Imagem ilustrativa da imagem Estudo por eixos temáticos permite maior clareza para desenvolver a redação
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Todos os anos, desde a sua criação, em 1998, os temas da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) são alvos de muita discussão. O caráter de "surpresa" alegado por alguns candidatos quanto aos assuntos em que deve ser elaborado o texto dissertativo-argumentativo pode ter uma explicação e também uma saída.

“O Enem é muito coerente (nos temas) com o que pede. Todos são assuntos de suma importância”, pontuou o professor de redação do Colégio Marista de Londrina, Tiago Buranello. Tomando como exemplo o tema da redação do ano passado, “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”, o professor aponta que as críticas feitas por candidatos de todo o país carecem de coerência. “Falou-se muito sobre a cultura e a falta de verbas. Existe uma frustração porque eles (alunos) podem ter se apegado somente às notícias que foram capa de jornais e revistas, e ter passado desapercebido por este tema. Por isso acham que aquilo que caiu não é 'atual'. O aluno deve mudar a forma com que enxerga o Enem, assim como no estudo das atualidades”, afirmou.

Para acabar com a adivinhação de temas, segundo ele os estudos devem focar-se em cima dos chamados eixos temáticos, como saúde, educação, economia e cultura. Buranello elencou um tema que já caiu em edições anteriores, junto a uma sugestão de assunto a ser abordado. "Em 2017, o tema abordou os desafios para a formação educacional de surdos no país. Diz respeito à educação, assim como a inserção de metodologias digitais, assunto discutido nos dias de hoje. São temas que levam a um mesmo eixo temático: educação".

Dentro desse contexto, até mesmo palavras-chave como "violência" são passíveis de se transformarem em temas da redação: "A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?" (2003), "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira" (2015) e "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil" (2016)" são exemplos disso. "Se aparecer um tema sobre LGBTs ou indígenas e quilombolas, eu vou ligar que esses grupos são minorias, e isso (minorias) é o que devo estudar". Outro ponto desmistificado no estudo por eixos temáticos, acrescenta Tiago Buranello, é a falta de argumentação. "Se o aluno se basear por algum filósofo e sociólogo que fale sobre o tema proposto, ele pode usar esse pensador em vários temas, porque estudou justamente o eixo”, acrescentou.

Temas baseados em leis

Nem sempre temas polêmicos e a aprovação de leis de grande interesse serão cartas marcadas para virar assunto da redação no ápice de sua discussão. Como o Enem é uma prova organizada pelo governo federal, as polêmicas passam longe de serem tratadas na redação. Já para o segundo ponto, não existe uma regra definida, mas a impressão transmitida é de que o exame espera uma possível mudança no comportamento social resultante da lei, em vez de abordá-lo de imediato. Exemplos são a Lei Seca, de 2008, tema da redação em 2013 ("Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil"). Em 2000, o tema "Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional?", exatamente dez anos depois da promulgação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e da abordagem sobre o trabalho infantil (2005) anos depois de instaurada a Lei de Aprendizagem (2000).

Sob outra perspectiva, o tema da redação do Enem em 2014, aplicada em novembro - "Publicidade infantil em questão no Brasil" - foi baseada em uma lei aprovada em abril do mesmo ano que considera abusiva e proíbe a prática. "Foi uma das exceções, porque quase não houve polêmicas na sua tramitação". Próximo disso foi a edição de 2012, que falou sobre os movimentos imigratórios, dois anos depois do terremoto que devastou o Haiti. "Por mais que fosse próximo, ainda houve tempo para desenvolvimento (do tema) na sociedade", complementou Buranello.