Durante a preparação para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), os candidatos ficam sempre muitos ansiosos para saber qual será o tema da redação. Apesar das especulações de ‘vazamento’, a verdade é que não dá para saber o que vai aparecer na prova, por isso é importante que o candidato esteja preparado para escrever sobre diversos assuntos que têm relevância e impacto na sociedade. Dessa forma, em parceria com o Colégio Marista, a Folha vai trazer 14 sugestões de temas que podem aparecer na redação do Enem 2023.

Larissa Sigulo Freire, professora de redação do Colégio Marista de Londrina, ressalta que o Enem escolhe a temática da redação de acordo com assuntos de relevância pública e social que provocam discussões sobre problemas da sociedade. Ela exemplifica que em edições anteriores do Enem já aparecem temas ligados aos surdos em um contexto escolar e sobre pessoas sem documentos, remetendo à questão da cidadania.

“São sempre temas relevantes ao público que vão causar a discussão sobre diversas problemáticas”, pontua. Segundo ela, os alunos precisam ficar atentos ao fato de que o tema da redação escolhido sempre vai remeter a problemáticas e que é função do aluno, durante a construção do texto, sugerir formas de amenizar ou resolver o problema levantado.

CHANCES DE APARECER NA PROVA

Apesar de todas as apostas sobre o tema da redação a cada Enem, a professora alerta que não é possível cravar o que vai aparecer na prova, por isso é fundamental que os candidatos trabalhem alguns eixos-temáticos que têm chance de aparecer por serem relevantes à sociedade.

Segundo ela, a questão da tecnologia está muito forte neste ano, assim como a temática do meio ambiente e da doação de órgãos. “São temas atuais e que levantam questionamentos à sociedade e, com isso, se tornam mais visados, mas não quer dizer que seja uma certeza. É algo que a gente especula, mas não pode bater o martelo”, ressalta.

Elaborada pelos professores de redação do Colégio Marista, Freire comentou sobre 14 temas que podem surgir. A FOLHA publica nesta segunda-feira (30) os sete primeiros assuntos. Na edição de quarta-feira (1), teremos as outras sete sugestões.

Doação de órgãos

Doação de órgãos, tema que pode ser aposta para a prova de redação
Doação de órgãos, tema que pode ser aposta para a prova de redação | Foto: iStock

Um tema que foi parar na ‘boca do povo’ nos últimos meses foi a doação de órgãos, principalmente pelo fato de que o apresentador Faustão teve que passar por um transplante de coração. Sobre a temática, a professora ressalta que ela pode ser cobrada na prova como forma de discutir o tabu que a doação de órgãos ainda é vista entre as pessoas. “Muitas vezes a pessoa se declara como doadora e a família rejeita a decisão no pós-morte, então [o Enem] pode ir mais para esse lado de como conscientizar a população e de que medidas e soluções poderiam ser tomadas para aumentar o número de doadores”, opina.

Precarização das relações de trabalho

Imagem ilustrativa da imagem Confira alguns temas que podem ser cobrados na redação do Enem
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Freire pontua que o Enem pode debater sobre a uberização do trabalho, levando em conta a discussão recente de que motoristas de aplicativo e entregadores devem ter registro em carteira. “Então pode aparecer algo relacionado aos caminhos para que esses profissionais tenham essa dignidade através do trabalho [que exercem], ou seja, uma forma de se minimizar os prejuízos desse trabalho liberal e terceirizado”, explica, ressaltando que o Enem pode cobrar do candidato formas de conciliar as relações mais flexíveis com a dignidade no trabalho. Para esse tipo de proposta, a professora alerta que os estudantes devem ficar atentos a termos atuais, como uberização, terceirização e trabalho liberal.

Segurança alimentar

A professora diz que o Enem pode trazer uma discussão atual sobre o problema como uma ‘sequela’ da pandemia, ressaltando as formas com que a Covid-19 agravou a questão da insegurança alimentar - até mesmo por conta da precarização do trabalho. Entretanto, ela ressalta que esse é um problema histórico no Brasil. “Os alunos podem utilizar o contexto pandêmico para usar o argumento da exemplificação, mas eles precisam ficar atentos ao fato de que essa não é uma problemática nova e que é algo que o Brasil vem enfrentando há décadas”, alerta.

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Sustentabilidade

Sobre o tema, Freire opina que ele pode aparecer através de dois diferentes vieses: o primeiro é a sustentabilidade voltada para o cidadão, como medidas que ele pode tomar para garantir a preservação do meio ambiente; e o segundo abrange a parte governamental e empresarial, que pode ou não ter como foco a indústria do agronegócio. “Pode ser que o próprio tema [da redação] já encaminhe uma proposta de intervenção voltada para a sociedade, para o indivíduo ou para as empresas. Caso não tenha essa determinação do comando, o candidato é livre para poder encaminhar a proposta de intervenção dele para qualquer um desses lados, que vai depender do posicionamento dele e de toda a argumentação que ele usou durante o texto”, explica.

Dependência química e pessoas em situação de rua

Apesar da possibilidade de fazer uma relação entre esses dois assuntos, a professora acredita que a tendência é que, caso apareçam, sejam trabalhados separadamente. Sobre a dependência química, ela aponta que pode aparecer como um problema de saúde pública, também levando em conta a discussão ainda recente sobre a legalização das drogas; já as pessoas em situação, o Enem pode relacionar a uma questão econômica após a pandemia. “O aluno tem que ter essa atenção de não generalizar a população em situação de rua. É claro que ele pode usar esse argumento da dependência química, mas ele precisa deixar claro que não é o único fator que pode levar às pessoas para a rua”, pontua.

Maternidade, relacionamentos tóxicos e alienação parental

Freire pontua que os estudantes precisam ficar atentos às leis e suas aplicações, principalmente relacionadas à questão da guarda compartilhada e na agilidade do processo. “Tem muitas crianças que ficam em lares tóxicos em que os pais não se dão bem, se agridem e isso acontece por conta da morosidade da justiça, que ainda não conseguiu agilizar os processos”, explica, acrescentando que o candidato deve sempre levar em consideração os problemas que afetam o coletivo.

Evasão escolar e homeschooling

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Segundo a professora, a evasão escolar é um problema crônico do Brasil, que pode ser abordado pelo viés da falta de uma educação pública de qualidade, assim como relacionado à tecnologia. “A evasão escolar acontece por questões sociais, econômicas, em que muitas crianças e adolescentes precisam abandonar a escola para fazer o complemento da renda. Porém, muitos não veem mais a aplicação da educação formal por conta da carreira na tecnologia, que é onde também entra o homeschooling”, explica. Ela pontua que, dependendo do comando proposto, o aluno pode utilizar o homeschooling como uma possível solução para a evasão escolar ou, por outro lado, como um agravante para esse cenário.