O candidato Carlos Scalassara (PT) disputa pela primeira vez um cargo eletivo. Na vida pública ocupou o cargo de procurador-geral do município no primeiro mandato do governo do petista Nedson Micheletti (2001-2004) e esteva à frente de movimentos de direitos humanos e anticorrupção como o Mãos Limpas após escândalo AMA/Comurb na última gestão de Antonio Belinati (1997-2000). O advogado diz que o Partido dos Trabalhadores foi pioneiro no combate à corrupção no país e afirma acreditar que por meio da comunicação a legenda poderá reverter o sentimento antipetista que cresceu na sociedade londrinense. O candidato quer priorizar uma gestão com participação de conselhos e aposta no investimento em assistência social e cultura. Na entrevista à FOLHA, ele também foi confrontado sobre os gargalos no planejamento urbano, fundo da aposentadoria e saúde, entre outros temas.

Imagem ilustrativa da imagem ELEIÇÕES 2020| "Precisamos investir na economia criativa"

O senhor já esteve na vida pública no início dos anos 2000. Por que decidiu sair candidato só agora?

Eu decidi sair candidato até por conta da minha experiência e por compromissos que me são muito caros. Eu militei a vida inteira na igreja de forma ininterrupta e participo atualmente da comissão de justiça e paz da união de juristas católicos, da comissão brasileira de justiça e paz da CNBB. A minha militância está muito associada a minha fé e por conta disso eu vejo também que a nossa Constituição - no seu preâmbulo - está muito próxima ao Evangelho, como solidariedade e bem-estar social e redução das desigualdades. Eu vejo hoje que há um certo ataque a esses valores, então, diante desses ataques, eu não tomar essa decisão, após ser convocado pelo partido, seria uma omissão da minha parte. Eu na minha militância fiz algumas contribuições importantes em Londrina: criei o centro de direitos humanos; fui vice-presidente da OAB; coordenei o movimento Pé Vermelho, Mãos Limpas; participai da reestruturação do Londrina Esporte Clube, do Estatuto bem plural do clube para que ninguém conseguisse ter o domínio do Londrina. Ou seja, foram várias experiências, incluindo a Procuradoria-Geral do município.

O senhor citou o movimento anticorrupção Mãos Limpas, mas o seu partido, o PT, no âmbito nacional foi acusado de participar do esquema da Lava Jato com outros partidos. Essa situação gerou um forte sentimento anti-petista aqui em Londrina, onda que levou à votação expressiva de Bolsonaro em 2018. Como reverter esse quadro?

Há muito lobo em pele de cordeiro. Quem criou a Controladoria-Geral do Município fui eu na Prefeitura de Londrina, por meio desta lei permitiu-se que todas as sindicâncias e processos administrativos do município passassem a ser realizados no órgão especialmente preparado. Com relação ao Partido dos Trabalhadores há um problema seríssimo de comunicação aí. Isso porque quem criou a Controladoria-Geral da União, com status de ministério no Governo Federal, para fiscalizar todos os contratos federais e convênios, foi o governo petista. Neste período foram criados a Lei de Acesso à Informação, os portais da Transparência, a Lei da Ficha Limpa, a Lei Anticorrupção e a ampliação da possibilidade de prisão preventiva. Também foram feitos investimentos na Polícia Federal. Quando se combate a corrupção, ela aparece, e quando aparece termina sendo colada naquele que combateu a corrupção. Mas houve também um problema sério, que é corrupção institucionalizada, que era o financiamento empresarial de campanhas. Isso é um prato cheio para corrupção, que foi graças a Deus debelada pelo Supremo Tribunal Federal.

Mas como melhorar a imagem desgastada do partido e retomar o tamanho que o PT já teve em Londrina?

Precisamos combater a corrupção, aquela que decorre pelo descumprimento da lei com aquela que está dentro da lei e exigir transformações institucionais, uma delas é a tributação sobre o consumo. É preciso de democracia, de pluralidade, de solidariedade. O caminho é a comunicação, consciente de que essa comunicação é muito difícil, porque quando determinadas afirmações são feitas repetidamente as pessoas assimilam aquilo e muitas se recusam a ouvir qualquer explicação. Ela já está absolutamente convencida, mas a única alternativa que eu vejo é a comunicação. Primeiro, pelos mecanismos de combate à corrupção, e também contra fatos não há argumentos. Durante os governos petistas as pessoas tinham acesso à educação, à comida, acesso à moradia.

