A marca das irmãs Alcântara; ouça podcast
Curitibanas contam como transformaram um blog de moda em um lucrativo grupo de marcas, o Orna
PUBLICAÇÃO
sábado, 22 de junho de 2019
Curitibanas contam como transformaram um blog de moda em um lucrativo grupo de marcas, o Orna
Rafael Costa - Grupo Folha

Há alguns anos, ganhou força na internet a ideia de que é possível empreender e formar uma clientela antes mesmo de ter alguma coisa à venda. A estratégia é, primeiro, conquistar um público fiel com textos, fotos e vídeos interessantes (o que se conhece neste meio simplesmente como “conteúdo”). O produto ou serviço vem depois.
A lógica parece contrariar o senso comum sobre como se começa um negócio, mas tem exemplos bem-sucedidos — um deles, no Paraná. Trata-se do grupo Orna, das irmãs curitibanas Bárbara, Débora e Julia Alcântara. Ou, apenas, as “irmãs Alcântara”.
É um “case”, como se diz. Aos 33, 31 e 28, respectivamente, elas comandam uma holding que reúne uma marca de bolsas e uma de maquiagem, um café em Curitiba e uma escola de branding, com faturamento total, em 2018, de R$ 2,5 milhões por ano. Tudo a partir de um blog que elas criaram em 2010 para dar dicas sobre moda e beleza e publicar fotos de “looks” que experimentavam.
O “Tudo Orna” ganhou visibilidade já no primeiro ano, e as irmãs — que têm formações nas áreas de comunicação, design e marketing, e já estavam neste mercado — apostaram as fichas nele.
Em uma entrevista concedida à FOLHA ao lado de Bárbara, em junho, Débora contou que as irmãs viram no blog uma oportunidade de negócio desde o começo, embora se tratasse de um empreendimento de menor complexidade e sem perspectiva de retorno imediato. “Inclusive, foi esse o fator que nos destacou dentre vários profissionais que faziam produção de conteúdo”, disse. “O que nos diferenciava, de fato era o profissionalismo. Em pouco tempo a gente começou a fechar contratos, ‘monetizar’ nosso negócios”, conta.
Elas lembraram que em 2010, quando criaram o blog, o modelo de negócio do “marketing de conteúdo” — assim como o filão dos “influenciadores”, em que elas também se destacam — ainda engatinhava. Era uma aposta incerta em um mercado ainda pioneiro por aqui.
“Imagina a preocupação dos nossos pais. As três, recém-formadas, se envolvendo com um negócio que não deu dinheiro logo de cara. Se fosse uma… mas as três filhas?”, conta Bárbara — lembrando dos emails com links para concursos públicos que a mãe das jovens, discretamente, encaminhava nesta época.
“Era muito difícil comunicar o que a gente estava fazendo, desde amigos e parentes até para o mercado”, conta Débora. “Não foi um período fácil.”
O blog também servia como uma espécie de laboratório para as irmãs, que também já trabalhavam juntas em uma produtora de vídeos criada por Bárbara em 2009. Já interessadas nas possibilidades oferecidas por YouTube e redes sociais, elas passaram a aplicar no Tudo Orna ideias que não conseguiam emplacar com clientes ainda desinteressados nestas ferramentas.
“Era uma forma de usarmos nossa criatividade e a nossa visão de futuro na comunicação”, conta Bárbara.
Hoje, elas têm públicos consistentes em diferentes canais — Instagram (238 mil seguidores), YouTube (113 mil inscritos), Pinterest (502 mil seguidores) e LinkedIn. Contabilizando as contas dos pets, são 39.
Elas já contaram que trabalhar entre irmãs é uma vantagem, e que o espírito empreendedor estimulado pela família foi uma vantagem. O apoio dos pais, aliás, foi um privilégio. “O mercado foi mais cruel, mas a nossa família tem um grande peso em nos encorajar”, lembra Débora — contando que hoje procura dar este tipo de suporte às mulheres que procuram orientações no projeto de educação do grupo (batizado de “Efeito Orna”).
“Quando a gente começou a trabalhar ajudando outras pessoas, percebeu que a ajuda ia além de ensinar a técnica. A gente via que elas não tinham em casa esse ‘vamos lá, acredito em você’”, explica Débora — que, na divisão do grupo, atua como a CEO do braço educacional, enquanto Bárbara comanda a parte administrativa das empresas e Julia, atualmente morando em Miami, nos Estados Unidos, está à frente das marcas de produto e do projeto de internacionalização.
A expansão internacional está entre os planos das irmãs — que, em suas próprias palavras, não estabelecem um limite para crescer.
“Estamos em processo de acelerar o negócio, de um supercrescimento, visando aportes, entrada de investidores”, explicou Débora.
As irmãs também já têm um contrato assinado para publicar uma biografia.
“Uma marca se torna valiosa, primeiro, pelos valores que ela carrega. Segundo, pela história”, ensina Débora, descrevendo a trajetória das irmãs como uma narrativa de “superação e resiliência” e valorização de origens. Ela conta que, neste meio, era comum blogueiras de moda omitirem que eram de fora do eixo Rio–São Paulo. Para elas, o fato de serem de Curitiba deveria ser valorizado, e assim foi feito.
A soma de tudo isso — suas preferências sobre cores e estilos, suas histórias mais pessoais, as fotos dos bichos, os vídeos com “50 fatos” sobre cada uma, a reforma do apartamento, a organização do casamento — é o que dá valor à marca que hoje estampa as bolsas, os cosméticos e o café. Os fãs vieram antes.
“[O valor] inclui demonstrar que, por trás de uma marca, existem pessoas. E que elas são pessoas que erram, que acertam, que têm uma jornada, uma família. Que são pessoas reais”, teoriza Débora. “O valor percebido pelo público é isso. É a história, é quem a gente é.”
Ouça a entrevista no FOLHACast:

