Amaue Jacintho, 34, nasceu no pequeno município de Santa Amélia (Norte Pioneiro) e mudou-se para Londrina aos 13 anos. Indígena da etnia caingangue e filha de um servidor público lotado na Funai (Fundação Nacional do Índio), a jovem sempre buscou envolvimento com as demandas dos povos indígenas, o que a levou a ingressar mais tarde no curso de Ciências Sociais na UEL (Universidade Estadual de Londrina) por meio do vestibular destinado a essa população.

Imagem ilustrativa da imagem Eleições 2020 registram aumento de quase 27% nas candidaturas indígenas
| Foto: Gustavo Carneiro

Neste ano, concorrerá ao cargo de vereadora em Londrina pelo Psol (Partido Socialismo e Liberdade) em uma candidatura coletiva, ao lado de Ângela da Silva Leonardo e Vânia Lucia da Silva. Entretanto, é a única candidatura autodeclarada indígena em Londrina no pleito deste ano, o que a coloca em um pequeno grupo, responsável por apenas 0,4% do total de candidatos em todo o País.

De acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 2.176 candidaturas autodeclaradas indígenas disputarão os votos do eleitorado nos dias 15 e 29 de novembro. O número é 26,8% superior ao registrado nas eleições de 2016.

Mesmo com o avanço, a avaliação do chefe da Funai em Londrina, Marcos Cesar da Silva Cavalheiro, é de que a representatividade indígena em cargos eletivos é muito baixa, especialmente se levados em conta os desafios enfrentados pelos indígenas para a obtenção de renda, saúde e educação. “Eu acredito que está num quantitativo inferior ao que deveria ser. Temos defendido que tenha pelo menos um vereador por município com terra indígena e temos conversado que seria interessante de haver uma conscientização dos indígenas”, afirmou à FOLHA.

Questionado se a ampla maioria da população indígena apta para votar está em dia com a Justiça Eleitoral, Cavalheiro avaliou que este quantitativo é muito maior atualmente do que há algumas décadas, mesmo ainda não tendo atingido a totalidade. “Os próprios indígenas se conscientizaram. Como estão cursando a educação superior e têm muito mais conscientização dos seus direitos, eles têm buscado se regularizar com a Justiça Eleitoral também”, avaliou.

Na disputa pelo cargo mais importante do Poder Executivo dos 5.570 municípios, apenas 38 indígenas tiveram suas candidaturas homologadas para as eleições deste ano. Outros 72 disputam a cadeira de vice. Se consideradas, também, as candidaturas no Poder Legislativo dos municípios, o Amazonas é o Estado com maior número, 492 candidatos. É a unidade da federação que possui um terço das terras indígenas do País. Em seguida vêm Mato Grosso do Sul (216), Roraima (148), Bahia (134) e Rio Grande do Sul (130).

NORTE DO PARANÁ

Na Região Metropolitana de Londrina, Tamarana é o município que reúne o maior número de candidaturas - três, todas a vereador - diante da proximidade com a Terra Indígena do Apucaraninha. Entretanto, a FOLHA encontrou uma candidata, também, em São Jerônimo da Serra.

O candidato mais “conhecido” de Tamarana é o cacique Natalino Marcolino, 50. Aliado político do atual prefeito e candidato à reeleição no município, Beto Siena (DEM), Marcolino se orgulha de ter sido eleito cacique duas vezes.

Também coligado ao prefeito, Ivan Bribis Rodrigues, 45, o Ivan Kaingang (PSD), é formado em Direito e está em sua segunda disputa eleitoral. Em 2018, lançou-se ao cargo de deputado estadual pelo PHS (Partido Humanista da Solidariedade) e neste ano pretende trabalhar pela geração de empregos, disse.

“A questão indígena tem que avançar em todos os sentidos. Apucaraninha tem mais de dois mil habitantes e se formos parar para pensar essa população pode dobrar. Hoje, em torno de 70% são crianças, jovens e adolescentes, frequentam colégio, ensino superior e o mercado de trabalho é muito restrito", avaliou.

Já na oposição ao grupo político do atual prefeito, Gabriel Kaje da Silva, 46, o Gabriel Kaingangue (MDB), também afirmou que quer buscar alternativas para o povo indígena e, principalmente, trabalhar pelo fim da "discriminação". "Saímos para trabalhar e vemos discriminação e nossa ideia é fazer algo em parceria com o município. Outra questão é buscar alternativas focadas na educação, transporte qualificado", disse.

CENSO

Conforme as informações mais recentes disponíveis no portal do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), presentes no censo de 2010, a população indígena no País era de quase 820 mil pessoas. Destas, 572 mil moravam na zona rural, e cerca de 325 mil, na zona urbana dos municípios. O estudo também apontou que o Paraná ficou em 12º lugar na lista de estados com as maiores populações indígenas, cerca de 26 mil pessoas, o que fez com que a representatividade indígena no estado fosse de 0,2% do total de habitantes.