Eleições 2020| Tiago Amaral: 'Queremos investimento privado na criação de parques industriais'
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sexta-feira, 30 de outubro de 2020
Guilherme Marconi - Grupo Folha
O deputado estadual Tiago Amaral (PSB) encerra a série de entrevistas com os candidatos a prefeito de Londrina promovida pela FOLHA. Na segundo mandato na AL (Assembleia Legislativa), Amaral parte para a primeira disputa no Executivo com apoio do governador Ratinho Junior (PSD).
O desenvolvimento econômico é a tônica da entrevista a seguir, que trata de proposta de atração de empregos, infraestrutura, e plano diretor. Outros gargalos na saúde e previdência municipal foram abordados pelo candidato que classifica o sistema público municipal como "extremamente desorganizado".
Por que o senhor pretende deixar sua cadeira na Assembleia Legislativa para ser prefeito de Londrina?
Com a certeza de que o desenvolvimento, que é minha principal bandeira para o Norte do Paraná e para Londrina, realmente só se torna efetivo se nós conseguirmos implementar em Londrina uma mentalidade desenvolvimentista, voltada para geração de renda, de riqueza e empregos. Fazer isso como deputado é muito limitado. Então, eu fui escolhido por um grupo de lideranças da cidade, entre inúmeros nomes extremamente qualificados, como sendo o mais adequado para representar esse projeto de transformação e desenvolvimento de Londrina.
Só em Londrina foi um saldo negativo de 4 mil empregos na pandemia. Como recuperá-los e avançar na retomada da economia?
Londrina é a única das principais cidades da nossa região que está com saldo negativo de empregos. O próprio Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do IBGE) já mostrou que Arapongas gerou na pandemia mais de 700 empregos, Rolândia mais de 1.300 empregos. Cambé e Ibiporã também estão com saldo positivo. O nosso problema é sim crítico em Londrina e o grande segredo para retomar o desenvolvimento econômico é a reorganização da cidade, implementando uma mentalidade desenvolvimentista pró empreendedor. Ela não se resume apenas em Parque Industrial, isso é uma das partes. O melhor na verdade é nós conseguirmos fomentar para que os investidores privados atuem na criação e construção de parques industriais. Em primeiro lugar, é organizar a cidade gerando para o empreendedor uma segurança jurídica de que ele poderá investir porque a cidade não vai mudar, por exemplo, seu zoneamento. Essa insegurança é um dos piores problemas que Londrina tem. O segundo problema é a dificuldade que a gente tem para tirar o alvará. Vamos criar um centro de desenvolvimento econômico para centralizar todas as demandas para que o empreendedor não precise percorrer quatro secretarias diferentes para ter um alvará.
O PIB de Londrina é menor do que o das outras principais cidades do Paraná. Temos um polo universitário, mas a média salarial paga aqui é baixa. Como mudar essa realidade?
Serão três requisitos estratégicos: o primeiro deles é a qualificação da mão de obra adequada para um perfil de empresas que a gente quer, nós estamos buscando as empresas de base tecnológica. Não adianta a gente ter a Athos e Tata aqui em Londrina, empresas buscadas lá atrás, se você não consegue por mão de obra para trabalhar nelas. Ou seja, temos que qualificar melhor essa mão de obra. O segundo é ter locais estratégicos para implementação dessas zonas industriais. Queremos indústrias fortes, de grande porte, médio porte em Londrina, principalmente ao longo da PR-445, deixando as pequenas indústrias mais próximas da zona leste, junto com o nosso Parque Tecnológico, esse aí sim com gestão de software e outros tipos de ativos de inteligência.
Como o candidato avalia o projeto do Plano Diretor?
É uma verdadeira colcha de retalhos. Não adianta você falar numa cidade que se desenvolve se você só pensa nela por um mandato e não para os próximos 30 anos. Ele é o básico do básico de um planejamento de médio prazo e nem isso está se conseguindo fazer de forma decente. Vimos situações de mudanças de áreas em locais com indústrias já instaladas. Então, essas incoerências que a gente tem no plano é o que dificultam e afastam o empreendedor. Precisamos fazer um processo de discussão muito mais sério, responsável e próximo das pessoas, que leve a sério aquilo que foi apontado lá e que entenda também exatamente o que você quer para sua cidade. Você tem que ter clareza de onde você quer que a cidade avance.
