Santana do Itararé, no Norte Pioneiro, tem cerca de 5,2 mil habitantes; coligação traz dois partidos que nacionalmente assumem posições antagônicas
Santana do Itararé, no Norte Pioneiro, tem cerca de 5,2 mil habitantes; coligação traz dois partidos que nacionalmente assumem posições antagônicas | Foto: Lis Sayuri - 19-05-2014

O Brasil possui 33 partidos políticos formalizados e já não é de hoje que durante o período de eleições há coligações inusitadas. Se no cenário nacional alguns desses partidos assumem posições antagônicas, com troca de ofensas pesadas, em municípios pequenos muitas vezes esse comportamento não se repete.

Um dos exemplos é a coligação entre o PT (Partido dos Trabalhadores) e o PSL (Partido Social Liberal). Em pelo menos um município do Paraná a eleição da dobradinha PT-PSL é quase certa. Em Santana do Itararé, Norte Pioneiro, a chapa composta pelo comerciante Zé Izac (PT) e pelo produtor rural Joaquim do Venerando (PSL) é a única registrada no município. Ou seja, para ser eleita, basta um único voto.

Segundo Zé Izac, a escolha não foi tão fácil de ser registrada por causa das divergências e das diretrizes nacionais. “Teve que ser votado na Executiva Estadual e só depois disso ficou acertada a coligação”, destacou o candidato, que já foi filiado ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Ele afirma que em 2000 ganhou nas convenções, mas o partido não o deixou sair candidato. “Nas eleições seguintes fui eleito e reeleito prefeito pelo PT.”

“Nós sabemos que o PT é um partido social, que briga para que todos tenham os mesmos direitos. Eu acredito que é preciso apoiar os pequenos primeiro para ter uma sociedade forte. Fiz um plano de governo para atender a coletividade. O próprio PSL entendeu isso e está dando auxílio emergencial, senão o povo passa fome. Tem que ser assim”, declarou Izac.

Para Joaquim do Venerando essa briga nacional é um atraso. “Na cidade pequena não tem disso, não. As pessoas votam nas pessoas e o partido fica em segundo plano”, afirmou. Ele relatou que é o atual presidente do diretório municipal do PSL e que a união é para fazer o bem. “Santana do Itararé é um exemplo de união. Nós já fomos companheiros políticos e já fomos adversários e voltamos a ser aliados. Política tem que ter respeito e transparência. Se for uma pessoa honesta digna, não tem problema algum em fazer essa coligação”, garantiu.

“Em cidade pequena, o que se arrecada com impostos vai só para cobrir a despesa. Se nós conseguirmos convênios de deputados ligados ao PT e ao PSL é possível conseguir mais dinheiro para a cidade. O povo está contente pelo o que aconteceu. Diminuiu a discussão forte que existia na cidade”, apontou.

Santana do Itararé tem 5,2 mil habitantes, sendo 3,1 mil na área urbana e o restante na zona rural. Segundo informações da prefeitura, são 4,3 mil eleitores. A base da economia é a atividade agropecuária.

NO PARANÁ

Mas não é somente em Santana do Itararé que acontece essa coligação incomum entre PT e PSL. Ela é registrada em 140 municípios do País, sendo em 20 cidades do Paraná. O casamento inusitado está presente, além de Santana do Itararé, em Campo Bonito, Verê, Nova Prata do Iguaçu, Terra Boa, Bela Vista da Caroba, Ampére, Santo Antônio do Sudoeste, Guaraniaçu, Laranjeiras do Sul, Terra Rica, Moreira Sales, Clevelândia, Astorga, Abatiá, Japurá, Nova Cantu, Xambrê, Terra Boa e Pinhal de São Bento.

Na primeira reunião que o PT realizou em 2020, a Executiva Nacional da legenda aprovou uma resolução listando PSOL, PDT, PSB, Rede, PCO e UP como parceiros preferenciais. O texto também consolidou que "o PT nacional decide que não ocorram alianças com os partidos que sustentam o projeto ultraneoliberal (DEM, PSDB) e veta qualquer aliança com aqueles que representam o extremismo de direita em nosso país".

O documento abre exceções impondo condições. "Nas situações em que o PT não encabeça a chapa e o candidato seja de um partido que não integre o espectro citado acima, somente serão permitidas alianças táticas e pontuais se autorizadas pelo diretório estadual, desde que candidato tenha compromisso expresso com a oposição a (Jair) Bolsonaro e suas políticas", estabelece o texto. Outra condição para o PT subir em palanque fora de sua parceria histórica é que o candidato "não tenha práticas de hostilidade ao PT e aos presidentes Lula e Dilma".

Da mesma forma a Comissão Executiva Estadual do PSL de São Paulo determinou que a coligação com o PT, PSOL e PCdoB é vedada. No site oficial do partido não há referências sobre o assunto. Na página de Facebook do PSL paranaense também não há menções sobre o tema.