A disputa pela cadeira mais importante do Palácio 29 de Março, sede da Prefeitura de Curitiba, apresenta à população da capital paranaense o cenário mais diversificado da história eleitoral da cidade. São 17 candidatos das mais diversificadas linhas políticas que se propõem a administrar o município pelos próximos quatro anos. O principal nome da disputa é o atual gestor, o prefeito Rafael Greca (DEM), que busca o seu terceiro mandato no cargo, sua primeira reeleição. Seu principal opositor, o deputado federal e ex-prefeito Gustavo Fruet (PDT), não disponibilizou seu nome e, pela legenda, participará do pleito o deputado estadual Goura. Sem a possibilidade de os partidos se coligarem para a briga pelas vagas no Legislativo, acabou por empurrar a cidade, como tantas outras no País, a uma oferta tão grande de candidatos a prefeito.

Imagem ilustrativa da imagem Curitiba tem disputa inédita com 17 candidatos a prefeito
| Foto: Rafael Serathiuk

Não é possível prever o futuro em política. Por isso mesmo, a consequência do enorme número de candidatos ainda não pode ser avaliada. Um dos panoramas possíveis é a dissipação dos votos, empurrando a um obrigatório segundo turno, ou até a possibilidade de um único candidato se fortalecer e resolver na primeira votação quem será o próximo prefeito. “É possível que ocorra uma pulverização dos votos da esquerda. Isso porque os eleitores devem fazer um voto sincero no primeiro turno e só depois fazer o voto útil. Mas pode ocorrer que o Greca já consiga mais de 50% dos votos válidos. Ele é um candidato forte”, analisa o cientista político Bruno Bolognesi, professor e coordenador do laboratório de Partidos e Sistemas Partidários da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Em pesquisa eleitoral do Instituto Paraná Pesquisas, divulgada em 4 de setembro, Greca aparece com 40% das intenções de voto num cenário que contava com os nomes dos deputados federais Ney Leprevost (PSD) e Fruet no páreo – acontece que nenhum dos dois se lançou como candidato. “Não acredito que esta pesquisa tenha sido muito realista. Acho que o prefeito possa ter até uma participação maior que esta. Aposto no nome do deputado Fernando Frascischini (PSL) como uma candidatura forte, que surfe nesta onda Bolsonarista. Mas o Greca tem um eleitorado com um extrato social mais amplo, compete fortemente na Região Sul de Curitiba, que é mais populosa, e tem boa vista na classe média alta”, detalha Bolognesi, em seu prognóstico.

Outra característica apontada como fundamental para o perfil de Greca como candidato é a de um político paternalista e personalista. Não importa o partido que represente, mas sim a sua imagem, que é muito relacionada às questões locais. “Na maior parte dos lugares do mundo, a disputa local se faz assim. Tirando grandes capitais como Paris, Londres e Nova York, a agenda política torna o prefeito uma espécie de zelador da cidade. Que deve ver as ruas, os postos de saúde numa agenda menos universal”, explica Bolognesi, que ainda aponta mais uma característica do prefeito. “Ele tem experiência em Curitiba e, goste ou não da orientação, passa a imagem de apaixonado pela cidade, isso é um atrativo para o eleitor”, diz.

Outra análise que se faz sobre o atual cenário político-eleitoral em Curitiba é que a força de Rafael Greca, já com a máquina pública na mão, e levada em consideração a sua popularidade, faça os partidos aproveitaram a oportunidade para lançar nomes que possam se fortalecer e se consolidar nos próximos anos. “Esta é uma eleição pouco competitiva, já que a leitura é que o atual prefeito tem grandes chances de se reeleger, então lançar nomes como o do Goura e de Carol Arns, pelo Podemos, filha do senador Flávio Arns, apontam bem para esse sentido. Ajudam a criar uma reputação mais forte”, pontua Bolognesi.

ESQUERDA

Entre os partidos de orientação à esquerda, além de Goura (PDT), estão no páreo Paulo Opuszka (PT), Diogo Furtado (PCO), Camila Lanes (PC do B), Samara Garratini (PSTU), Letícia Lanz (PSOL), Zé Boni (PTC) e Renato Mocellin (PV). Essa divisão é muito mais comum porque os partidos são menos pragmáticos, eles levam a sério a ideologia de cada um individualmente, explica o cientista político Eduardo Miranda, professor da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). “Abrir mão de candidaturas próprias seria também abrir mão de cadeiras na Câmara Municipal, visto que esses candidatos a prefeito servem como uma base sólida para as plataformas de visibilidade dos partidos”, compreende.

Outro nome que chama a atenção dos analistas é o do ex-deputado federal João Arruda (MDB). Sobrinho do ex-governador e senador Roberto Requião (DEM) e genro de Joel Malucelli – suplente de Alvaro Dias (PODE) no Senado –, ele concorreu ao posto no Palácio Iguaçu, perdendo para Ratinho Junior (PSD), em 2018, mas precisa buscar uma identidade, segundo aponta Miranda. Assim como o MDB, que claudica entre posturas de esquerda e direita de acordo com a situação da região em que atua, Arruda se distanciou do tio quando votou favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. “Ficou difícil ele manter um discurso mais à esquerda como o Requião e se aproximou mais da ala ligada ao Alvaro Dias. Localmente, isso o deixa meio perdido, mas totalmente representado num partido com tantas ambiguidades como o MDB. Ele se tornou uma personificação do partido”, avalia.

CÂMARA

Completam a lista de candidatos na disputa: João Guilherme de Moraes (Novo), Eloy Casagrande (Rede), Christiane Yared (PL), Marisa Lobo (Avante) e Fabiano dos Santos (PMB). Todas as legendas estão de olho nas vagas na Câmara dos Vereadores e os nomes para a prefeitura ajudam a reforçar o partido. Tanto que já se faz o cálculo que Curitiba terá 1.190 candidatos para concorrer a uma das 38 vagas que a Casa tem. São 29 partidos. O que tem o maior número de candidatos é o PSL, com 29. Pela nova regra eleitoral, o que passa a contar é a votação de cada legenda. A mudança na regra do estabelecimento do quociente eleitoral gerou as chamadas sobras, que poderão ser disputadas por todos. “Isso vai aumentar muito a participação de um número maior de partidos e cada partido deseja essa fatia. Eles tendem a aprender rápido e se adaptar às mudanças”, concluiu Bolognesi.