Candidatos podem usar filmes e séries como argumentação na redação do Enem
Professora Laís Souza Sorace afirma que os estudantes não precisam ficar presos a teóricos ou à Constituição para construir um bom texto
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segunda-feira, 21 de agosto de 2023
Professora Laís Souza Sorace afirma que os estudantes não precisam ficar presos a teóricos ou à Constituição para construir um bom texto
Jessica Sabbadini - Especial para a Folha

Amada por alguns e temida por muitos, a redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) tira o sono dos candidatos que buscam a tão sonhada vaga na universidade. É fato que a maioria dos estudantes fica ansioso para saber qual será o tema da redação a cada edição da prova. Mas se tem outra coisa que mexe com a cabeça das pessoas é o que usar como citação na hora de argumentar a famosa tese. Filósofos, historiadores e a Constituição Federal são os clássicos, mas séries, filmes e até mesmo as redes sociais podem ajudar a tirar aquela nota mil.
Laís Souza Sorace, professora de redação no Colégio Marista, em Londrina, explica que a prova do Enem exige uma redação dissertativa-argumentativa, ou seja, o aluno precisa apontar um problema, sustentar ele com argumentos e, então, sugerir uma possível forma de atenuar essa questão.
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No dia da prova, quando o candidato abre a página da redação, a professora ressalta que a primeira coisa que o aluno precisa fazer é ler a frase-tema da redação, que aparece destacada em negrito. Na sequência, ele deve transformar a frase em uma pergunta, que vai gerar a tese - o problema - que o aluno vai defender durante o texto e "resolver" ao final.

Textos de apoio
Feito isso é que o candidato deve partir para a leitura dos textos de apoio. “Isso permite com que ele formule uma tese sem a influência dos textos de apoio. O Enem leva isso em consideração: se você atém a defesa do seu posicionamento ao texto de apoio, você vai ter um decréscimo na nota”, explica. Portanto, os textos de apoio podem ser utilizados para reunir informações para sustentar o posicionamento que ele já tomou em relação ao tema.
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A partir dessa elaboração da tese, o aluno já entra nos parágrafos de sustentação, ou seja, em que ele vai levantar argumentos que corroborem com o posicionamento dele diante da temática da redação. Sorace ressalta que os alunos se apegam muito às citações, mas que não é obrigatório utilizar teóricos, filósofos, sociólogos ou a Constituição Federal para trazer força argumentativa para o texto. Segundo ela, em alguns casos, isso pode mais atrapalhar do que ajudar.
`Fuga das Galinhas´ e o sistema prisional brasileiro
A professora de redação explica que os alunos podem, nesses dois parágrafos de desenvolvimento, utilizar séries, filmes e até mesmo referências das redes sociais para construir uma argumentação válida. Em sala de aula, ela detalha que um de seus alunos utilizou a animação "Fuga das Galinhas" em um texto sobre o sistema prisional brasileiro. “A princípio, parecia uma ideia louca, mas conforme você vai lendo você percebe que faz sentido”, conta. Esse “fazer sentido” é o que ela chama de saber articular e estruturar um texto: “mais importante do que o que dizer é como dizer”.
Causa e consequência
Séries populares como "Grey’s Anatomy" ou "Black Mirror" podem ser utilizadas para discutir temas éticos, o uso excessivo da tecnologia e questões atuais, por exemplo, basta que o aluno saiba como aproveitar isso dentro do texto. Além disso, a professora de redação ressalta que existem outras possibilidades de argumentação, como o uso de causa e consequência, que é o raciocínio lógico, a exemplificação e a comparação. “Isso agrega valor e demonstra que você tem condições de sustentar aquele posicionamento que você pretende defender”, pontua.
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Após os parágrafos de argumentação, a última parte da redação, para fechar com chave de ouro, é uma proposta de intervenção para amenizar ou atenuar o problema discutido no restante do texto. Laís Souza Sorace explica que o candidato precisa retomar no início do parágrafo a tese, reforçando o posicionamento que foi defendido e, então, propor uma possível solução para o problema.
Prático, aplicável e coerente
Entretanto, a professora alerta que o aluno não precisa trazer uma ideia que vai resolver, mas algo que poderia minimizar ou atenuar o problema. “Deve ser algo prático, aplicável e coerente com a realidade”, alerta. Além disso, o detalhamento também é fundamental: ao dizer que “o governo tem que” fazer determinada coisa, o candidato precisa especificar se é no âmbito municipal, estadual ou federal, de que maneira ele pode atuar e se é algo a curto, médio ou longo prazo.
Pode parecer muita coisa, mas quatro parágrafos são suficientes para concluir uma boa redação, segundo a professora. Apesar de o Enem colocar um mínimo de sete linhas, Sorace considera quase impossível construir um texto dissertativo-argumentativo com bom parágrafo de introdução, um desenvolvimento coerente e trabalhar com uma proposta de intervenção em menos de 20 linhas.
Já em relação ao título, a professora destaca que o candidato não perde pontos por não colocar, já que não é obrigatório na redação do Enem, mas que a nota cai se ele colocar um ruim. “Então, na dúvida: não coloque”, aconselha.

