O deputado federal Boca Aberta (Pros) entra na disputa com o perfil de propostas polêmicas, no mesmo perfil que tem adotado na sua recente trajetória política, desde que se elegeu o vereador mais votado da história de Londrina, em 2016, e foi cassado no ano seguinte. O candidato defende como principal plataforma de governo revogar a planta de valores e devolver o dinheiro do aumento do IPTU. Para compensar a perda na arrecadação, diz que irá criar um imposto sobre uso de postes que seriam pagos pela Copel. A viabilidade dessas propostas, o relacionamento do candidato com a Câmara Municipal e possibilidade de ter sua candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral também foram alvos dos questionamentos da FOLHA que você confere na entrevista a seguir.

Imagem ilustrativa da imagem ELEIÇÕES 2020|  'Numa canetada só, nós vamos desfazer esse aumento abusivo'

Por que o senhor pretende ser prefeito de Londrina?

É simples. Eu quero ser o prefeito de Londrina para desfazer todo mal que foi feito pelo inimigo do povo, que é o aumento abusivo do IPTU. Nós vamos numa canetada desfazer esse aumento abusivo, esse roubo que foi feito no lombo do povo abençoado e trabalhador. Além de desfazer esse aumento abusivo, eu era vereador à época e você se lembra bem disso, eu votei contra o aumento IPTU. Não é assim que se aumenta arrecadação da cidade. Além da gente desfazer, a gente vai devolver com juros e com correção monetária.

Mas para desfazer o aumento não depende de aprovação da Câmara?

Mentira, não caia no conto do vigário, só o prefeito pode baixar. Vou devolver com juros de duas maneiras. Evidente, você vai deixar o número da conta, nós vamos fazer o depósito automaticamente em 15 dias um valor com juros e correção monetária do que foi roubado. Outra opção será abater nos IPTUs subsequentes. Eu quero ser prefeito que vai devolver o IPTU e para acabar com a indústria da multa em Londrina.

Não soa contraditório o senhor dizer que vai construir UPAs equipadas com laboratório e ao mesmo tempo prometer que vai devolver valores e baixar IPTU? Como vai aumentar gastos públicos e reduzir receitas?

Já ouviu falar no IPTposte? Você vai saber agora. Evidente que em frente a tua casa tem um poste. Você sabia que a Copel utiliza o espaço público, ou seja, a ocupação do solo do município e não paga 1 real para o município? Em contrapartida a Copel agrega no teu poste serviço da Net, Vivo, da Oi, entre outras. Esse projeto eu já tinha apresentado na Câmara Municipal, minha foto tá lá, mesmo tendo sido cassado pelos bandidos. O projeto foi congelado. Vamos fazer a medição da circunferência do poste e cobrar o imposto da Copel, que é milionária.

Se for possível cobrar essa taxa da Copel, o senhor já calculou o quanto arrecadaria com a medida? Cobre esse valor que o senhor pretende devolver do IPTU?

Foram R$ 348 milhões que entraram no caixa da prefeitura com aumento abusivo do IPTU feito no lombo do trabalhador. Então, nós vamos medir a circunferência do postes, mas deve render uns R$ 150 milhões a 180 milhões/ano.

Isso não geraria aumento da conta de luz?

Mentira. Só a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) pode regular o aumento de energia.

O senhor diz que não faz alianças porque a política está permeada por corrupção. Até o presidente Bolsonaro fez aliança com o chamado 'centrão' em nome da governabilidade. Se eleito, qual será seu relacionamento com a Câmara?

Eu fiz aliança com Deus e com o povo.

Mas não vai precisar da Câmara para revogar IPTU e o aprovar esse IPTU dos postes?

O IPTU numa canetada eu vou fazer, revogar o IPTU é um ponto e devolver o dinheiro não precisa da Câmara. Só o prefeito pode fazer, não depende de mãe da facção, de pai da facção. Só tem alguns ingredientes que a pessoa tem que ter, eu tenho honestidade, caráter e vergonha na cara, eu vou fazer e o povo me conhece. Já o projeto do IPTposte, evidente que tem que ter um projeto do Executivo para Copel pagar a taxa de ocupação do solo. Mas acredito que vamos fazer de três a quatro vereadores. É trabalhar com convencimento porque é um projeto bom para a cidade.

O senhor colocou seu filho, o deputado Boca Aberta Junior, como vice. É uma estratégia em caso de impugnação da sua candidatura?

