Quando um aluno vai começar a estudar para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e dá de cara com os inúmeros conteúdos que podem aparecer na prova, o desespero vem. Sem saber por onde começar ou o que priorizar, muitas vezes eles acabam deixando de lado alguns conteúdos importantes e focando em coisas que têm uma grande chance de não aparecerem em nenhuma questão.

Como parte do caderno de linguagens, as questões de literatura e arte tendem a sempre ter como foco o Brasil e estarem ligadas aos movimentos artísticos e culturais contemporâneos, ou seja, ao que está sendo produzido agora, como explica o professor de literatura do Colégio Marista, Abilio Junior. Por isso, ele ressalta que é muito importante que o candidato esteja antenado ao que acontece no país no cenário cultural, artístico e literário. “É isso que o Enem sempre vai cobrar, aquilo que é nosso”, pontua.

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Junior destaca que a Semana de Arte Moderna de 1922 pode ser considerada como a ‘menina dos olhos do Enem’ por ser o momento de desenvolvimento de uma cultura brasileira e que é possível associar com muitas das coisas que estão acontecendo em 2023. “[Em um século] não foi tanta coisa que mudou desde então, a gente olha para obras artísticas e literárias e vê que muita coisa permanece e o Enem sempre vai buscar essa relação com a realidade, tanto nas questões como na proposta de redação”, afirma.

Por ter o Brasil como protagonista, o professor explica que é muito difícil aparecerem questões sobre o período da Idade Média até o final da literatura colonial, que é o Arcadismo. “Talvez por termos passado os 200 anos da Independência [do Brasil] caia alguma coisa do Quinhentismo, que é a carta do Pero Vaz de Caminha e o processo de colonização”, opina. Segundo ele, nesse período há uma influência muito grande da Europa e o Brasil ainda não tem um processo de produção cultural autônoma.

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O professor de literatura detalha que há uma maior probabilidade de que a prova aborde os movimentos literários característicos do país, como o romantismo, o realismo e o modernismo, que é o símbolo do início da cultura brasileira. Já na arte, o raciocínio é o mesmo: é muito pouco provável que o Enem cobre expressões artísticas que não aconteceram no Brasil, como o renascimento, a arte medieval, a romana e a bizantina. Segundo Abílio Junior, o aluno tem que focar a partir de 1700, que é o barroco tardio brasileiro, com Aleijadinho e Mestre Ataíde, e a partir daí o neoclassicismo, o romantismo e o realismo.

Voltando para a literatura, o professor explica que sempre recomenda alguns autores que não podem faltar na lista de leitura de quem pretende fazer o Enem. Segundo ele, se o aluno entender uma obra do autor, ele pode responder questões sobre outras obras mesmo sem ter lido. Ele detalha que isso é possível porque o Enem não tem uma lista definida de livros, então ele não pode cobrar acontecimentos específicos de um determinado capítulo de um determinado livro.

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Um dos autores essenciais para quem quer ir bem na prova é Machado de Assis. O professor orienta que o aluno pode escolher alguma obra famosa, como Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, ou até mesmo contos, como O Alienista e A Cartomante, que vão ajudar a entender o modelo de trabalho do autor, que abrange o período do Brasil Pré-República, por volta do final do século XIX.

Na transição do século XIX para o XX, já no Brasil República, o professor lista Lima Barreto, autor de Clara dos Anjos e Triste Fim de Policarpo Quaresma. “Ambos [Machado de Assis e Lima Barreto] têm uma visão muito crítica do Brasil, mas que são bem diferentes, então é legal porque há uma pluralidade de visões, o aluno que entende a visão do Machado e do Lima Barreto consegue contrastar e comparar isso”, explica.

Já na década de 1930, no Governo Vargas, a leitura de alguma obra de Graciliano Ramos é fundamental para estar preparado para a prova - e nem precisa ser Vidas Secas que, embora seja o mais famoso, pode ser um livro denso. “São vários ‘Brasis’ que acontecem em um curto período de tempo que ajudam o aluno a entender não só o contexto literário mas também político, social, econômico, que também pode ajudar em outras questões [da prova]”, aconselha.

Retrato da escritora Clarice Lispector: autores brasileiros devem estar no radar dos estudantes que vão prestar o Enem
Retrato da escritora Clarice Lispector: autores brasileiros devem estar no radar dos estudantes que vão prestar o Enem | Foto: Folhapress

Na virada de chave do modernismo para o contemporâneo, por volta de 1945, a Clarice Lispector, diferente dos demais autores da lista, busca um ‘olhar para dentro de si’, ou seja, uma literatura existencialista.

Na poesia, Abilio Junior lista que não dá para fugir de autores como: Castro Alves com a poesia social no romantismo; Olavo Bilac com uma poesia nacionalista; e Augusto dos Anjos com a poesia mais científica. E claro, os modernistas, como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.