Como pretende resolver o deficit no fundo de previdência municipal?
Em primeiro lugar, não existe plano de previdência que se sustente quando uma das partes não faz os aportes que ele tinha obrigação de fazer. Londrina consumiu R$ 235 milhões que tinham dentro do fundo da Caapsml em quatro anos. A fusão das massas, que foi a incorporação do fundo previdenciário ao fundo financeiro, acabou por consumir, fazer com que chegasse agora com apenas R$ 16 milhões previstos no orçamento. Não existe reforma da Previdência que se sustenta se você não fizer sua parte, no ano que vem essa conta vai chegar para o município. Nós precisamos sim necessariamente de parte de uma reforma previdenciária recompondo toda a forma de contribuição, alongando esses prazos para garantir o fluxo de pagamento. Precisamos equacionar o plano orçamentário e o plano financeiro para não faltar dinheiro para as aposentadorias.
Qual sua prioridade na saúde?
Primeira coisa é reestruturar o sistema de saúde, o maior problema de Londrina hoje tá na desorganização do sistema básico de saúde e na saúde preventiva. Nós perdemos completamente o controle das pessoas, a gente não sabe hoje quantos são os nossos diabéticos, onde eles estão tomando medicamento e fazendo as dietas necessárias. Sem esse controle, a consequência é uma só: aproximadamente 60% dos internamentos em hospitais terciários são de pacientes que não deveriam estar lá. E isso traz uma consequência: os hospitais estão quebrando. O primeiro passo é: por que um número tão alto de pessoas já aguardando por internamento? E o problema está justamente na saúde básica.
O senhor cita na campanha apoio do governador, mas nas eleições de 2018 apoiou a então governadora Cida Borghetti (PP). Depois foi vice-líder do Ratinho Junior no Legislativo, mas deixou o posto após o Estado incluir Londrina na quarentena rigorosa. Esse apoio é consolidado ou conveniência eleitoral?
É uma aliança antiga e muito forte. Eu trabalhei com ele (governador), o único cargo público que eu tive foi como controlador-geral do Paraná Cidade quando Ratinho Jr. era secretário estadual (gestão Beto Richa). Minha relação política com ele é muito antiga, mas infelizmente no Brasil a gente tem partidos muito desestruturados, que não refletem a realidade do que a minha geração política defende. A minha relação é com o Ratinho, mas minha participação nas eleições de 2018 foi imposta pelo partido. E agora minha saída (da vice-liderança) foi porque eu entendi realmente que naquele momento foi um equívoco a forma com que foi apresentada a solução (para o controle da pandemia) e isso eu conversei com ele e ele entendeu minha posição.
O senhor cita muito desenvolvimento econômico, mas qual seu projeto para a área social? Temos mil moradores de rua, segundo levantamento da Assistência Social.
As duas coisas andam juntas: a geração de oportunidades e a preparação das pessoas para aproveitar essa oportunidade. A gente fala sim em emprego, em preparar as pessoas, cuidar das pessoas que estão necessitadas agora para que possam chegar a ocupar uma vaga. A gente vai trabalhar forte na situação social, até porque você não falou antes: 143 mil pessoas hoje em Londrina estão no auxílio Covid, esse auxílio acaba daqui dois meses e o que que nós faremos com essas pessoas? Então, pensar em geração de oportunidades é pensar em colocar as pessoas também em posições favoráveis. Agora, qual é o grande problema de Londrina? Sistemas nossos de secretarias que atuam para o apoio e a assistência a essas pessoas estão desorganizados. Temos que integrar a assistência social com o sistema de saúde. Será que as políticas estão integradas?
Qual a importância do Promic (Programa de Incentivo à Cultura) para o candidato?
Londrina tem na sua marca e na sua história justamente o apoio e o incentivo às manifestações culturais. No Brasil a cultura representa quase 3% do PIB. Então não é uma questão que pode ser deixada de lado. Londrina tem que aproveitar os seus potenciais. Precisamos melhorar nossa captação de verbas do governo federal, ou seja, nós estamos falando na renúncia fiscal, que é feita pelo empresário. Ele só só topa fazer isso quando você de fato faz com que ele confie naquele projeto. Queremos trazer para dentro da prefeitura o sistema de organização da cultura de Londrina em parceria com as iniciativas e percorrer as empresas para apresentar esses projetos.