É estratégia. Querem nos cassar porque o prefeito (Marcelo Belinati) entrou e muita gente, órgãos de imprensa, não querem divulgar. A imprensa só quer falar de Ministério Público. O MP quis nos cassar em 2018 e hoje sou deputado, não estou falando com você como deputado? Estou deputado, não sou deputado. Se tirarem a gente, tem o deputado Boca Aberta Junior, que será a mesma coisa. O inimigo do povo entrou contra nós. A coligação entrou com medo de disputar no voto a voto. É lá que vamos ver quem será prefeito.

Como o senhor pretende atrair empregos, após saldo negativo de 4.100 vagas em 2020 por conta da crise provocada pela pandemia?

Você sabia que tem uma taxa de administração para poder circular ônibus na cidade de Londrina e que as empresas pagam mais R$ 12 milhões de impostos? Vamos devolver esse valor para as empresas de transporte coletivo para elas voltarem a contratar motoristas e cobradores. Esse dinheirinho que a prefeitura iria pegar servirá para pagar o salário dos novos cobradores e motoristas. Isso vai gerar de cara 700 empregos.

Mas esses empregos só atendem um segmento...

Eu estou doido para chegar logo o dia do voto para a gente assumir a prefeitura. Nós vamos de imediato também dar o perdão do IPTU 2021 e 2022 para o comerciante, do pequeno ou grande. Esse dinheiro ele poderá usar para contratar mais gente, para investir no estoque e até para ampliar a loja ou o comércio e expandir seus negócios, incrementar.

Como melhorar o PIB de Londrina, que é o mais baixo entre as maiores cidades do Paraná?

Vamos vender Londrina no bom sentido. Procurar grandes empresários de fora do Estado. Eu quero chegar no empresário e mostrar nossas riquezas, como o aquífero Guarani, temos energia ano todo. Temos a melhor rede hoteleira, o Centro Eventos. Falta vergonha para pegar um helicóptero e mostrar a cidade. A cidade está pobre, carrancuda. Está triste. Vamos gerar emprego e renda.

O senhor tem acompanhado o debate do Plano Diretor? Como pretende conduzir a questão da mobilidade urbana?

Temos que destravar a cidade. Para com esse troço, vamos abrir a cidade com alvará imediato. Hoje até seis meses para vencer a burocracia. Alvará solidário é o nome do projeto. Vamos dar ainda carência de seis meses a um ano de alvará provisório. Londrina não tem indústria e vive do comércio praticamente.

O senhor adotou uma estratégia de embate com a classe médica ao realizar a denominada blitz da saúde? Quais suas prioridades para essa área?

Eu não tive problema com os médicos, eles tiveram comigo porque estavam dormindo e isso foi objeto da cassação nossa, por trabalhar por Londrina. Nós temos um grande projeto para saúde, que é construir três super UPAs, nas zona norte, leste e sul.

Outra questão social grave em Londrina é a da população de moradores de ruas. Qual sua política para assistência social?

Temos uma Secretaria de Assistência Social arcaica e obsoleta. Aqui foram adotadas medidas extremas como colocar grades na rodoviária. Temos que fazer uma política muito forte. Fazer casas de abrigo, casas de recuperação para dependentes químicos. Penso em fazer parcerias público-privadas, chamar empresários para nos unirmos nessa causa, que é legal por meio de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta). Temos que oferecer cursos profissionalizantes, dar um incentivo.

E no caso de habitação? O que o senhor pretende fazer para construir moradias, já que a Cohab está sem caixa?

A Cohab é uma piada, né? Aquilo ali é só um cabide de empregos. Salve melhor juízo, são 24 mil famílias na fila. Não vou mentir aqui para a população. Não tem como fazer casa. Vamos fazer lote popular. Tem a ocupação do Aparecidinha, lá no São Jorge (zona norte). Tem um terreno grande por lá. Vamos emprestar dinheiro e comprar um terreno de 30 alqueires que o dono já quer vender e vamos subdividi-lo com galerias pluviais e dar o lote escriturado. Só ali serão cinco mil lotes. Lá as famílias irão construir o que quiser. São vários assentamentos na cidade e vamos regularizar os lotes. Vamos dar toda a infraestrutura.

O senhor pretende dar continuidade ao Promic (Programa de Incentivo à Cultura)?

Vamos incrementar, inclusive. Vamos querer aumentar mais que R$ 5 milhões. Temos que investir em projetos culturais que tiram adolescentes na rua, na ponta da vila. Vamos abranger. A FEL (Fundação de Esportes de Londrina) é uma desgraça, só quem é amigo do rei tem projeto contemplado.

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Folha de Londrina · ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2020 | Boca Aberta (PROS)