Dos três estados do Sul do País - Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ,- o único prefeito eleito em 2020 que se autodeclarou preto foi o atual chefe do Executivo do município de Lidianópolis (Vale do Ivaí), Adauto Mandu (Podemos), que conseguiu a reeleição. Mandu foi reeleito com 2.180 votos (82,2%), um percentual bem mais confortável do que quatro anos atrás, quando sua vitória chegou com 50.21% do total, uma diferença de apenas 12 votos em relação ao segundo colocado.

Imagem ilustrativa da imagem Lidianópolis terá o único prefeito autodeclarado preto da região Sul
| Foto: Divulgação

"Me sinto bem de ter sido eleito, mas um pouco triste, porque poderia ter mais pretos nesses três estados. Não sei se tem mais algum candidato que se autodeclarou preto, mas poderia ter mais.” Mandu ressaltou que ser preto no Brasil é uma luta constante. “No Brasil tem racismo sim e temos que nos reinventar para superar isso e mostrar que somos capazes. Mas não podemos nos vitimizar”, declarou.

Ele exemplificou o racismo que sente no cargo de prefeito. “Já tive reuniões em que fui com o vice-prefeito e se a pessoa não me conhece, automaticamente se dirige ao meu vice e o trata como prefeito. No começo do meu mandato isso me incomodou muito. É errado isso. Não aconteceu uma ou duas vezes. Se sou prefeito é por minha competência. Infelizmente isso acontece. Não é conversa. Não é lenda”, disse.

Mandu ponderou que não sente o preconceito em Lidianópolis. “Eu moro em uma cidade pequena. Eu não tive nenhum preconceito na cidade por ser um candidato preto. Em uma cidade maior, que abrange mais pessoas, deve ter algum tipo de racismo de eleger pretos. Aqui não sofri nenhum tipo de preconceito”, garantiu. O problema maior é quando ele sai da cidade. “Eu estava conversando com outros prefeitos da região e relatando que sempre quando vou ao aeroporto junto com eles, na hora da revista, eu sou o único parado. Nunca acontece com eles. O preconceito que a gente sente vem de pessoas que enxergam o preto com inferioridade. São aqueles que acham que se o preto estiver dirigindo é motorista, se estiver ao lado do motorista é segurança”, afirmou.

OFENSA

O prefeito reeleito contou à reportagem ainda que já foi chamado de "macaco" por um policial, mas que não presenciou a cena. “Ele não falou diretamente para mim, mas uma equipe minha o escutou falando: ‘Olha, o macaco chegou’. Não quis entrar com processo, mas simplesmente pedi para não manter aquele policial na cidade. Se eu tivesse escutado na hora não sei como seria a minha reação”, destacou.

Ele afirmou que não foi eleito para criar políticas afirmativas para a comunidade preta. “No primeiro mandato buscavam um governo diferente e acreditaram na minha proposta e na minha história de vida. Ganhamos a primeira eleição com 12 votos de diferença e viram em mim a mudança. Não posso falar que foi a cor que me ajudou a eleger, mas pela minha capacidade administrativa.” O fato do município ser pequeno e ter recursos limitados o fez investir na agricultura. “Vim da agricultura familiar e investimos na distribuição de mudas e na prestação de assistência técnica aos pequenos agricultores. Exploramos isso aí para gerar renda para quem não tinha condições, mas tinha uma pequena chácara. Provamos que eles conseguiriam um faturamento melhor”, destacou.

"A gente tenta fazer a inclusão por meio dos esportes nas escolas e luto pela inclusão das pessoas pretas nos conselhos. Fiz questão que uma pessoa preta da Vila Rural fosse candidata a vereadora e ela foi eleita. Mas projeto específico para preto não fiz. Daria para estudar isso", disse.

PERFIL

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral ) informou que houve apenas 24 candidatos a prefeito que se autodeclararam pretos no Paraná. Considerando todos os cargos em disputa no País, foram 267.928 candidatos que se autodeclararam brancos (48,07%), 220.251 pardos (39,51%), 58.686 se declararam pretos (10,53%), 6.365 não forneceram informação (1,14%), 2.216 se declararam indígenas (0,4%) e 1.960 se autodenominaram amarelos (0,35%).