Londrinenses vão a Milão com pesquisa sobre a dengue
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 31 de março de 2011
Vivian Fukushima<br> Reportagem Local
Mesmo com a chegada do outono e temperaturas mais amenas, a dengue em Londrina continua fazendo suas vítimas. E não é preciso se impressionar apenas com os números para perceber que o quadro é, sim, preocupante. Basta olhar ao redor para entender porque o assunto é um dos mais comentados do momento. E foi o que aconteceu com o estudante Marcelo Mrtvi, de 16 anos, que descobriu um foco de dengue perto de onde mora. Até aí, nada demais. Afinal, de acordo com a Secretaria Municipal de Londrina, os casos de dengue no município estão aumentando, ou seja, mais pessoas estão vivendo perto de locais infestados pela doença.
E junte a isso o fato de Marcelo estar lendo, no momento da descoberta do foco, um livro a respeito da Teoria dos Jogos, e mais, ser um apaixonado por pesquisas. A partir daí, com a ajuda da irmã, Micheli Mrtvi, de 15 anos, e de professores, decidiu participar da proposta de Iniciação Científica do Colégio Interativa com o trabalho "Um Estudo da Dengue em Londrina à Luz da Teoria dos Jogos", que busca averiguar, a partir dessa teoria, quais seriam as medidas mais efetivas para estimular a cooperação da população londrinense nas ações de combate à dengue. "Se, aparentemente, a dengue é tão fácil de ser combatida, então por que os números só aumentam? Essa era a principal questão que queríamos entender", explica Marcelo.
A pesquisa dos alunos foi destaque na última Mostra de Ciência e Tecnologia (Mostratec), realizada em Novo Hamburgo, em outubro de 2010. Premiados pelo trabalho, os londrinenses foram escolhidos como únicos representantes da América Latina para participar da 23° I Giovani e Le Scienze - Fast. O evento, que acontecerá de 10 a 12 de abril, é realizado anualmente em Milão, Itália, pela Federação Italiana de Ciência e Tecnologia e com o apoio da Associação Italiana de Tecnologia da Informação e Cálculo Automático (Aica), além de vários órgãos e empresas relacionadas às áreas de ciência e tecnologia. A feira premia os melhores trabalhos, sendo que os primeiros lugares recebem 7000 euros, além de outros prêmios como a seleção para participação em eventos científicos na Europa.
Além disso, receberam dois prêmios na 9ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), da Universidade de São Paulo, realizada de 22 a 26 de março, na Escola Politécnica da USP. "Hoje o ensino é muito fechado, voltado só para vestibular. Vejo isso como um processo educacional muito mais eficiente, já que os alunos precisam ter objetivo e responsabilidade para concluir trabalhos como este", orgulha-se Fábio Bruschi, professor de Biologia e orientador do projeto.
"Tínhamos parentes com dengue, então desde o início já me interessei pelo tema. Aí a pesquisa tornou-se mais interessante e menos trabalhosa", conta Michele, que sonha em cursar Direito. Já o irmão, Marcelo, pretende ser engenheiro químico, na área de pesquisa. "Claro que tinha vontade de inscrever um projeto em uma feira importante, mas não esperava ganhar tantos prêmios".
O professor explica que toda pesquisa tem um custo, porém, nesse projeto, os gastos foram basicamente com impressão e gasolina. "Não é uma pesquisa cara. Isso mostra que até mesmo alunos da rede pública, se tiverem vontade, podem fazer. Foram dois anos de pesquisa e quase cem páginas."
Com o objetivo de identificar meios efetivos para incentivar a população a praticar ações preventivas de combate à dengue em Londrina, os alunos aplicaram um questionário para mais de mil pessoas de todas as regiões da cidade.
No questionário, apenas duas perguntas: a primeira buscava averiguar a opinião da população sobre o porquê de os casos de dengue ainda serem preocupantes, mesmo com tantas campanhas de conscientização. A segunda pergunta tinha por objetivo identificar as ações que seriam mais eficazes para a população colaborar em ações de combate e prevenção da doença. O problema social foi aplicado na Teoria dos Jogos e transformado em modelo matemático. Inicialmente desenvolvida como ferramenta para compreender o comportamento econômico, e depois usada para definir estratégias nucleares, a teoria dos jogos é hoje usada em diversos campos acadêmicos.
A conclusão obtida foi que, na opinião dos entrevistados, a população entende que é a principal responsável pela atual situação da doença em Londrina, e que as medidas punitivas e educativas seriam mais eficazes para incentivar o envolvimento de todos.
Agora, segundo o professor e os estudantes, é preciso cruzar e fechar os dados para entender as variações existentes nas diferentes regiões. "Muitas vezes, uma ação em determinada região pode não dar certo como deu em outro local. É isso que falta para concluirmos o trabalho e quem sabe encaminhá-lo à Prefeitura como sugestão", explica Marcelo.