Novos rumos para a educação sexual
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quinta-feira, 18 de abril de 2013
Paula Costa Bonini <br> Reportagem Local
Ao assumir a homossexualidade, a cantora Daniela Mercury reacendeu no Brasil as discussões em torno da união entre pessoas do mesmo sexo. O assunto é polêmico e, claro, divide opiniões. Enquanto uma parcela da população faz duras críticas e se posiciona contra, outra encara a situação com naturalidade.
O caso ilustra a realidade de milhares de pessoas que se assumem homossexuais e correm atrás de sua felicidade. O que se vê, porém, é que apesar de toda a modernidade do século 21, os gays ainda sofrem com o preconceito.
Muitas famílias não estão preparadas para lidar com a diversidade e ficam em uma verdadeira ''saia justa'' para conversar e orientar seus filhos sobre determinados temas.
''Existem países que aceitam a homossexualidade de forma mais natural, o que não acontece no Brasil. A nossa cultura é hetero e existe uma dificuldade maior de aceitação'', afirma a professora sênior da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Mary Neide Damico Figueiró, que é mestre em psicologia e doutora em educação.
Ela reconhece, porém, que a sociedade passou por avanços significativos. ''Aos poucos, as pessoas estão revendo seus comportamentos. Hoje existem diferentes modelos de famílias que já são aceitos'', cita ela, que recentemente lançou o livro ''Educação Sexual no dia a dia'', pela editora Eduel.
Os pais, para Nary Neide, devem estar preparados para conversar com os filhos sobre a diversidade sexual. ''É preciso sempre dizer a verdade e aproveitar as oportunidades para dialogar, tentando não passar uma visão preconceituosa. Se a criança não encontrar respostas em casa, vai buscar em outros meios, o que pode ser prejudicial'', destaca.
Em seu livro, ela pontua que ''a maior parte dos pais e professores, que hoje são adultos, cresceram em um ambiente no qual o sexo estava ligado ao feio e ao pecaminoso''. Defende, no entanto, que ''o momento, agora, é outro e que há meios para se reeducar sexualmente, sendo preciso ler, estudar, discutir com outras pessoas, assistir a bons filmes e refletir para rever os valores''.
Para Mary Neide, existem muitos mitos e ideias distorcidas sobre a homossexualidade. ''A homofobia advém, em sua maior parte, do desconhecimento e da ignorância sobre o assunto'', diz.
Não é opção
Pais e educadores devem entender que homossexulidade não é uma opção sexual, como muitos defendem. ''Ninguém escolheria o caminho do sofrimento, pois ser homossexual, na maioria das sociedades, é ser vítima de opressão, desprezo, desamor e incompreensão, até mesmo dentro da própria família'', explica, ressaltando que a pessoa normalmente já nasce com esse potencial, sendo uma questão de sentimento e desejo.
Os adultos devem estar preparados para responder as dúvidas das crianças de forma clara e segura, seja sobre sexo, diversidade sexual e outros tópicos considerados tabus por muitas famílias. ''Se elas perguntarem, por exemplo, porque duas pessoas do mesmo sexo estão se relacionando, é importante explicar com naturalidade que existem homens que se sentem atraídos por homens e mulheres por mulheres'', orienta.
Segundo ela, há pessoas que acreditam que a convivência com homossexuais pode estimular a criança a se tornar gay. Pensam ainda que conversar sobre o assunto com naturalidade é uma forma de incentivo. ''Essa visão é completamente equivocada. Quantos filhos de casais heteros que são gays?'', questiona.
Ter um filho homossexual, na maioria das vezes, deixa a família em uma situação delicada e a aceitação pode demorar ou nem acontecer. ''Os pais precisam lidar com a situação. É importante conversar e podem até expor a dificuldade em aceitar, mas é necessário haver esforço para compreender, amar e acolher o filho como ele é'', afirma.
Para a psicóloga, o preconceito sempre vai estar presente na sociedade. ''Mas podemos avançar muito e derrubar tabus, como já vem acontecendo'', finaliza.
Serviço
O livro ''Educação Sexual no dia a dia'' pode ser adquirido na Livraria da UEL e na Livraria Curitiba do Shopping Catuaí. Pedidos podem ser feitos pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (43) 3371-4691. Não é cobrado frete. O valor da obra é R$ 25.
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