Imagem ilustrativa da imagem Eleições 2020| "Queremos fazer a quebra de sistema de especulação imobiliária"
| Foto: Gustavo Carneiro

Militante do movimento estudantil na década de 1990 e ex-presidente da Ules (União Londrinense dos Estudantes Secundaristas), o sociólogo e publicitário Marcio Sanches (PCdoB), 47 anos, disputa pela primeira vez um cargo eletivo. Umas das principais propostas do candidato é a revogação da última revisão da planta de valores e implantar um novo modelo para cobrança do IPTU em Londrina que, segundo ele, irá implantar "de fato a justiça fiscal". Na entrevista a seguir, o candidato do Partido Comunista defende ainda a gratuidade do transporte público para todos os estudantes e a contratação de frentes de trabalho por PSS (Processo Seletivo Simplificado) em substituição a contrato com empresas terceirizadas no município.

Imagem ilustrativa da imagem Eleições 2020| "Queremos fazer a quebra de sistema de especulação imobiliária"
| Foto: Gustavo Carneiro

Por quer o senhor quer ser prefeito de Londrina?

Eu participo da política há 30 anos e estou em Londrina há 40 anos. Eu sinto que nesse momento o País passa por um processo muito difícil, com a democracia sendo atacada constantemente, e neste contexto teve um momento que o partido viu necessidade de lançar um nome para a prefeitura. Como o representante do partido, eu acho que estou preparado, por todo esse tempo que eu já militei no movimento estudantil, no movimento partidário e também duas faculdades que fiz e algumas especializações. Acho que a gente tem condições de fazer uma boa administração na cidade de Londrina.

Como o senhor avalia o foco do debate eleitoral?

Falta debate na cidade. É um processo muito conduzido para favorecer a reeleição. Estamos numa pandemia e o processo está sendo debatido de forma lenta. Tivemos espaços em entrevistas, mas um processo frente a frente, de confronto de ideais, não está havendo. Isso em Londrina é tradicional. Eu que acompanho as eleições desde 1992, uma das questões muito fortes em Londrina era o confronto entre candidatos a prefeito. Não só nas televisões e emissoras de rádios, como em associações, igrejas, clubes, enfim. Até agora teve uma sabatina só e esses debates são importantes, ainda mais nessa condição de pandemia que fica mais difícil o encontro direto com eleitores.

No seu plano de governo o senhor fala em revogar a planta de valores do IPTU. Como o senhor pretende fazer isso abrindo mão de arrecadação?

O que a gente quer com a planta genérica, com a revogação, é fazer de fato a justiça fiscal. Justiça fiscal se faz com que a pessoa pague o valor correspondente à realidade dela. Eu nunca entendi o porquê que essa planta tem que ficar mexendo. A gente faz a proposta da revogação da planta de valores e da criação de um sistema de atualização permanente da planta de valores. Queremos que na hora que a pessoa compre o imóvel, ela vai ter já o valor do IPTU automaticamente e vai atualizando monetariamente. Queremos o justo, o correto, porque essa pessoa não vai ser expulsa de onde ela mora. E queremos fazer a quebra de sistema de especulação imobiliária. Vamos puxar sobre o ITBI (Imposto sobre Transação de Bens e Imóveis) nos últimos 10 anos. A arrecadação será igual, mas irá baixar o IPTU para quem não tem condições de pagar, queremos justiça fiscal de fato.

Qual sua política para atração de empregos?

Londrina está virando cidade dormitório de Cambé e Ibiporã. Empresas de pequeno e médio portes vão para Ibiporã buscar esse barracão porque lá tem uma política de condomínios industriais. Eu não sei por que esse processo de condomínio industrial já tem mais de 4, 5 anos, começou no governo passado e já se gastou uma fortuna e não colocaram para funcionar. Tem que dar fomento, fazer condições objetivas para as pessoas ficarem em Londrina e aí automaticamente você atrai outras empresas maiores para cá. Temos que desburocratizar totalmente o sistema de alvará. Tem que partir do princípio de que o empresário é honesto, ele sabe que tem que tirar a licença ambiental, ele sabe que ele tem que tirar todos os laudos da questão sanitária. Na nossa gestão, o alvará sairá automaticamente, mas o empresário terá um prazo e a prefeitura vai ter prazo para fiscalizar. Vamos inverter a lógica. Em Londrina alvará demora mais de 60 a 90 dias para sair. Isso não é um candidato do partido comunista que está falando, é a Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina).

