um pouco com artes gráficas e artes manuais. Quando eu fui procurar a Gi (Giovana Montosa), eu quis estruturar o projeto, criar um material, e nós começamos então a pensar em detalhes na nossa missão, nos nossos valores, a escrever o material. Ajudei a formalizar a parte gráfica, estruturamos o site, Instagram, para lançar o projeto", conta ela.

Com parceria com escolas, igrejas e pessoas físicas que apadrinharam as alunas, as duas voluntárias voltam neste mês para o Quênia, dessa vez na companhia de Sirlene Ote Wiechert, que tem grande experiência em costurar produtos para casa e enxoval de bebê, para uma temporada de três meses. O objetivo é atender cerca de 60 mulheres, a maioria analfabetas, ensinando-as a costurar e a vender seus produtos: cobertores infantis, fraldas e absorventes de pano.

Futuramente, dependendo do interesse das alunas, serão ensinadas peças de decoração para casa ou o que mais desejarem. Além de comercializadas na região, as peças deverão ser trazidas para o Brasil, para que se tornem renda para as mulheres e ajude a tornar o projeto autossustentável.

O objetivo é que a partir dessa experiência inicial o projeto possa ser levado para outros locais. “Temos várias conexões e em breve esperamos que Londrina seja o próximo local, já que ambas somos londrinenses”, afirma Fogaça.