São 4.100 postos de trabalho perdidos em Londrina só na pandemia, segundo o Caged. Qual sua política para atração de empregos?

Precisamos investir na economia criativa, com investimento em Cultura. Outro fator é propiciar crédito para os pequenos e micros empresários para que possam produzir e renegociar e comercializar. Precisamos de muita solidariedade neste momento, solidariedade de negócios mesmo. Precisamos cuidar da nossa casa, ou seja, valorizar compras e vendas de negócios locais por meio de uma plataforma digital do próprio município. O turismo rural, apesar da pandemia, é alternativa de espaço para crescer e o pequeno agricultor comercializar seus produtos e também criar oportunidades e condições de escoamento.

A discussão do Plano Diretor se arrasta na Câmara. O senhor acompanha o debate? Qual sua política para planejamento urbano?

A primeira medida é a valorização do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano). Ele precisa estar sempre bem estruturado, com servidores qualificados. Isso porque nós precisamos de projetos, tendo os projetos é mais fácil a busca de recursos, que é uma questão de oportunidade. Esse Plano Diretor tem lá no artigo 48, que eu vejo um problema muito sério, que diz respeito aos parcelamentos irregulares de imóveis rurais em Londrina. São terrenos inferiores a um módulo rural e a proposta é de transformação desses imóveis em urbanos, ou seja, pagariam IPTU, mas sem os equipamentos urbanos. Isto é, será levar esses imóveis urbanos sem a contrapartida necessária. Mas também há outros interesses em jogo. É importante salientar que temos um problema seríssimo, que são os vazios urbanos que precisam ser ocupados.

Como o senhor pretende resolver o deficit atuarial, na casa de R$ 2 bilhões na Caapsml, além da falta de caixa já para 2021?

Londrina tem que honrar o compromisso que tem com servidores que se aposentam. Então, a primeira preocupação que tem que haver é com o estudo dessa situação. Já existe uma comissão estudando e vamos aguardar os resultados deste estudo. Ela inclusive precisa ser ampliada e buscar pessoas mais destacadas nessa área para tratar desse assunto a fim de ir buscar mais uma saída, que não é fácil. Mas sem dúvida, continuarei fazendo os repasses que precisam ser feitos. Mas é uma área que eu tenho como importantíssima e será prioritária no nosso governo.

Qual será sua prioridade na saúde?

O principal gargalo na saúde, na minha opinião, está na saúde preventiva. Nas equipes de Saúde da Família. Elas não estão ou não existem em número suficiente para atender cada posto de saúde. Elas precisam estar com seu quadro completo e precisam cumprir a sua função específica e não o trabalho burocrático e de retaguarda. Saúde também é democracia, nós pensamos em fortalecer os conselhos locais, que são representativos e atuantes, mesmo porque a saúde é viva, não é questão só de dinheiro.

Outra questão social grave é dos moradores de rua. Como pretende tirá-los dessa situação? Segundo o último censo são mil pessoas em Londrina.

Existe no município uma boa rede de proteção e ela precisa ser aperfeiçoada. Houve muito investimento por parte do governo federal nos governos petistas e essa população precisa continuar recebendo atenção, de acolhida, alimento, moradia e segurança. São pessoas que estão sem acesso aos direitos sociais em geral, e por que não dizer, aos direitos humanos em geral. São pessoas excluídas de tudo, então, teremos atenção para essas pessoas. Isso passa necessariamente com a prioridade da Assistência Social.

Qual a importância do Promic (Programa de Incentivo à Cultura) para o candidato?

Eu pretendo aumentar o orçamento. Eu vejo a cultura como uma das áreas que merecem a maior atenção possível de qualquer governo. Cultura é comunicação, cultura é vida. Ela retira o jovem do acesso fácil do tráfico e o esporte também tem essa mesma vocação. A cultura precisa acontecer em todos os lugares, e o Promic, por meio dos seus seus projetos, tem essa vocação, inclusive fazer despontar grandes artistas. A cultura precisa estar associada de outras políticas, inclusive da economia solidária.

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Folha de Londrina · ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2020 | Carlos Scalassara (PT)