O como dar alternativa rápida de emprego?

Agora, com a pandemia, é fundamental fazer as frentes de trabalho, mas não aquelas frentes de trabalho que deram problema nas administrações do tio do prefeito atual. Estamos falando de contratos para o sistema de PSS (Processo Seletivo Simplificado). A legislação hoje permite. A intenção é substituir a licitação de empresas que tem uma margem de lucro de 30% a 50% para fazer poda de árvore, por exemplo, contratando gente daqui e esse dinheiro todo vai ser aplicado pelo PSS. Automaticamente, você vai colocar mais dinheiro para circular em Londrina. A gente está falando para o contrato de R$ 20 milhões, mas com orçamento de R$ 2 bilhões que você coloca na economia. Nós não vamos fazer contrato para dar lucro para empresário, vamos inverter toda essa lógica, principalmente na pandemia, para gerar emprego. O administrador que quer privatizar tudo e terceirizar tudo deve ir para iniciativa privada. O importante para a gente é que o dinheiro circule na cidade.

Outro debate que se arrasta na Câmara Municipal é a questão do Plano Diretor. Qual sua proposta para avançar a discussão?

Tem que haver diálogo e nesta administração não tem muito diálogo. Além disso, temos uma Câmara de Vereadores conivente, que não tem posicionamento contrário a nada. Ou seja, não há debate. A gente não pode ter um Plano Diretor que resolva só o problema do empresariado. Não podemos ter um Plano Diretor que empurre cada vez mais as famílias para longe do centro. Não vou falar que essa questão seja resolvida com uma canetada, isto é, teremos que voltar ao debate. Por exemplo, muita gente fica pensando que você é um candidato que possivelmente não terá um vereador do seu partido na Câmara. Mas quando se ganha um mandato você vai administrar a cidade e só tem uma proposta concreta: colocar a população em primeiro lugar. Não vai ter vereador nenhum que vai ser contra isso. Não é função do vereador legislar para um ou outro empresário ou para quem pagou a campanha dele. Isso já deu muito pano para manga em Londrina.

Qual o principal gargalo do planejamento urbano?

Acho que é a questão da mobilidade urbana. Não é alargando avenida que se resolve isso. É preciso investir em transporte público de qualidade e de custo baixo ou até mesmo gratuito. Eu defendo o passe livre para estudante desde 1992 no movimento estudantil, que foi revogado por essa administração. Nós aprovamos a meia-entrada para estudantes e os cinemas estavam vazios e depois voltaram a movimentar toda uma cadeia produtiva. O passe livre é o mesmo caminho. Isto é, quando a gente fala d passe livre para estudante você tira carro de pais que estão indo para levar os estudantes para as escolas, e aí você vai ampliando essa cadeia de gratuidade do transporte coletivo, vai tirando o carro da rua. Temos que estudar a caixa preta do transporte coletivo.

O caixa da Caapsml (Caixa de Assistência de Aposentadorias e Pensões dos Servidores Municipais) está com deficit. Como o candidato pretende solucionar a questão?

É outra caixa preta. Alguém falhou nessa história para chegar no rombo que está. Nós, no mínimo, vamos quebrar essa caixa preta e fazer o processo certinho nos nossos quatro anos de contribuição. Temos que descobrir quem quebrou essa cadeia de contribuição para jogar esse dinheiro em obras ou para fechar o buraco na administração. Nós vamos garantir que a nossa parte da contribuição do município será feita.

Qual a atenção que o candidato irá dar ao Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura)?

Cultura é emprego também, o dinheiro investido em cultura retorna para o município em impostos e empregos. Existe uma cadeia cultural que é muito forte na nossa cidade. E você pega por exemplo os festivais que têm repercussão nacional e internacional. Veja o Festival de Teatro de Curitiba, que tem um alto investimento. Nós estamos em um processo inverso, cada ano diminui o investimento em cultura. Então vamos investir pesado em cultura e há sempre uma reivindicação do setor cultural de investimento de pelo menos 2% do orçamento municipal na cultura. Eu acho que no governo petista há cerca de 16 anos chegou a 1.8%, mas nós queremos investir 2% do orçamento em cultura.

Imagem ilustrativa da imagem Eleições 2020| "Queremos fazer a quebra de sistema de especulação imobiliária"
Imagem ilustrativa da imagem Eleições 2020| "Queremos fazer a quebra de sistema de especulação imobiliária"